Perfil Carlos Ebert, ABC

Fotoebert01 764X509 1
Foto: Rosano Mauro Jr.

Por Danielle de Noronha

Carlos Alberto de Azambuja Ebert é, em primeiro lugar, diretor de fotografia, mas também é fotógrafo, diretor, professor, grande conhecedor da cinematografia e um ótimo contador de histórias.

Estudou na Escola Superior de Cinema São Luiz, ao lado de nomes como Ana Carolina, Carlos Reichenbach, Paulo Rufino, João Callegaro e Cláudio Polópoli, e atuou pela primeira vez como operador de câmera e diretor de fotografia em longa-metragem no clássico “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, em 1968, em parceria com Peter Overbeck. Foi o primeiro presidente da ABC e um dos nomes responsáveis pela sua formação. Hoje, se torna sócio remido, em consideração a todo seu trabalho em prol do desenvolvimento do audiovisual brasileiro.

Diretoria Da Abc Com Dib
Diretoria da ABC 2001: Hugo Kovensky, Affonso Beato, Carlos Ebert, Walter Carvalho, Pedro Farkas, Carlos Pacheco, Dib Lutfi, Renato Padovani e Lauro Escorel.

Carlos Ebert, ABC, como é mais conhecido, nasceu no dia 26 de novembro de 1946 no Rio de Janeiro. Teve seu primeiro contato com uma câmera por volta dos 17 anos, quando um amigo lhe emprestou uma Yashica, com negativo 4×4, e ele começou a fotografar, mesmo que ainda sem muita técnica.

Já possuía muito interesse pela fotografia e pelo cinema, mas como ainda não havia escolas de cinema pelo país começou a cursar arquitetura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também foi cineclubista. Na universidade teve contato com o fotógrafo Claudio Kubrusly, seu amigo até hoje, que deu as primeiras dicas sobre a fotografia still. Nesse período, foi também estagiário no MAM.

Certo dia, leu no jornal O Globo que iria abrir uma escola de cinema em São Paulo, notícia que em pouco tempo o faria desistir da arquitetura, mudar de cidade e entrar para sempre no universo do cinema.

Fotoebert04
Durante filmagem do filme “Fé”, de Ricardo Dias

Começou sua carreira profissional como fotógrafo still em 1966, mesmo ano em que começou a estudar cinema, e fez diversos trabalhos como repórter fotográfico. A fotografia still, inclusive, é uma prática que sempre está presente em sua vida. Nunca sai de casa sem sua pequena câmera digital (ou com o celular) que lhe possibilita registrar tudo, como uma caderneta de anotações.

Fotoebert06
Em “A Margem da Imagem”

Ebert conta que o curso na Escola São Luiz tinha muitas coisas interessantes, mas a prática não era a prioridade nos dois primeiros anos e a grade curricular possuía apenas disciplinas teóricas. Em suas palavras: “antes de se pensar em filmar um único pé de 16mm, era obrigatório formar uma boa base em Humanidades: Filosofia, Ética, Literatura, História do Cinema, etc. Seriam dois anos de teoria para então começar a pensar em filmar alguma coisa”. Acontece que ele e seus companheiros, “loucos por cinema”, queriam mesmo era filmar, o que os levou a fazer um grupo de produção “para praticar livremente o que só nos deixavam reflexionar e assistir”. Seu primeiro filme é um curta mudo em 16mm, “Passos”, em que produz, dirige, fotografa e monta.

Fotoebert02
Com Rogério Sganzerla

Apaixonado pela fotografia, em 1968, com o “Bandido da Luz Vermelha”, tornou-se operador de câmera e diretor de fotografia. Em um depoimento para a Revista Contracampo, Ebert relembra como conheceu Sganzerla e como foram as filmagens de um dos maiores clássicos do cinema marginal: “Começamos a filmar meio na marra. Arranjamos uma Cineflex no Honório Marin com duas lentes Schneider e uma Zeiss, compramos três latas de 300 metros de Gevapan 30, alugamos uma kombi com motorista e saímos: Rogerio, Paulo Vilaça, eu, Wladimir Warnowsky (assistente de câmera/maquinista) e o motorista da Kombi pela cidade de São Paulo, filmando cenas do bandido solitário, perambulando e interagindo com personagens anônimos da cidade. São cenas semi-documentais, e podem ser facilmente identificadas no filme porque o Paulo nelas ostenta um soberbo bigode de vilão mexicano (herança do Vado, o personagem que ele fazia na peça “Navalha na Carne”)”.

