
Sertânia, Miguel Vassy
Após oito edições no CCBB Brasília e duas on-line, o Festival Internacional Cinema e Transcendência chega ao CCBB Rio de Janeiro no ano em que comemora dez anos. Único festival de cinema no Brasil a investigar a subjetividade dos caminhos da consciência e do autodesenvolvimento através da arte cinematográfica, ele apresenta, em sua estreia carioca, documentários que se destacaram nas últimas edições e a Mostra Brasil Profundo, uma seleção de produções nacionais que trazem um Brasil desconhecido por muitos de nós – o sertão mitológico, poético, indígena, africano, encoberto por lendas, festejos e cordéis. A idealização e curadoria do Festival são do músico e cineasta André Luiz Oliveira, com cocuradoria da produtora e diretora Carina Bini. O Banco do Brasil patrocina o projeto.
O Festival também terá uma programação especial no Dia Internacional da Mulher, 8 de março, com as exibições de dois longas-metragens que abordam os legados da filósofa e ativista popular indiana Vimala Thakar (In the Fire of Dancing Stilness, às 15h); e de Gloria Arieira, professora brasileira de Vedanta, conhecimento ancestral da Índia (Kamala, Caminhos da Gloria, às 17h). Logo depois, às 18h30, será exibido o episódio Marieta, Mãe do Mundo, da série de TV Resto de Mundo, seguido de bate-papo sobre “A Natureza Feminina”, com Gloria Arieira, Diego Zanotti, seu aluno e diretor da série, e Carina Bini.
Além dos filmes, diversas atividades culturais – aulas de yoga, de frevo, contação de estórias, apresentações musicais – acontecerão no foyer do cinema, com entrada franca, nos fins de semanas. A abertura do Festival, no dia 1º de março (quarta) contará com o show Outros Sertões, com Maísa Arantes (rabeca) e Marcelo Nader (violão).
O IX Festival Internacional Cinema e Transcendência foi realizado, em dezembro de 2022, no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, e, depois do Rio de Janeiro, será apresentado no CCBB São Paulo, de 29 de março a 16 de abril de 2023. Os ingressos para as sessões de cinema, no CCBB Rio de Janeiro, custam R$ 10 e R$ 5 (meia) e podem ser adquiridos na bilheteria física ou no site do CCBB [bb.com.br/cultura], a partir das 9h do dia da sessão.
Seleção retrospectiva do Festival
Criado em 2013, o Festival Internacional Cinema e Transcendência teve oito edições realizadas no CCBB Brasília, sempre apresentando uma programação com documentários e filmes de ficção de diversos países, além de variadas atividades culturais. O foco do festival são filmes que exploram a experiência da transformação pessoal a partir das suas narrativas, obras que investigam a subjetividade e oferecem novas camadas de reflexão sobre temas relevantes da contemporaneidade. Os títulos selecionados para o festival transcendem padrões e promovem uma relação transformadora entre o cinema e a realidade de cada pessoa, abordando temas como a espiritualidade, práticas de autoconhecimento, meditação, biografias de estudiosos, sábios ou gurus, ancestralidade, expansores alucinógenos, terapias, xamanismo e outras questões que perpassam o caminho de busca pela consciência. “O que nos nutre é a possibilidade de promover a relação do cinema como arte mediadora entre o sentido estético e a experiência introspectiva de autoconhecimento”, diz o curador André Luiz Oliveira.
Em 2020 e 2021, devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19, o Festival Internacional Cinema e Transcendência teve edições totalmente on-line e gratuitas, que atingiram 60 mil pessoas no Brasil e no exterior com exibição de filmes, lives com os diretores e apresentações musicais. O Festival realizou inclusive uma livecom Alejandro Jodorowsky, considerado o “patrono” do festival por apresentar uma filmografia que dialoga com os processos de transformação pessoal do diretor. Todo este material está disponível em seu canal do Youtube [https://www.youtube.com/@FestivalCinemaTranscendencia].
Na programação retrospectiva de estreia no CCBB Rio de Janeiro, serão apresentados documentários que foram destaque nas últimas edições do Festival como Psicomagia, o mais recente filme do chileno Alejandro Jodorowsky, para quem o cinema é capaz de “transformar almas e mentes”; Meeting the Beatles in India, no qual o cineasta Paul Saltzman refaz sua jornada de 50 anos atrás, quando passou um período transformador de vida com os Beatles na moradia do guru Maharishi Mahesh Yogi; Dying to Know, um retrato íntimo de dois grandes personagens do século XX, os professores de Psicologia de Harvard, Timothy Leary e Richard Alpert, que experimentaram os limites da consciência através do uso de alucinógenos; Finding Joe, uma verdadeira viagem pela psique humana sob a ótica e orientação do mitologista americano Joseph Campbell; e Shadows of Paradise, sobre as transformações vividas pelo Movimento de Meditação Transcendental, a partir de alguns de seus mais consagrados seguidores, como o cineasta David Lynch. E, ainda, o documentário brasileiro Orin – Música para os Orixás, de Henrique Duarte, sobre a influência das cantigas sagradas dos terreiros de Candomblé na MPB.
