Por Danielle de Noronha
Como parte da série de entrevistas sobre as associações federadas à FELAFC (Federação Latino-americana de Autores de Fotografia Cinematográfica), conversamos com o diretor de fotografia Pili Flores-Guerra sobre a Asociación de Autores de Fotografía Cinematográfica Peruanos (DFP).
Fundada em 2013, atualmente é presidida pela diretora de fotografia Micaela Cajahuaringa Shreiber, DFP, e conta com 23 pessoas associadas.
Para começar, pode falar-nos um pouco da sua carreira no cinema e no audiovisual?
No próximo ano vou fazer meio século de cinema. No início, desempenhando diferentes funções (realização, montagem, som, etc.) e, depois de muitos curtas-metragens, realizei o meu primeiro longa: “Cuentos Inmorales” (1978), hoje considerado quase um ícone do nosso cinema porque funda o que se poderia chamar “a etapa atual e vigente” do cinema peruano, e porque inicia um cinema social de grande público no país. Fui colaborador no início da carreira de Francisco Lombardi, que é considerado o cineasta de referência do nosso cinema, e a quem acompanhei como DOP em vários dos seus filmes, dos quais gostaria de mencionar “Maruja en el Infierno”, “La Ciudad y los Perros” e “Sin Compasión”. Até hoje, tenho 25 longas-metragens registados entre filmes peruanos e estrangeiros, muitos curtas-metragens e séries de TV, bem como uma extensa carreira no ensino e na publicidade como Diretor-Fotógrafo.
Quando é que passou a participar da DFP e o que te levou a tomar essa decisão?
Com menos de uma dezena de amigos fundamos o DFP em 2013, no âmbito do 17º Festival de Cinema de Lima da Universidade Católica, seguindo os bons conselhos da ADF Argentina e com a generosidade de César Charlone, ABC como padrinho do evento. Desde então, temos crescido como instituição e com um bom número de membros que nos têm ajudado neste projeto cada vez mais ativo na nossa comunidade cinematográfica. Fui presidente durante 6 anos desde a sua fundação, e este ano a colega Micaela Cajahuaringa está a terminar o seu segundo mandato (4 anos).
Para sabermos mais sobre a história da associação, poderia falar mais sobre o contexto do seu surgimento e quais são os seus principais objetivos?
A DFP nasceu no contexto de uma indústria nascente e em rápido crescimento, graças às várias leis de apoio e promoção da produção audiovisual por parte do Estado, através do seu Ministério da Cultura. E foi “Criada com o objetivo principal de promover e hierarquizar a profissão e o trabalho dos Diretores de Fotografia Cinematográfica, e de defender os direitos intelectuais e os interesses morais e patrimoniais dos seus membros, ligados à sua condição de Autores de Fotografia Cinematográfica”, como os nossos estatutos resumem no seu título.
A isto é necessário acrescentar o nosso papel de educação e formação de técnicos(as) e profissionais, uma vez que no nosso país ainda não existem infraestruturas educativas suficientes.
Na sua opinião, quais são as principais conquistas da DFP nestes anos e o que falta conquistar?
Acho que, sem dúvida, o mais importante é ter fundado a Federação Latino-Americana de Fotografia Cinematográfica (FELAFC) aqui em Lima em 2015, no 17º Festival de Cinema de Lima PUC, com a participação da Argentina, Brasil, Colômbia, Uruguai, Venezuela e nós. Mais tarde juntaram-se Chile, México, Costa Rica, Costa Rica e Porto Rico.
Outra conquista importante é o fato de o Festival de Cinema ter conseguido que o DFP designasse o júri e atribuísse os prêmios para a Melhor Fotografia. Este júri é internacional e é composto por três DOPs latino-americanos(as) pertencentes à FELAFC. Por outro lado, esses membros do júri contribuem com palestras, conferências e até mesmo workshops dentro do Festival, como o que foi dado este ano pelo colega chileno Sergio Armstrong ACC, e desta vez a conferência de Mustapha Barat, agora presidente da IMAGO e ABC, sobre o papel das nossas associações em todo o mundo… e o que o futuro nos reserva.
Que mudanças ocorreram no cinema peruano ao longo dos anos e qual foi a contribuição da associação para essas mudanças?
