Por Danielle de Noronha
Depois de integrar a seleção dos festivais de Havana (Cuba), do Rio, Mostra de SP e, no próximo mês, no Cinequest (EUA), o primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Pedro Coutinho chega às salas de cinema brasileiras no dia 1º de março.
O filme traz a história de Antônio, vivido por Johnny Massaro, um rapaz que vê seu namoro de três anos chegar ao fim, acredita que rapidamente esquecerá Sofia, interpretada por Bianca Comparato, porém, nada é tão simples quanto parece.
Ao ver a impossibilidade de controlar seus próprios sentimentos, Antônio passa a boicotá-los para se libertar da lembrança da ex-namorada, usando todos os tipos de medidas paliativas contemporâneas: psicanálise cognitiva, remédios tarja preta e o aplicativo Tinder, entre outras, as quais o levam a passar por inúmeras situações tragicômicas.
O diretor de fotografia João Padua conta sobre o trabalho no filme.
Por favor, descreva os aspectos técnicos. E quais os motivos o levaram a escolher essas câmeras e lentes?
Toda a estrutura narrativa do filme se dá a partir dos pensamentos do Antônio, que ao longo do filme vive uma montanha-russa de sentimentos. O primeiro pedido do Pedro Coutinho, diretor do filme, foi que eu trabalhasse com pouca profundidade de campo, procurando isolar o Antônio do mundo exterior. Com essa premissa decidi me apropriar das características das lentes anamórficas para ajudar a pontuar as sensações desses diferentes estados mentais do personagem. Com o apoio da BASE 1 e da produtora executiva Fernanda Geraldini, pude contar ao longo do filme com um jogo misto de lentes – KOWA, Cooke anamórfica & ELITE – e a escolha se dava em função de buscar mais ou menos distorção, definição, contraste e flare, tentando acompanhar a progressão da vida do Antônio. A eficiência da equipe de câmera (1AC Flavio Borges e 2AC Antoine D’Artemare) foi fundamental para essa logística dar certo. Nas sequências de flashback, quanto Antônio lembra dos bons e maus momentos da sua relação com Sofia, acrescentamos uma luz de led fixada na câmera e virada para a lente para manter aquela espécie de névoa na imagem. A câmera que usamos foi a RED Epic.
Foram realizados testes prévios?
Tivemos uma diária de testes. Nesse dia fomos em parte das locações e rodamos alguns planos com stand-ins. Ver o material projetado foi fundamental para fazer as escolhas de lentes e filtros.
Como foi trabalhada a luz no filme?
Desde o início das conversas com o Pedro, ficou claro que o filme precisava de uma estética mais naturalista, em que a luz não fosse ‘sentida’ e que o realismo ajudasse a dar ainda mais força à história. Nas diurnas contei basicamente com a escolha dos horários e o uso de negativo. Nas noturnas era inevitável ter uma estrutura um pouco maior em que a cor entrou como um elemento, mas, ainda assim, muitas vezes a latitude do sensor foi levado ao limite.
O filme traz alguns aspectos comuns da vida contemporânea, como as novas tecnologias e redes sociais. Como a fotografia trabalhou com essas estéticas e linguagens das novas tecnologias?
Diversos planos já foram filmados levando em conta aonde e como entrariam os efeitos de pós que ilustram os momentos em que o Antônio usa o celular ou o notebook. Pra isso era preciso considerar o enquadramento e a luz mais adequados para ‘colar’ com o insert do efeito. A Clan fez os efeitos.
O que dizer da escolha das locações? Qual a importância da cidade para o filme?
O filme foi todo feito em locação e não há dúvida que a cidade de São Paulo é um dos protagonistas da história. Na época das filmagens eu ainda não morava em São Paulo e como o Antonio (e o Pedro), era um carioca vendo e vivendo SP com um híbrido de fascínio e estranhamento que talvez seja um pouco diluído em quem sempre viveu por aqui.
Como foi a interação com o departamento de arte?
A parceria com o Rafael Blas, diretor de arte, foi fundamental para que eu pudesse trabalhar da maneira que comentei antes. Contei com todas as fontes de luz que o Rafa trouxe pro cenário, ajustando as intensidades com dimmers. Elas serviam tanto para iluminar como para ajudar a criar profundidade. Outras vezes, em certos momentos da história, a opção conceitual por um cenário quase ‘pelado’ refletindo a crueza do período da vida do Antônio me parece um grande acerto.
Li que o filme foi idealizado como uma produção rápida, de formato colaborativo. Como essas questões foram vivenciadas na prática pela equipe de fotografia?
Tem coisas que só são possíveis de serem feitas em filmes pequenos. Diversos planos que estão no filme só aconteceram graças a agilidade da equipe em se adaptar e tomar partido do acaso. Acho que essas situações vão acrescentando camadas que permeiam a percepção do filme. O gaffer Alê Vaz, o maquinista Adriano Rasta e a 1AD Renata Racy foram essenciais para isso acontecer.
Como foi o workflow de pós e sua participação nele?
A cor do filme foi feita pelo incrível Fernandinho Lui, da Marla. Participei de todas as sessões e o Pedro também fez questão de estar presente em todas elas. Como o orçamento era pequeno, tivemos que ajustar as pautas à agenda de nós três, o que fez com que todo o processo de marcação tenha levado vários meses… rs. O que no final foi bom, porque permitiu um certo distanciamento e tempo para digerir o look do filme. O workflow e cor dos dailies foi feito com plataforma do Frame.io pela Julia Bisilliat com a ajuda do logger Gui Tauffenbach.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
O filme tem feito uma carreira bem bacana de festivais. Ano passado já esteve no Festival do Rio, Mostra de SP e Festival de Havana. Este ano já vai estar em março no Cinequest, na Califórnia e será lançado no circuito comercial no Brasil agora no dia 1º de março. É gratificante ver que um filme tão enxuto feito a partir do esforço individual de cada um da equipe, consiga encontrar o seu espaço em um mercado extremamente competitivo.
Ficha técnica Diretor: Pedro Coutinho 1ª AD: Renata Racy Produtor: Egisto Betti Produtoras Executivas: Fernanda Geraldini e Ducha Lopes Produtor de Elenco: Alice Wolfenson Diretor de Fotografia: João Padua Diretor de Arte: Rafael Blas Prod. Objeto: Nina Faccio Figurinista: Aline Canella Maquiadora: Siva Rama Terra Gaffer: Ale Vaz Técnica Som Direto: Debora Murakawa Montador: Federico Brioni, Amc Trilha Original: Beto Coelho Coordenação de pós-produção: Deinha Duarte Lopes Finalização: Laboratório Digital Lilit Pós-produtora: Clan Vfx