Por Danielle de Noronha
Affonso Henrique Ferreira Beato é um dos mais renomados fotógrafos do cinema brasileiro. Carrega em seu nome artístico, Affonso Beato, as siglas ASC – American Society of Cinematography – e ABC – Associação Brasileira de Cinematografia, que são resultado de sua bem-sucedida carreira, que há mais de 30 anos se divide entre o Brasil e os Estados Unidos, onde vive atualmente.
Beato nasceu no dia 13 de julho de 1941 na cidade do Rio de Janeiro. No início dos anos 1960 estudou na Escola Nacional de Belas Artes e também na cinemateca do MAM, onde conheceu diversos nomes importantes do cinema nacional, como os cineastas Cacá Diegues e David Neves. Suas primeiras lições de cinematografia foram ensinadas pelo fotógrafo argentino Ricardo Aronovich, AFC, ABC, que assina a fotografia de filmes como “Os Fuzis” (Ruy Guerra, 1964) e “São Paulo, Sociedade Anônima” (Luís Sérgio Person, 1965).
Em 1965, Beato fotografou seu primeiro filme, o curta-metragem “O Circo”, de Arnaldo Jabor. Seu primeiro longa é “Cara a Cara” (Julio Bressane, 1967), com o qual recebeu o prêmio de melhor fotografia no Festival de Brasília. Pela fotografia em cores de “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro” (Glauber Rocha, 1969) recebe reconhecimento internacional e decidi ir morar nos Estados Unidos, onde constrói uma sólida carreira, hoje contando com cerca de 50 longas, 60 curtas e 300 comerciais.
O diretor de fotografia ainda exerce o papel de professor e possui um amplo conhecimento sobre cinematografia digital e 3D, tema sobre o qual desenvolveu alguns aplicativos com o objetivo de simplificar a vida dos fotógrafos no set pós-digital. Sua palestra “Fundamentos de Estereografia – 3D” foi apresentada durante a Semana ABC 2011, no Rio de Janeiro, e na Semana ABC 2013, que ocorreu em São Paulo (foto ao lado. Crédito: Drika Silveira).
Ainda vale ressaltar que nos anos 1980, Beato aceitou a missão de estruturar o Centro Técnico Audiovisual – CTav da Embrafilme, depois transformado em Fundação do Cinema Brasileiro.
Em sua carreira, foi responsável pela fotografia de filmes como “A Rainha”, de Stephen Frears, e “O Amor nos Tempos do Cólera”, de Mike Newell, além de ser um colaborador frequente do diretor espanhol Pedro Almodovar (“Tudo Sobre mInha Mãe”, “Carne Trêmula” e “A Flor do meu Segredo”).
No Brasil, trabalhou com cineastas como Walter Salles (“Água Negra”) e Gustavo Dahl (“O Bravo Guerreiro). Com o diretor brasileiro Jayme Bonjardim fez o seu primeiro projeto para a Televisão com a série “Maysa”, transmitida pela Rede Globo em 2009, e depois repetiu a parceria com “O Tempo e o Vento”, lançado em 2013, seu último projeto feito no Brasil.
ABC
Affonso Beato também é um dos responsáveis pela criação da ABC, tendo participado das primeiras tentativas de formar a associação a partir da década de 1970, em torno do ambiente da cinemateca do MAM. O primeiro esforço com o intuito de criar a ABC aconteceu em meados de 1977, no Rio de Janeiro, conforme as lembranças de Lauro Escorel, contadas na matéria Memórias da ABC: “Nós nos reunimos num grupo, dos quais eu acho que faziam parte o Walter Carvalho, Fernando Duarte, Antonio Luis Mendes, Affonso Beato, José Medeiros, Luis Carlos Saldanha e Jorge Veras”.
Quando finalmente a ABC foi fundada, Affonso Beato foi o primeiro diretor secretário (1999-2001) e foi presidente da associação entre 2004 e 2005. O diretor de fotografia acaba de se tornar sócio remido da ABC.
Filmografia (retirada do livro “Dicionário dos Fotógrafos do Cinema Brasileiro” e do IMDB):
Siglas adotadas: CM: Curta-Metragem (até 30 minutos); Cofot.: Cofotografado; Codir.: Codirigido , Dir.: Diretor, Fot.: Fotografia MM: Média-Metragem (de 31 a 59 minutos); TV: Série de TV.
