Mestres da Luz I – Eduard Tissé

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2992544 Eduard Tiss, Douglas Fairbanks and Sergei Eisenstein, 1926 (b/w photo); (add.info.: Moscow, Moscow (Province), Russia The American actor Douglas Fairbanks visits Moscow. The shot shows him (center) between the Russian film director and writer Sergei Michailowitch Eisenstein (right) and his cameraman Eduard Tisse (left).); © SZ Photo / Scherl.

Por Carlos Ebert

“Cinema não é samba, mas as parcerias são fundamentais.”

Há tempos ouvi isso de um diretor amigo, e concordei no ato. Na verdade são muitas as parcerias no cinema, mas a que relaciona o diretor de cena ao diretor de fotografia, é certamente a principal.

Eisenstein/Tissé, Welles/Toland, Cocteau/Alekan, Buñuel/Figueroa são alguns exemplos notáveis desta relação criativa, que se investigada com metodologia correta, certamente proporcionará informações preciosas aos interessados.

Mestres da Luz , se propõe a traçar um perfil dos grandes diretores de fotografia, e a partir dele propor a discussão em torno do processo de criação na cinematografia.

Eduardtisse

Eduard Tissé

Eduard Kazimirovich Tissé nasceu em 1 de abril de 1897 em Liepaja, na Lituânia e faleceu em 18 de novembro de 1961 em Moscou – Rússia.

Seu pai era sueco e sua mãe russa. Estudou arte em Estocolmo e lá participou como assistente de alguns filmes. Começou a trabalhar profissionalmente como cinegrafista de atualidades durante a revolução russa, tendo filmado a primeira comemoração do 1 de maio na Praça Vermelha.

Em 1924 conhece Eisenstein , que o convida para trabalharem juntos. A parceria resultou em alguns dos melhores filmes do cinema soviético: A Greve 1925, Encouraçado Potenkin 1925, Outubro 1927, Linha Geral 1929, Que Viva México 1932, Alexandre Nevsky 1938 e Ivan, o Terrível partes I 1945 e II 1958 (juntamente com Andrei Moskvin).

Tissé participou também em dois filmes como co-diretor: Mulher Feliz, Mulher Infeliz 1929, Suiça, com Grigori Aleksandrov e O Imortal Garrison 1957, URSS, com Zakhar Agranenko.

Colaborou também com outros grandes diretores do período como Pudovkin, Dovzhenko e Alexandrov, este último ex-assistente de Eisenstein. Pode ser visto também fazendo uma ponta como ator em Outubro.

O final da década de 10 e o começo da década de 20, foram anos de grande atividade artística e cultural na URSS. “Foi um período de expansão tumultuada da arte soviética. É difícil imaginar hoje como era em Leningrado em 1919 ou 1920.

Nunca tinham existido tantos teatros (e os teatros eram gratuitos), nunca tantos livros foram publicados, particularmente livros de poesia. Nunca tantos experimentos haviam sido feitos em arte dramática e pintura.” (1) Neste ambiente altamente estimulante Tissé encontrou sua vocação.

Tissé foi um estudioso da História da Arte, principalmente no que diz respeito à pintura. Sua aproximação com o impressionismo foi assinalada por vários críticos, entre eles Nilson Sills que escreveu a respeito de Encouraçado Potenkin: ” A conexão clara com o “olhar impressionista” está presente em todo o filme, mas se dá de maneira contundente na cena em que vemos pela primeira vez o porto de Odessa.

Uma atmosfera de névoa envolvente borra o contorno das embarcações. Os reflexos da água alternam luminosidades e sombras, no mesmo olhar que está presente na tela Impressões do Sol Nascente de Claude Monet .” Em Potenkim, embora a fotografia mantenha algumas das características documentais de um jornal de atualidades, é igualmente elaborada, tendo sido descrita por Eisenstein como “pintura em movimento” e “imagética verbal”.

Tissepotenkin

De todos os filmes da dupla, talvez Que Viva México, seja aquele em que a cinematografia de Tissé alcançou o mais alto grau de rebuscamento. Suas imagens exploram até o limite o claro-escuro da luz do deserto, e a composição nos enquadramentos atinge grau de elaboração que nos remete ao barroco.

As figuras humanas e os rostos são tratados como paisagens vivas. A produção do filme foi conturbada. A dupla tinha ido aos EUA para fazer uma adaptação da Tragédia Americana de Theodore Dreiser que acabou não acontecendo. Com a mediação do escritor socialista Upton Sinclair, Eisenstein e Tissé foram em 1931 para o México com a intenção de filmar um extenso painel documental em seis episódios que ambicionava ser:

” Um estudo episódico da etnografia e dos simbolos da cultura mexicana contra o pano de fundo da sua história colonial dos antigos Maias até a revolução de 1910.” (2)

O filme não pode ser terminado na ocasião por problemas de verba e quetões políticas. Entre outros episódios, a equipe teve seu visto de entrada nos EUA negado quando quiseram retornar para editar o material filmado. Vários filmes curtos e longas foram editados por terceiros à partir do material filmado no México, mas apenas em 1979 o assistente de Eisenstein, Alexandrov, conseguiu montar uma versão integral do filme, após pesquisar exaustivamente as anotações e desenhos feitos pelo trio.

Eisenstein Queviv3

Que Viva México

Tissé retorna à URSS e continua a filmar com Eisenstein. A censura stalinista bloqueia projetos, cancela produções e cria todo tipo de problemas. Em 1938, filma Alexandre Nevsky , um épico sobre um príncipe na Rússia medieval que derrota os teutões que invadiam a Europa.

O filme tinha a intenção de elevar o moral dos soviéticos, que já previam o ataque por parte da Alemanha nazista. Tissé consegue durante a II Guerra trazer dos EUA, então aliados da URSS, duas câmeras Mitchell BNC com que filmam Ivan, O Terrível. Não se sabe o motivo, mas nesta produção Tissé realizou apenas as filmagens em locação, ficando o estúdio a cargo de Andrei Moskvin.

Uma terceira parte de Ivan , O Terrível chegou a ter 20 minutos filmados e editados, antes do falecimento de Eisenstein em 1948. Depois da morte de Eisenstein, Tissé associou-se com Alexandrov, com quem fez uma biografia do compositor Glinka. Filmou também com Aleksandr Ivanov e Abram Room, além da co-direção com Zakhar Agranenko em O Imortal Garrison em 1957.

Desde a sua morte em 1961, a contribuição de Tissé a cinematografia soviética e mundial vem sendo mais e mais valorizada pela crítica e pelos historiadores.

Dzintra Geka, uma diretora lituana, filmou em 1996 uma biografia de Tissé

Fotos de filmes fotografados por Tissé, podem ser vistas em:

http://www.carleton.edu/curricular/MEDA/classes/media110/Severson/pics.htm

A filmografia completa de Tissé pode ser encontrada em http://us.imdb.com/Name?Tisse,%20Eduard.

Outros sites consultados:

http://www.theasc.com/magazine/mar99/best/m8.htm
http://members.tripod.com/~afronord/eisen.html

(1) Luda, Jean Schnitzer e Marcel Martin, editores, Cinema in Revolution, Hill and Wang, 1973, p. 13.

(2) Karl Williams – crítico de cinema

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