Por Danielle de Noronha
Hebe Camargo se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 1980, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe, aos 60 anos, tomou uma decisão importante: a apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente das críticas, do marido e dos chefes poderosos, foi capaz de superar qualquer crise pessoal ou profissional.
Em Hebe – A Estrela do Brasil, a atriz Andréa Beltrão da vida à apresentadora. O filme conta com direção de Maurício Farias e fotografia do peruano Inti Briones, que conversou com a ABC sobre o trabalho no filme.
Como surgiu o convite para você fotografar Hebe – A Estrela do Brasil?
Não sei exatamente o que motivou o convite nem quando surgiu a ideia… Para nós, os fotógrafos, isso sempre será um grande mistério, né?
Eu acho que foi uma constelação de fatos muito comuns nesses processos criativos. Afinidades e curiosidades comuns com as pessoas que já estavam trabalhando no projeto da Hebe foram o terreno fértil para o convite. O fato é que a chamada telefônica do diretor Maurício Farias foi o começo de uma colaboração cordial, recíproca e generosa que continua até hoje.
O que você já conhecia da Hebe?
Foi um mergulho em águas novas e desconhecidas, foi começar de zero… Eu não sabia nada da Hebe. Acho que é esse o privilegio que o cinema nos oferece, nos levar pelos caminhos mais misteriosos que se pode imaginar. Raul Ruiz dizia: a gente não só olha os filmes, como também os filmes olham a gente.
Quais foram as principais referências e inspirações? Foram utilizadas imagens de arquivo?
No caminho fomos encontrando muitas referências. No processo, elas apareciam e desapareciam, encontramos umas e esquecíamos outras, encontrávamos outras e assim até a colorização, que fizemos com Fabio Souza.
As imagens de arquivo foram uma grande fonte de inspiração e também um teaser que Maurício fez com seu telefone celular, que foi essencial para compreender com qual linguagem ele estava se aproximando da Hebe.
O filme foi realizado com quais lentes e câmeras? Por que elas foram escolhidas?
A câmera foi uma RED Dragon W com sensor Helium 8K e uma maravilhosa lente Panchro Classic da Cooke.
Tivemos vários fatores que deram como resultado aquela combinação de câmera e ótica, a gente procurou uma imagem sem data, uma lembrança com doçura e contradições, com a subjetividade de quem está tentando arrumar a memória sem sucesso, misturando fábula com a realidade. Um sonho acordado que tinha que bater forte com a realidade de fantasia e purpurina.
O passado da Hebe tinha que ser nosso presente, de espectadores, lembrando o desejo de brilho de uma estrela misturado com a intimidade registrada pela câmara de um convidado silencioso.
Foram realizados testes prévios? Como foi a pré-produção?
Foram sim, sobretudo com a lente. Foi muito importante conhecer a pessoalidade de nossas Panchro Classic. Alexandre Fuchigami e a Mostercam foram grandes parceiros, primeiro na pesquisa e logo nesses testes, para compreender o diálogo entre a câmera e as lentes.
Nos faltou tempo para fazer um teste a mais com o departamento de arte, mas acho que a gente se aproximou bastante do que tínhamos imaginado.
Como foram realizadas as cenas dentro do estúdio de TV?
Maurício tem uma grande tradição e conhecimento da dinâmica de um set de TV. O conceito foi similar para todo o filme, a gente foi uma testemunha, mas não passiva, nossa câmara foi curiosa e muitas vezes se aproximou até dos detalhes de quem tenta olhar na própria memória…
A fotografia buscou diferenciar a vida pública e a vida privada da apresentadora?
Não, nossa ideia foi a subjetividade da memória, a prioridade estava nas emoções, nos estados de ânimo de quem está contando e medrando uma história.
Como foi o workflow de pós e sua participação nele?
Foi ótimo! A gente teve uma boa parceria com a O2, eles nos deram um ótimo suporte durante as filmagens, preparando tudo para chegar ao trabalho de color grading com Fabio Souza, com quem já realizei muitos filmes. É sempre um grande prazer contar com sua criatividade e conhecimentos técnicos. Agradeço muito a ele, pela liberdade que ele oferece para experimentar…
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Gostaria de agradecer à ABC por aceitar minha incorporação à grande família! Também para você por suas perguntas. E desejar uma vida longa ao cinema, às artes e à cultura em geral do Brasil, dos quais sempre fui um grande admirador, e que hoje também vive em sua própria carne os golpes da crise e o obscurantismo do país.
Ficha Técnica: Direção: Maurício Farias Escrito por: Carolina Kotscho Produzido por: Carolina Kotscho, Claudio Pessutti, Lucas Pacheco, Clara Ramos, Fernando Nogueira, Heloisa Jinzenji e Renato Klarnet Produtor associado: José Alvarenga Jr. Produtora executiva: Clara Ramos Elenco: Andrea Beltrão, Marco Ricca, Danton Mello, Gabriel Braga Nunes, Caio Horowicz, Stella Miranda, Karine Teles, Claudia Missura, Daniel Boaventura, Danilo Grangheia Direção de fotografia: Inti Briones Montagem: Joana Collier, EDT e Fernanda Franke Krumel, AMC Direção de produção: Renata Artigas Direção de arte: Luciane Nicolino Figurino: Antônio Medeiros Maquiagem: Simone Batata Produção de elenco: Andrea Imperatore e Alessandra Tosi Som direto: Gabriela Cunha Desenho de som: Daniel Turini, Fernando Henna e Henrique Chiurciu Mixagem: Gustavo Garbato Trilha sonora original: Branco Mello e Emerson Villani Finalização: O2 Pós Fotos: Jonas Tucci