1965 – O Circo (CM); Heitor dos Prazeres (CM); Memória do Cangaço (CM); 1966 – O Auto da Vitória (CM); Lima Barreto – Trajetória (CM); 1967- Brasília, Contradições de Uma Cidade Nova (CM); O Povo do Velho Pedro (CM); 1968 – Brasil Verdade (episódio: Memória do Cangaço); Cara a Cara; 1968 (CM) (dir., fot.) (codir. Glauber Rocha); Copacabana me Engana; Viagem ao Fim do Mundo (cofot. por José Medeiros, Osvaldo de Oliveira e Clinton Vilela); O Bravo Guerreiro; 1969 – Macunaíma (cofot. Guido Cosulich); Máscara da Traição (cofot. Pompilho Tostes); O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Brasil/ França/Alemanha); 1970 – A Cantoria (A Memória de Cavalcante Proença) (CM); Frei Damião: Trombeta dos Aflitos, Martelo dos Hereges (CM) (cofot. Thomaz Farkas e Lauro Escorel); Erva Bruxa (CM) (cofot. Thomaz Farkas); O Engenho (CM); (cofot. Lauro Escorel); A Vaquejada (CM); Região: Cariri (CM); A Morte do Boi (CM); A Mão do Homem (CM) (cofot. Thomaz Farkas); Viva Cariri (CM) (cofot. Lauro Escorel); Pindorama; O Homem de Couro (CM); Os Imaginários (CM) (cofot. Lauro Escorel e Leonardo Bartucci); Jaramantaia (cofot. Thomaz Farkas); Padre Cícero (CM) (cofot. Thomaz Farkas); Casa de Farinha (CM) (cofot. Lauro Escorel); 1971 – O Homem das Estrelas (Le Maitre du Temps) (França/Brasil); Jornal do Sertão (cofot. Thomaz Farkas e Leonardo Bartucci); La Tierra Prometida (Cuba/Chile); O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil; Supergirl – Das Mädchen Von Den Sternen (Alemanha); 1972 – A Bandeira do Brasil (CM) (dir., fot.) (cofot. Renato Neumann e David E. Neves); De Raízes e Rezas entre Outros (MM) (cofot. Thomaz Farkas e Jorge Bodanzky); Herança do Nordeste (episódios: Casa de Farinha e Erva Bruxa); 1974 – Hot Times (EUA); The Girl with the Incredible Feeling (EUA); 1975 – O Terceiro Grau; 1976 – The Double Day (Dupla Jornada) (MM) (Brasil/EUA) (cofot. Christine Burrill); 1977 – Destino Manifesto (MM) (Cuba/Porto Rico); 1978 – The Boss’ Son (EUA); 1979 – Terra dos Índios; Simplesmente Jenny (MM) (Brasil/EUA) (cofot. Christine Burrill); 1981 – The Other and I (CM) (Brasil/EUA); Lavagem Cerebral (Circle of Power) (EUA); Documenteur (EUA/França); The Two Worlds of Angelita (Los dos Mundos de Angelita) (Porto Rico); 1982 – Brazilian Connection: a Struggle for Democracy (Conexão Brasileira) (MM) (Brasil/EUA) (cofot. Ron Zinnerman e Tom Sigel); 1983 – Routes of Exile: a Moroccan Jewish Odyssey (EUA); 1984 – Para Viver um Grande Amor; 1985 – Tropclip; Além da Paixão; 1986 – Acerto de Contas (The Big Easy) (EUA); 1989 – A Fera do Rock (Great Balls of Fire) (EUA); Por Cima do seu Cadáver (Enid Is Sleeping) (Over Her Dead Body) (EUA); 1991 – Marisa Monte: Mais; Blood Ties (EUA); 1993 – Risco de Vida (The Wrong Man) (EUA); 1994 – Uncovered (Inglaterra/Espanha/França); 1995 – A Flor do Meu Segredo (La Flor de mi Secreto) (Espanha/França); 1996 – Cinco Dias, Cinco Noites (Portugal); Mil e Um (Brasil/Espanha/ França/Portugal); 1997 -Pronto (EUA); O Informante (The Informant) (Irlanda/EUA); Carne Trêmula (Carne Trémula) (Live Flesh) (Espanha/França); Relógio Humano (Dead by Midnight) (EUA); 1999 – Traição (episódio: O Primeiro Pecado); Tudo sobre minha Mãe (Todo sobre mi Madre (Espanha/França); Orfeu; 2000 – Price of Glory (EUA); 2001 – Aprendendo a Viver (Ghost World) (EUA/Inglaterra/Alemanha); Adriana Calcanhoto – Público; 2002 – Deus é Brasileiro; 2003 – Jogo de Sedução (Dot the I) (Inglaterra/Espanha/EUA); Voando Alto (View from the Top) (EUA); Resistindo às Tentações (The Fighting Temptations) (EUA); 2004 – Histórias Divididas (Plainsong) (EUA); 2005 – Água Negra (Dark Water) (EUA); 2006 – A Rainha (The Queen) (Inglaterra/França/Itália); 2007 – O Amor nos Tempos de Cólera (Love in the Time of Cholera) (EUA); 2008 – Noites de Tormenta (Nights in Rodhante) (EUA/Austrália); 2009 – Maysa: Quando fala o coração (TV); 2011 – Cinema Verite (USA) (TV); Roberto Carlos Especial (TV); 2013 – A Grande Família (TV); O Tempo e o Vento.
Fontes
Esta pequena biografia foi escrita a partir do livro “Dicionário de Fotógrafos do Cinema Brasileiro”, de Antonio Leão da Silva Neto, e da entrevista de Affonso Beato para o Global Cinematography Institute.