Hoje em dia há muita produção cinematográfica no país e, surpreendentemente, tanto ou mais nas regiões, como chamamos aqui as províncias, que não são Lima. Num país tão centralizado, isto é muito importante. O nosso papel, como disse acima, é investigar, educar, formar e atualizar, na medida do possível, toda a comunidade cinematográfica. Tentamos ser ativos, dando palestras, conferências e workshops, com a colaboração e, por vezes, o patrocínio dos nossos parceiros, como a ARRI, a SONY, a ZEISS, a KINO FLO, a NAM LIGHT e as locadoras locais. Foi durante a pandemia que realizamos o maior e mais abrangente workshop virtual com a participação de quase todos(as) os(as) nossos(as) membros(as) associados(as). Tivemos um grande público de técnicos(as) e profissionais do audiovisual.
Quais são as principais atividades e propostas que a DFP realiza atualmente?
Desde a nossa fundação, temos desenvolvido uma importante atividade em tudo o que se relaciona com a legislação e a gestão do organismo oficial de promoção do setor audiovisual no Ministério da Cultura. Atualmente, damos prioridade à realização da Escola Nacional de Cinema e à criação da Cinemateca.
E, neste momento, fomos nomeados entre as organizações locais para participar na preparação e desenvolvimento do que, a médio prazo, será a Peruvian Film Comission. Estamos a trabalhar nisso com o Estado, vigilantes dos nossos direitos e deveres.
Em termos de diversidade, como a participação de mais mulheres, qual é o trabalho da associação a este respeito?
Desde que a nossa colega Micaela Cajahuaringa assumiu a presidência, a DFP tem se dedicado à divulgação e promoção de uma participação mais decisiva das mulheres na área da fotografia. A Micaela tem trabalhado com um grupo de técnicos e profissionais na tentativa de acrescentar mais colegas à Direção de Fotografia. Atualmente, temos apenas duas sócias e essa é uma das nossas tarefas mais importantes, aproximá-las da profissão e juntá-las à nossa instituição, entre outras coisas, abrindo a categoria de Sócios(as) Aderentes e flexibilizando os nossos requisitos para Sócios(as) Ativos(as).
Em relação à FELAFC, como vê a criação da federação, o trabalho do DFP para a sua consolidação e qual a sua importância para aproximar o cinema da América Latina?
Estamos com a FELAFC desde que a fundamos e não paramos de trabalhar resolutamente na sua construção, participando de todos os eventos e Assembleias que aconteceram até hoje. Acabamos de participar na elaboração dos novos Estatutos e na mesa de trabalho da última Assembleia em São Paulo. O que é que procuramos? Crescer. O nosso continente é uma só voz e o fato de estarmos juntos torna-nos mais fortes e mais eficazes na concretização das nossas propostas. O cinema é uma indústria e continua a ser uma competição. Acreditamos que chegou a hora da América Latina e precisamos de mais destaque nestes tempos de mudança científica e tecnológica e, acima de tudo, no nosso trabalho profissional: os nossos novos papéis.
O que espera do futuro do DFP e da FELAFC?
Sucesso na nossa gestão e participação permanente de todas as associações para crescermos. Em São Paulo aconteceram muitas coisas boas. Reafirmando, por exemplo, a ideia original de que as maiores associações devem colaborar mais decisivamente com as novas, tentando fazer da região uma voz mais forte, e tentando promover (e aconselhar) a criação de novas associações no continente. Encontros como o de São Paulo, e antes desse, no México e em Bogotá, são úteis para o intercâmbio de ideias, projetos, tecnologia, etc. Nós, DFP, por exemplo, já estamos a pensar e a preparar “feiras tecnológicas”, tentando assim manter o nosso setor permanentemente atualizado. Outro pormenor interessante foi a decisão de prolongar o mandato dos Secretariados Gerais e a agradável competição pela sucessão das presidências para os próximos anos. Penso que já estamos programados para o longo prazo.
Estamos também a trabalhar para reprogramar as nossas “Mostras FELAFC”, aqueles encontros cinematográficos em que cada associação contribuía com um filme e, dessa forma, abríamos um diálogo sobre as atividades, os avanços e os progressos da cinematografia dos nossos países.
E o tema da Autoria da Imagem… será sempre um tema atual e complexo, sem dúvida.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Sim, que a partir deste ano somos membros do IMAGO, entre muitas coisas porque queremos colaborar e contribuir nesta nova gestão que nós, os(as) sul-americanos(as), presidimos hoje, nas pessoas de Mustapha Barat ABC e Adriana Bernal, ADFC.
Saiba mais sobre a DFP: https://www.dfp.pe/ https://www.instagram.com/dfp.peru/