Sessão ABC realiza debate sobre o filme “O Rio do Desejo”, na Cinemateca Brasileira

Após a exibição do longa, equipe e público trocaram impressões
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Cena de “O Rio do Desejo”, de Sérgio Machado. Foto: Divulgação

Por Luna D’Alama

Em parceria com a Cinemateca Brasileira, a ABC realizou, no dia 14 de setembro (sábado), às 15h, a sexta Sessão ABC de 2024, com a exibição do filme “O Rio do Desejo” (2023), de Sérgio Machado. A sessão foi seguida de debate com a equipe do longa. Participaram o diretor, o diretor de fotografia Adrian Teijido, ABC e o montador Marcelo Junqueira, com mediação da diretora de arte Ana Mara Abreu, ABC.

O filme é livremente inspirado no conto “O Adeus do Comandante”, de Milton Hatoum, e se passa na cidade de Itacoatiara (AM), de 103 mil habitantes. Segundo o diretor de fotografia, trata-se de uma obra audiovisual sensual e sensorial, com toques de mistério. “A Região Norte nos permite abrir a câmera. O céu, o sol, o rio, as nuvens, tudo é incrível. Dá para girar 360 graus e filmar o que quiser. Usamos muita luz natural, observamos o que já existia e aproveitamos. Em cenas de chuva, improvisamos. Dependendo da época do ano, o rio sobe 16 metros, isso faz parte da mágica. Você não consegue controlar nada no Amazonas”, contou Teijido.

Responsável pela direção de fotografia de grandes filmes brasileiros, como “O Palhaço” (2011), “Elis” (2016), “Marighella” (2019) e “Ainda Estou Aqui” (2024), além da série “Narcos”, da Netflix, Teijido utilizou em “O Rio do Desejo” uma lente anamórfica 2,35:1 para capturar a amplitude do espaço e tentar traduzir, para a tela, o universo mágico de Hatoum. Também usou como referências filmes do cineasta de Hong Kong Wong Kar-Wai, que dirigiu obras-primas como “Amor à Flor da Pele” (2000). “Eu sabia que estávamos fazendo um filme especial, fiz vários testes de lentes, inclusive com grande-angular, para provocar um desfoque interessante, que remetesse à literatura do Hatoum”, revelou Teijido, que venceu o Prêmio ABC 2024 (na categoria de Melhor Direção de Fotografia Longa-Metragem Ficção) e o Prêmio Grande Otelo 2024 (na categoria de Melhor Direção de Fotografia), ambos por “O Rio do Desejo”.

Teijido falou, ainda, sobre o trabalho do diretor de arte de “O Rio do Desejo”, Adrian Cooper, ABC. Cooper coordenou a pintura e o envelhecimento do barco menor, que veio de Manaus. Também pintou e mobiliou a casa dos personagens, que até então estava vazia. Além disso, o roteiro adaptou a loja de roupas de um dos irmãos, no conto original, para um laboratório de fotografia. “Brincamos com a luz vermelha, foi genial”, analisou Teijido. Ainda segundo o diretor de fotografia, o filme não tem vilões, traidores ou uma luta do bem contra o mal. “É um drama sobre relações humanas”, resumiu.

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A mediadora Ana Mara Abreu, o diretor Sérgio Machado, o diretor de fotografia
Adrian Teijido, ABC e o montador Marcelo Junqueira. Foto: Katê Takai

O montador Marcelo Junqueira também deu suas contribuições ao debate. Contou que foi o quarto montador envolvido no projeto, o qual foi temporariamente interrompido pela pandemia. “Me encantei com a atmosfera do filme e sentia que ele estava lá, só precisava acontecer. Logo vieram bons feedbacks de pessoas da confiança do diretor que viram os primeiros cortes. Estávamos no caminho certo. Cacei mais material e encontrei ouro”, lembrou.

