Por Tide Borges, ABC
Tide: Mauro, como você começou a se interessar por cinema?
Mauro: A história é muito comprida, tão comprida como a minha vida… porque desde muito criança eu me interesso por cinema. Eu nasci em Curitiba, onde um tio meu tinha casas de exibição, então desde pequenininho eu me interesso por cinema porque eu tinha entrada grátis, sabe? Tão somente isso.
Mas hoje em dia, refletindo, eu penso: mas porque eu queria entrar no cinema? Eu poderia querer entrar num estádio de futebol, num teatro, mas o cinema me supria aquela falta de brinquedos e uma necessidade de espetáculo que eu tinha, pela minha herança italiana.
Tide: Quantos anos você tinha?
Mauro: 6 anos. Depois, quando eu estava no primário, o Grupo Anexo era do lado do cinema. Eu saía da escola e ia na porta do cinema. Ficava vendo os cartazes e inventando os filmes. Eu ia ver os seriados no domingo e as minhas irmãs, que eram noivas, não podiam ir ao cinema somente acompanhadas dos noivos, eu tinha que ir com elas e então eu ia ao cinema de noite.
De dia, faroestes de briga e de noite, filmes de beijo. Para a minha idade e condição social só tinham duas opções de distração: o cinema e a igreja. Eram os meus dois limites. A escola não era distração.
O cinema e a igreja eram dois núcleos de espetáculo que forneciam as fantasias para os brinquedos, desenhos, brincadeiras no campinho aonde eu ia jogar futebol. Um dia, pouco tempo atrás, um amigo meu me disse: Mauro, nós somos a geração massacrada pelo cinema. Por enquanto eu estou agradecendo este massacre, acho que ele também.