Por Carlos Klachin
Sem dúvida o cinema é uma arte que reúne muitas artes, e por este motivo o potencial expressivo resulta de uma força incomparável. Mas também há uma palavra na frase anterior que reflete uma espécie de calcanhar de Aquiles: “potencial”. E isto significa que os recursos podem não ser utilizados de forma eficiente ou até mesmo mal utilizados.
Eles estão disponíveis, e hoje a tecnologia está democratizada. E não é só a tecnologia que está ao alcance da nossa realidade. Muitos profissionais do som e da imagem atingiram hoje no Brasil um grau de excelência notável, e veja que importante: mesmo nesta época de equipamentos sofisticados e difíceis até de entender para que servem, o material humano é o fator mais valioso e difícil de formar e de se conseguir.
Então temos tudo. Tudo? Em alguns casos não é bem assim. O cinema é audiovisual. E esse “áudio”, algumas vezes é subestimado. Isto não é pecado exclusivo do nosso mercado. Historicamente aconteceu em outras áreas audiovisuais e em outros países.
Mas os grandes realizadores repararam que o som podia ser mesmo 50% da mensagem, e não simplesmente um acompanhamento da imagem. E as tecnologias atuais sem dúvida liberaram novos horizontes. O som cresceu em qualidade, em número de canais, em resposta de freqüência, etc…
e passou a ser uma ferramenta poderosa, que colocada nas mãos de uma equipe competente, pode fazer muito pelo filme. Para entender a idéia do 50%, faça uma pequena experiência: Se tiver ao seu alcance um “home theatre” com som em formato 5.1, escolha uma seqüência interessante e sem diálogos de seu DVD favorito e assista.
Logo a seguir, desligue o som e assista a mesma seqüência. Com certeza concordará que a frase do 50%, não é um simples apelo de marketing.
E então, que falta nesses casos? Falta a disposição. Para aproveitar ao máximo o potencial tecnológico e humano, o diretor e o produtor precisam entender que em cada etapa de produção e posprodução, o som deve ter seu lugar.
Vamos conversar sobre alguns exemplos simples. Durante a filmagem, nessa escolha tão difícil que é a locação, inclua o som nessa solução de compromisso. O filme vai ganhar, e muito. Outorgue condições para que seu Técnico de Som possa fazer seu trabalho, considere-o com o mesmo cuidado que o Fotógrafo, ambos precisam de condições adequadas para desenvolver o seu trabalho. Faça-o participar, dê ouvidos ao que o Técnico de Som tem a dizer.
Da mesma maneira, convide seu músico para que trabalhe com som multicanal. O cinema funciona de uma maneira bem diferente da que acostumamos com os CD’s, que só utilizam dois canais. Procure um “Sound Designer” , ele fará exatamente o que seu Diretor de Arte faz com a sua imagem.
Ele ajudará a contar sua história e enriquecer o filme. Preveja tempo suficiente para a edição de som e para a mixagem. A mixagem é um elemento chave na arte das etapas finais, considere que o som se compõe da mesma maneira que uma sinfonia, onde há técnica, sensibilidade e bom gosto, e é nesse momento que o conjunto dos elementos do filme tomará a forma definitiva. E não se faz arte às pressas.
Depois, o masterizado do som será vital para garantir o controle do que ficará permanentemente no filme. É a linha divisória de águas. Este é o último momento onde é possível mudar coisas sem grande esforço e custos. Logo a seguir, o laboratório também precisará de procedimentos de ajuste e tempo no processamento do som e no copiado.
Permita que todos os profissionais façam seu trabalho com prazos razoáveis.
Atualmente, os laboratórios contam com excelentes salas padrão de exibição, eles lhe mostrarão toda a riqueza da imagem e do som do filme, todo o empenho colocado ali, a culminação desse longo esforço, às vezes de anos.
Se seu filme foi mixado em Dolby, ouvirá exatamente o mesmo que foi decidido durante a mixagem. Isto lhe dará a certeza do que as suas cópias contêm. É o que seu público tem direito de assistir. Estamos falando aqui da sua intenção, da sua obra. E por último, vem a exibição.
Às vezes, um trabalho excelente é totalmente perdido por causa de uma exibição tecnicamente deficiente. Agora que você já sabe como é a sua imagem e seu som, quando o filme entrar em cartaz nos cinemas ou for exibido em festivais, exija e reclame se ele não estiver assim.
Existe um padrão internacional de exibição. Se o filme não é corretamente projetado, se o som não é aquele que ouvimos na mixagem final, reclame. E reclame muito.
Poderemos desde o início, colaborar com você e com as pessoas envolvidas em cada processo, para que a sua idéia chegue ao público sem ser deturpada. Se tudo foi feito corretamente, todos ganham. E se alguém não fez direito em algum momento, perderemos todos. E fundamentalmente o público.