Em 1970 dirige seu único longa-metragem, “República da Traição”, que foi censurado por muitos anos. Assina a direção de fotografia de diversos curtas e longas, como “Carolina”, trabalho pelo qual foi premiado em Gramado, “O rei da vela” (1983), de José Celso Martinez Corrêa e Noilton Nunes, “Fé” (1998) e “Um Homem de Moral” (2009), de Ricardo Dias, “Nem Tudo é Verdade” (1986), quando repete a parceria com Sganzerla, “A Margem da Imagem” (2001), de Evaldo Mocarzel e “Vlado – 30 Anos Depois” (2005), de João Batista de Andrade. Fez também fotografia para televisão, como a de “O povo brasileiro” (2000), ganhador do Grande Prêmio Cinema Brasil de TV em 2001, de filmes institucionais, entre outros formatos.

Em 1990 começa a interessar-se pelo cinema eletrônico e hoje é um dos grandes conhecedores de cinema digital no Brasil, ministrando cursos por todo o país. Veja o currículo completo e seus principais créditos aqui.

Fotoebert05
Durante oficina sobre cinematografia noturna

Ebert recebeu o Prêmio ABC em 2011, 2009 e 2008, na categoria de direção de fotografia para curta-metragem, por “Haruo Ohara”, “Booker Pittman” e “Satori Uso”, respectivamente, e também em 2005, na categoria para programa de TV,  por “Metamorphoses”.

Fotoebert03
Ganhadores do Prêmio ABC 2008

Principais créditos em filmes de longa-metragem como diretor de fotografia

1968 O Bandido da Luz Vermelha Dir: Rogério Sganzerla, Cofoto Peter Overbeck – prêmio em Brasília
1969 Viagem ao Fim do Mundo Dir: Fernando Campos prêmio em Locarno
1970 Elas Dir: José Roberto Noronha
1970 Sou Louca por Você Dir: Rui Gomes
1971 Prata Palomares Dir: André Faria
1971 Nene Bandalho Dir: Emilio Fontana
1983 O Rei da Vela Dir: J. Celso Martinez Corrêa prêmio em Gramado
1984 Nem Tudo é Verdade Dir: Rogério Sganzerla
1985 Deus é um Fogo Dir: Geraldo Sarno
1997 Fé Dir: Ricardo Dias prêmio em Biarritz  trecho do filme mostra cinema e religião
2001 Carrego Comigo Dir: Chico Teixeira critica na FSP  trailer Festival de Amsterdã
2001 Quem Faz, Quem Vê TV Dir: Bebeto Abrantes
2002 Rua Seis, Sem Número Dir: João Batista de Andrade
2003 Umas Velhices filme de episódios de Denise Gonçalves,Walter Lima Jr, Ugo Giorgetti, João Jardim e Jorge Furtado
2003 A Ilha do Terrível Rapaterra Dir: Ariane Porto
2003 À Margem da Imagem Dir: Evaldo Mocarzel prêmios em festivais crítica no Variety
2003 Dia de Graça  Dir: Thiago Mendonça e Maíra Büller
2004 Do Luto à Luta Dir: Evaldo Mocarzel prêmio em Recife  crítica na FSP
2005 Vlado – 30 Anos Depois Dir: João Batista de Andrade
2006 Topografia de Um Desnudo Dir: Teresa Aguiar blog
2007 Farto de Solidão Dir: Mariana Reade e Luís Carlos Prestes Fº Filmstarts
2007 Um Homem Qualquer Dir: Caio Vecchio
2008 Um Homem de Moral  Di:r Ricardo Dias, Prêmio do Júri e melhor roteiro, Recife
2008 À Margem da Linha Dir: Gisella Callas
2009 Solo Dir: Ugo Giorgetti
2010 Circular Dir: Aly Muritiba, Fabio Allon, Adriano Esturrilho, Bruno de Oliveira e Diego Florentino
2012/2013 Uma Noite na Biblioteca Dir: Diego Doimo
2014 O Crime da Cabra Dir: Ariane Porto
2015 Preto Pálido Dir: Diego Florentino
2016 Bonequinha da Mamãe Dir: Beto Ribeiro
2016 Entre Mortos e Vivos Dir: Beto Ribeiro

Além dos sites destacados durante o texto, esta biografia utilizou como fontes o livro “Dicionário de Fotógrafos do Cinema Brasileiro”, de Antonio Leão da Silva Neto, e a entrevista realizada para os alunos da oficina Fotografia e Cinema, realizada em Marilia.

Total
0
Shares
Prev
Heloisa Passos, ABC: “Mulher do Pai”
Amulherdopai4

Heloisa Passos, ABC: “Mulher do Pai”

Next
O pífano é pop, é brasileiro, é cinema, é som
Foto06 Cariri 705X509 1

O pífano é pop, é brasileiro, é cinema, é som

Recomendado