Numa cena decisiva do filme, Junqueira inseriu uma revoada de pássaros, algo muito comum no Amazonas ao início e ao fim de cada dia. “De forma geral, era difícil escolher os takes, de tão bons que eram. Tivemos que tirar duas idas e vindas de barco, uma cena de tiroteio. Acredito que, se algo não está emocionando nem ajudando a contar a história, precisa ser tirado. Preenchemos com tempos e silêncios”, recordou. Segundo o diretor Sérgio Machado, os tempos e silêncios são justamente o espírito do filme, senão viraria uma história banal.

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Debate com a equipe do filme “O Rio do Desejo” após a Sessão ABC de 14/9. Foto: Katê Takai

Ainda de acordo com Machado, o que mais o encanta na obra de Milton Hatoum é o que não está escrito, o não dito. “Há muito subtexto. As pessoas dizem o que não estão pensando, escondem sentimentos. Os diálogos são sempre parte de uma mentira. Além disso, há algo de fantasmagórico em ‘O Rio do Desejo’, a mãe dos personagens que foi embora, o pai falecido. Forças ocultas, de antepassados, coisas que agem na trama e que não são perceptíveis num primeiro momento”, afirmou.

O cineasta explicou que a equipe filmou num momento de muitas dificuldades para o cinema brasileiro, e terminou de gravar pouco antes da pandemia, em 2020. Foi um projeto de baixo orçamento, com poucos recursos. “Captamos o dinheiro em editais, em seis meses. Mas o que, inicialmente, parecia suficiente depois se mostrou que não. Começamos o filme com 50 pessoas na equipe, e a cada semana vários iam embora. Encerramos com oito integrantes no total, incluindo os atores. A Sophie Charlotte chegou a bater claquete. Encarnamos o espírito de grupo, de pertencimento, estávamos unidos naquela aventura. Comíamos PF juntos à beira do rio, e a cidade nos acolheu muito bem, o clima foi amigável. Estávamos todos na mesma vibe, literalmente no mesmo barco”, disse.

O longa, segundo Machado, tem apenas 5 ou 10 minutos do conto de Hatoum. O restante reúne outros elementos do universo do escritor manauara. “Não queria fazer um filme sobre traição, mas sobre tesão, desejo. Não dar vazão ao desejo é a castração. A única lei que você não pode quebrar é a do desejo, senão vira uma pulsão de destruição, como ocorre com o personagem Dalmo”, destacou.

Para o diretor, o fundamental no cinema é entender sobre o que é o filme e o que você quer dizer com ele. “Gosto de abordar como, de perto, as pessoas são mais parecidas do que imaginamos, embora, de longe, as diferenças saltem aos olhos. Também gosto de mostrar que a vida é muito dura, mas vale a pena viver e amar”, afirmou Machado, que mostrou um livro de anotações sobre “O Rio do Desejo”, num processo de criação que costuma seguir em toda a sua filmografia. “Estreamos no Teatro Amazonas lotado, foi emocionante”, finalizou.

FICHA TÉCNICA
Diretor: Sergio Machado
Preparação de Elenco: Fátima Toledo
1º Assistente de Direção: Laura Mansur
Produtor de Elenco: Marcia Godinho
Roteirista: Sergio Machado, George Walker Torres, Maria Camargo, Milton Hatoum
Diretor de Fotografia: Adrian Teijido, ABC
Diretor de Arte: Adrian Cooper, ABC
Figurinista Masta Ariane
Maquiagem: Sonia Penna
Som Direto: Luciano Raposo
Diretor de Produção: Ricardo Karam
Montagem: Marcelo Junqueira e Ricardo Farias
Supervisão de Efeitos Visuais: Eduardo Schaal
Supervisão de Edição de Som: Alessandro Laroca, Eduardo Virmond Lima
Mixagem: Armando Torres Jr. ABC, Caio Guerin
Trilha Sonora: Beto Villares
Produtor(a) Executiva: Rodrigo Castellar, Ana Saito, Daniela Antonelli Aun
Produtores: Rodrigo Castellar, Pablo Torrecillas, Caio Gullane, Fabiano Gullane
Produtora: TC Filmes, Gullane
Distribuidora: Gullane+

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