Mostra Brasil Profundo
A IX edição realizada no final de 2022 em Brasília, buscou um recorte único e diferenciado no trajeto do festival, por entender ser momento oportuno para promover uma reflexão sobre o “Ser Brasil”. Assim, durante a edição Rio de Janeiro, o Festival Internacional Cinema e Transcendência apresenta na Mostra Brasil Profundo títulos assinados por nomes como Hermano Penna, Edgar Navarro, Iza Grispum e André Luiz Oliveira.
“Estimular o autoconhecimento através da manifestação artística em todas as dimensões sempre foi uma característica do Festival. E, desta vez, a diferença é que o Brasil está em perspectiva pela conjunção de fatores históricos convergentes e é também pela necessidade de – a partir de uma imersão nas fontes da cultura artística popular brasileira ou inspirada nela com seus temas míticos/sociais -, vislumbrarmos a possibilidade da criação de um novo Brasil, um Brasil transcendente”, comenta André Luiz Oliveira.
Entre os destaques da mostra, está o clássico O Dragão da maldade contra o Santo guerreiro, obra-prima de Glauber Rocha, premiado com melhor direção no Festival de Cannes em 1969, que apresenta com maestria um estrato da sociedade brasileira injusta e violenta e, ao mesmo tempo, rica e poderosa na sua essência cultural.
A mostra ainda relembra o trabalho do cineasta Geraldo Sarno (1938-2022), diretor e roteirista baiano, que ficou conhecido por abordar temas como o movimento migratório brasileiro, as religiões e cultura populares. Serão exibidos três curtas clássicos, filmados na década de 1970 – Jornal do Sertão, Padre Cícero e Vitalino -, e seu último longa-metragem Sertânia, lançado em 2020.
O cangaço e a “arte cabocla” são tema de dois filmes do cineasta cearense/baiano/candango Hermano Penna que estão na programação – o média-metragem Nhô Caboclo e o elo perdido, que apresenta a obra de Manuel Fontoura, o Nhô Caboclo, baseada nas manifestações culturais surgidas exclusivamente do encontro entre negros e índios e ainda desconhecidas por grande parte da população; e o longa José de Julião – Muito além do Cangaço, que recupera a figura complexa de um homem que foi de cangaceiro a político no sertão de Sergipe.
Tomando como referência o sertão e o cangaço no imaginário poético dos artistas brasileiros, o festival traz o curta-metragem de ficção Porta de Fogo, do cineasta baiano Edgard Navarro, que liga a rebeldia cangaceira à perseguição e morte do capitão Lamarca. E um documentário apresenta a história de um artista que é sinônimo do nordeste brasileiro: Dominguinhos, dirigido por Mariana Aydar e Eduardo Nazarian, sobre o extraordinário sanfoneiro, cantor e compositor.
O festival apresenta ainda o documentário Mito e Música – A Mensagem de Fernando Pessoa, da cineasta luso-brasileira Rama de Oliveira em parceria com o cineasta/músico André Luiz Oliveira. Do diretor baiano também será exibido o curta de documentário É Dois de Julho, filmado em 1979 e cuja cópia foi resgatada recentemente e terá exibição inédita no Festival. O filme trata da grande festa cívica baiana do “Caboclo e da Cabocla”, que comemora a guerra de independência do Brasil na Bahia com a expulsão definitiva dos portugueses.
Sobre o CCBB RJ
Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro completa 33 anos em 2022 e representa o início do investimento do Banco do Brasil em cultura. O CCBB RJ está instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva. Marco da revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro, o Centro Cultural mantém uma programação plural, regular e acessível, nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. O prédio dispõe de 3 teatros, 2 salas de cinema, cerca de 2 mil metros quadrados de espaços expositivos, auditórios, salas multiuso e biblioteca com mais de 200 mil exemplares. Os visitantes contam ainda com restaurantes, cafeterias e loja, serviços com descontos exclusivos para clientes Banco do Brasil. O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro funciona de segunda a domingo, das 9h às 21h, no domingo, das 9h às 20h, e fecha às terças-feiras.