Por Michele Diniz
Terminal Happiness é um curta-metragem ficcional que retrata um mundo distópico onde a positividade é lei e as pessoas são forçadas a serem felizes o tempo todo, inclusive em um hospital de tratamento de câncer. Foi filmado na Estônia com uma equipe multicultural e de diversas nacionalidades. O filme é um dos meus trabalhos finais como diretora de fotografia da quarta turma do mestrado europeu Kino Eyes e foi selecionado no Camerimage 2020 na mostra Student Etudes Panorama.
A proposta de cinematografia buscou dar destaque e traduzir as emoções das personagens, seja no conceito de luz ou no planejamento dos enquadramentos. No que se refere à iluminação, o filme começa em um ambiente pouco contrastado, caracterizado por um equilíbrio de luminância entre personagem e cenário (high key lighting). Há também bastante diversidade de cores nos tons pastéis da paleta, com a intenção de formar uma estética leve e divertida.
O curta vai se tornando mais contrastado e saturado no decorrer da narrativa, a presença do rosa diminui e a do azul aumenta. Toda esta intenção foi trabalhada no próprio set, mas os filmes são também re-escritos no processo de montagem, as cenas ficaram um pouco mais misturadas do que o planejado. Para fins de manter uma fotografia com a densidade gradual que era necessária, eu e o colorista Brunno Schiavon buscamos um aumento sutil de saturação e contraste a cada cena. Por fim, definimos os valores de grão no teste de projeção.
Como forma de ilustrar um pouco do processo de cinematografia, trago aqui uma versão com cortes da cena final, porque ela sintetiza inúmeros elementos que foram trabalhados no filme. A cena na qual a personagem finalmente transborda todas as suas reais emoções em um longo dolly in, teve como inspiração o plano da série Euphoria. Esta é a cena mais escura do filme, mais saturada, com mais grão e uma das poucas com luz direta, sendo reflexo do que a personagem viveu na narrativa.
O mapa de luz (imagem 05) mostra que usamos luzes que iluminam o cenário de forma que as luzes que iluminam a personagem estejam em sintonia. A luz frontal magenta é um Voyager (da digital sputnik) animado em looping, que entra e sai do rosto da personagem, em um movimento de ondas previamente testado e estudado pela equipe de iluminação. Essa luz é também influenciada pelas pequenas luzes do servidor de computadores que criamos, além do azul do aquário, criando um ambiente em tom melancólico.
A ideia era que o cenário também pudesse contribuir para uma cinematografia orgânica e verossímil. Iluminamos para dar a sensação de que a luz que atinge a personagem é do próprio cenário, mas na verdade o contra azul não vem do aquário iluminado pelo Skypanel e sim de um LED spot DS1. Assim como as ondas de luz magenta que atingem o rosto da personagem parecem que são as luzes do sistema de computador à esquerda do mapa, mas essas ondas foram formadas por um Voyager em looping.
Esta proposta de iluminação envolve um conceito maior do filme de que as personagens estariam presas em um aquário. Uma inspiração dos próprios espaços arquitetônicos da Estonia, onde são usadas grandes janelas de vidro para aproveitar a entrada de luz escassa em boa parte do ano. Os frames do filme buscam essas janelas, buscam mostrar que o exterior não é acessível. Por isso estive diretamente envolvida no plano de filmagem para que as cenas fossem filmadas no momento certo de luz solar, sendo ainda um desafio imenso manter o baixo contraste principalmente na primeira parte do filme.
A preparação de Terminal Happiness envolveu um longo processo de reuniões e apresentações. Não foi simples apresentar as propostas, lá do outro lado do mundo e em inglês. Sendo parte de um processo acadêmico, fui também avaliada como diretora de fotografia em pitchings de pré-produção. Filmamos em 5 dias um roteiro com alto valor de produção em uma locação enorme. Foram necessárias duas equipes de iluminação, uma em set e outra em pré-light. A qualidade da fotografia muitas vezes está no próprio desenho de produção e nas relações de equipe. Contei com um grande time talentoso e profissional, boa parte colegas de mestrados internacionais. Foi uma experiência muito rica e desafiadora como diretora de fotografia.
Filmado com Alexa Amira, Zeiss CP2 e Canon Cine Prime.
Diretor: Eric Romero
Produtor: Mauricio Tunaroza
Roteirista: Chinh Van Tran
Diretora de fotografia: Michele Diniz
Editor: Pedro Vital
Sound Designer: Tarun Madupu
Production Designer: Elo Elmers
Elenco:
Rachel Flynn como Miranda,
Roisin Brehony como Fran,
Mart Sander como Taavi
Equipe de câmera
Gaffer: Andres Arukask; Ezequiel Salinas Eletricistas: Eemi Lehto; Kevin Mardiste Assistentes de elétrica: Suraj Suresh; Jessica Sattabongkot Assistentes de elétrica (extra): Gert Tali; Sombit Mondal Dolly grip: Aidar Mussabekov Key grip: Mehmet Burak Yılmaz Digital Sputnik supervisor: Mari Rohtla 1AC: André Turazzi 2AC: Juan Pablo Reyes Operador de Steadicam: Kristjan-Jaak Nuudi DIT: Nicolas Viggiani Making of: Sai Krishna Koppolu Colorista: Brunno Schiavon