Hélcio Alemão Nagamine, ABC: “Mare Nostrum”

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Por Danielle de Noronha

Mare Nostrum, terceiro longa de Ricardo Elias, marca o reencontro do diretor com o ator Silvio Guindane. Conta a história de Roberto (Silvio Guindane) e Mitsuo (Ricardo Oshiro), que acabam de voltar ao Brasil sem dinheiro e sem perspectiva de trabalho. Roberto, jornalista, vem da Espanha, desempregado, e Mitsuo, do Japão, após perder tudo no tsunami. Os dois enfrentam os desafios de reconstruir suas vidas, que se cruzam por causa de um terreno negociado por seus pais há 29 anos.

O filme faz uma homenagem à seleção do Brasil da Copa de 1982 e, em especial, à figura do Dr. Sócrates, lendário jogador do Corinthians, por quem Roberto, personagem de Silvio Guindane, tem grande admiração.

Entrevistamos o diretor de fotografia Hélcio Alemão Nagamine, ABC, que fala sobre o trabalho no filme.

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Como aconteceu o convite para fotografar Mare Nostrum e quais foram suas primeiras impressões ao ler o roteiro?

Conheço o Ricardo Elias desde a época da faculdade, somos contemporâneos do curso de cinema na ECA/USP, e eu fotografei um dos seus primeiros curtas. Depois de um longo tempo sem trabalharmos juntos, uns dois anos antes de rodarmos, ele me chamou para esse projeto.

Eu gostei bastante do roteiro que trata de pessoas e histórias comuns de uma classe média, mas que lida com um aspecto fantástico muito interessante.

O roteiro do filme é baseado em memórias do diretor Ricardo Elias. Quais referências foram trazidas por ele para compor a fotografia do filme e como se desenvolveu a parceria entre vocês?

Não me lembro exatamente das referências trazidas pelo Ricardo, mas conversamos bastante a respeito do que queríamos em termos de linguagem e concepção visual. Acabamos optando por filmar de uma maneira bem simples com um mínimo de planos por cena e muitos planos fixos, numa decupagem nada rebuscada que nos pareceu a mais adequada para a leveza que pretendíamos transmitir, o que nos permitiu filmar de uma maneira muito rápida.

Apesar de termos ficado tanto tempo sem filmar juntos, o trabalho no set correu muito bem. Geralmente fazíamos um rápido ensaio antes de batermos o martelo na decupagem, pra se certificar que a movimentação dos atores funcionava em relação às posições que tínhamos pré-definido nas visitas técnicas.

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Quais câmeras e lentes foram utilizadas e por que as escolheu?

Filmamos com uma Alexa Plus e um jogo de Ultra Primes. Eu queria filmar com uma câmera Arri, por causa da qualidade de imagem, robustez, confiabilidade do equipamento, etc. O jogo de Ultra Primes não foi exatamente uma escolha, mas estava dentro de um pacote acessível que eu consegui para não abrir mão de rodar com uma Alexa.

Foram realizados testes prévios?

Rodamos uma diária em externa e numa locação que estava mais preparada, para sentir se nossa paleta funcionava do jeito que queríamos e para testar trocar a cor do carro de vermelho para abóbora. Com o teste rodado, fomos para a marcação de luz e estabelecemos um look prévio.

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Em quais locais o filme foi realizado e como foi o processo de escolha das locações?

Filmamos a maioria dos interiores em locações em São Paulo, as cenas do terreno de Praia em Mongaguá, apesar da história se passar em Praia Grande, devido à dificuldade de achar dois terrenos com as características que precisávamos: um num lote vazio sem construções e outro já com construções ao redor, além de parecerem o mesmo em épocas diferentes.

Os terrenos de Praia foram achados pela própria Mara (diretora de arte) e pelo Ricardo que fizeram várias visitas com este propósito. Filmamos também em Santos, Praia Grande, São Roque (hotel), no Horto Florestal e num sítio de orquídeas no interior de São Paulo.

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Como foram realizadas as filmagens no terreno e praia? Quais foram as peculiaridades de filmar nesses ambientes?

Exceto pela cena inicial, que era difícil de iluminar a fim de imprimir a chuva num plano bem aberto diurno e das variações de tempo que acabaram acontecendo e dificultaram a continuidade de luz, a filmagem na praia foi muito tranquila, basicamente respeitando os horários para ter a luz na direção desejada e controlando o contraste com butterflys e gobos de brim preto.

E como foi trabalhada a luz do filme?

Os interiores dia eu iluminei a maior parte do tempo pelo lado de fora através de portas e janelas e com uma fonte única sempre que possível. Na peixaria isso foi impossível porque a locação era dentro de uma galeria e não tinha janelas. Neste caso específico, eu usei pequenas fontes de tungstênio escondidas no teto para complementar as luzes cenográficas do balcão, preferi iluminar com uma fonte quente para contrastar com o azul claro dos ladrilhos da parede.

E essa foi também a abordagem para os interiores noite, a maioria feita dia por noite já que a maioria das locações permitia que cobríssemos as janelas por fora.

Nos exteriores dia eu evitei usar luz artificial a não ser para manter a continuidade em situações em que o sol desaparecia, por exemplo.

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É possível perceber um importante trabalho do departamento de arte para construção dos dois personagens principais do filme e dos ambientes que os cercam. Poderia nos falar um pouco sobre a relação do departamento de fotografia com a equipe de arte?

O trabalho com o departamento de arte foi de muita cooperação, desde o início do projeto fomos compartilhando o máximo possível de informações.

Dou aqui um exemplo: desde o começo todos sabíamos que devido as limitações de orçamento não poderíamos fazer todas as intervenções que gostaríamos. Ao ver as locações que a Mara havia pré-selecionado notamos que o azul, o verde e o marrom eram predominantes em muitas das locações que gostávamos, então a ideia foi limitar a paleta a partir do que estes lugares ofereciam, assim bastava interferir nos poucos lugares que estavam fora dela. Esta foi uma decisão tomada em conjunto e que eu acho que funcionou muito bem.

Como aconteceu o workflow de pós e qual sua participação nele?

Finalizamos o filme na O2 e o Foca foi nosso colorista. Como já fiz vários filmes com ele, o método de trabalho funciona perfeitamente, depois de testarmos alguns looks na pré, assim que ele recebia o material já separava alguns frames e me mandava corrigidos, eu fazia alguma observação se necessário e ele refazia.

Nas horas de marcar a luz tínhamos um ponto de partida muito mais próximo do resultado final do que se tivéssemos começado do zero.

Ficha Técnica:
Direção: Ricardo Elias
Roteiro: Ricardo Elias, Eneas Carlos e Claudio Yosida
Produtor Executivo: Fernando Andrade
Diretor de Fotografia: Hélcio Alemão Nagamine ABC
Diretor de Arte: Ana Mara Abreu
Música original: André Abujamra
Montagem: Willem Dias
Fotos: Aline Lara
Distribuição: Imovision
Elenco: Silvio Guindane, Ricardo Oshiro, Carlos Meceni, Lívia Santos, Ailton Graça, César Mello, Vera Mancini, Edson Kameda, Maya Hazegawa, Teka Romualdo e Naruna Costa
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