Entrevista com Adriano Goldman, ABC

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Por Danielle de Noronha

O diretor de fotografia Adriano Goldman, ABC, fala sobre os seus trabalhos em projetos internacionais, como os filmes “Jane Eyre”, “Conviction” e, em particular, o “Sin Nombre”, pelo qual ganhou o prêmio de excelência em fotografia dramática no Festival de Sundance em 2009.

Como surgiu a oportunidade de você começar a trabalhar em projetos internacionais?

O meu primeiro projeto internacional foi o filme que eu fiz no México, apesar dele ter sido filmado no México, ele é americano, da Focus Filmes e a produtora M Kalfman tinha trabalhado no “Jardineiro Fiel”, do Fernando Meirelles. Quando ela tava no México procurando um fotógrafo pra ser parceiro do Cary, o diretor, ela pediu indicações para o Meirelles, que é meu amigo há muitos anos, com quem eu trabalho há muitos anos, eu comecei a minha carreira profissional dentro da produtora dele, e ele me indicou. Então, nesse caso específico foi assim. Depois fiz uma viagem à Nova Iorque, tive um final de semana lá, li o roteiro, conheci o diretor pessoalmente, a gente se deu muito bem e logo depois partimos para o trabalho no México. A partir daí, deste filme, eu passei a ter uma agente em Los Angeles. Eu fui procurado por uma agência que tinha visto o filme, que também tinha pessoas que conheciam essa mesma produtora M. Foi bom pra mim, conheci essa agência, conheci a agente pessoalmente e a gente começou a trabalhar juntos e desde então ela me representa nos trabalhos internacionais, ela me apresenta roteiros, enfim, ela faz o trabalho de uma agente que até então pra mim também era uma coisa desconhecida porque no Brasil os fotógrafos se representam, não existe a representação de uma agente, de uma outra pessoa. Eu passei a contar com ela para os trabalhos internacionais. O segundo trabalho que eu fiz nos EUA foi ela que me apresentou o diretor e me apresentou o roteiro, o terceiro trabalho foi com o mesmo diretor do filme mexicano, então já é uma relação que eu passei a ter, então é um pouco diferente do mercado brasileiro por conta da representação e da presença do agente, mas no fundo ainda é uma coisa que se estrutura na suas relações pessoais, na maneira como você se relaciona com o diretor, com o produtor, isso vai abrindo portas, tem sido assim, eu já leio pelo menos um roteiro gringo por mês, a gente vai analisando, alguns roteiros são bons, outros são ruins, então eu tenho seguido esse caminho através do agente.

Quais as principais diferenças com os projetos nacionais?

Olha, eu acho que talvez o que eu sinta como a principal diferença é a experiência, principalmente dos profissionais norte-americanos e ingleses. É difícil traduzir o que quer dizer isso, mas você sente uma maturidade muito grande na análise feita do roteiro pelo produtor, pelo assistente de direção. A engrenagem funciona melhor, por ela funcionar mais tempo, por eles trabalharem com orçamentos maiores, existe uma eficiência que está associada a experiência deles mesmo. O trabalho é bem parecido, a relação entre o fotógrafo e o seu gaffer, o seu maquinista, o que você pede e obtém da equipe também é parecido. Os filmes que eu fiz ate agora não são filmes de grande orçamento, então eu não tive nenhum filme de ação que eu tivesse múltiplas câmeras ou qualquer coisa parecida, mas em geral me parece que o que se sente, que não tem uma tradução específica, mas é um conhecimento do ofício, o profissional mais amadurecido, uma consequência da indústria que eles têm, da maneira como eles operam. Também os estúdios, que são os contratantes, eles são muito exigentes, eles fazem uma fiscalização do seu trabalho constante, permanente, eles assistem material bruto todo dia, existe uma supervisão do estúdio que obriga o mercado a se organizar e ser extremamente profissional, eu sinto que a cobrança é muito maior, a responsabilidade é maior, o que coloca todo mundo em uma prontidão e uma necessidade de organização e eficiência constante, então isso educou os profissionais ingleses e norte-americanos nos últimos anos, então eles estão mais maduros do que a gente neste momento.

A sua equipe é formada por brasileiros?

Eu trabalho com a equipe do local. No caso do filme mexicano levei comigo um operador de câmera brasileiro, que é meu amigo, a gente tinha duas câmeras e isso estava definido desde o começo, então eu fiz uma câmera e levei um amigo, uma pessoa com quem eu já tinha uma certa afinidade pra lá. Depois o segundo filme americano e os outros dois ingleses eu trabalhei com equipes locais.

O que achou de ser indicado no Independent Spirit Awards e ter ganho o prêmio no Festival Sundance de Cinema pelo “Sin Nombre”?

A indicação no prêmio Spirit é muito importante para mim, é em Los Angeles, é um prêmio que hoje em dia tem tradição, tem 25 anos, mas no caso do “Sin Nombre” o mais importante foi o prêmio que eu ganhei em Sundance, antes da indicação. O prêmio chama “Excelência em Cinematografia”, esse é um momento muito importante da minha carreira e do meu currículo. A premiação de Sundance foi em 2009 e a indicação do Spirit foi em março de 2010.

Como foi o trabalho neste filme?

Esse filme é basicamente de externas, a gente segue basicamente dois personagens, como eu te falei no início, nos tivemos duas câmeras no projeto. 90% foi feito com câmera na mão, tem um pouco de steadicam e algumas gruas, mas ele é um filme que a gente considera do estilo guerrilha, era feito em locações, com uma equipe que não era pequena, mas também não era enorme, muita viagem, muito deslocamento. Tem uma parte do filme que os personagens estão viajando de trem, então a gente viajou nos trens, em cima deles, porque eles são “surfistas metroviários”, eles vão em cima, pegam uma carona ilegal no trem, então a gente tinha essa questão de viagem, eles percorrem um grande caminho até chegar na fronteira com os EUA e a gente segue esses personagens. Então é um filme que a gente tentou fazer com que a filmagem fosse o mais simples, o mais leve possível pra podermos se deslocar com facilidade, filmamos em muitas locações apertadas, como carro, o próprio trem.

Qual câmera usou? E o negativo?

A gente usou Arricam Light e uma Arri 235. O negativo foi o Fuji Vivid 160 e o Fuji Eterna 500.

E sobre a luz utilizada?

Como havia muitas externas a luz solar foi muito utilizada, claro que tem várias cenas que foram também iluminadas, casas, carros, alguns interiores, a gente tinha uma equipe completa, um equipamento, que não era gigantesco, mas foi muito bem planejado. Nos dias que eram dias de externa, o equipamento era reduzido, nos dias em que filmávamos em cenários ou locações, o equipamento de luz era maior, mais pesado, foi planejado para que a gente não precisasse carregar esse equipamento o tempo todo.

Qual filtragem usada na câmera?

No “Sin Nombre” eu não usei filtros de correção, eu só usei filtros neutros e polarizadores.

Algum teste realizado previamente?

Fizemos vários testes quando já estávamos no México, inclusive para comparar Fuji e Kodak. Depois houve uma questão de orçamento e a Fuji era mais competitiva, aí eu testei a Fuji outra vez para ver qual eram os dois estoques que eu iria usar. Nesta mesma altura a gente ainda estava estudando se o filme ia ter uma finalização fotoquímica ou digital, então a gente testou o material ampliado, copiado, pra checar a qualidade de cada estoque da Fuji e foi depois que eu optei pelo 160 e pelo 500. O filme acabou tendo uma finalização digital.

Alguma locação em destaque?

Acho que o destaque do “Sin Nombre” são as filmagens nos trens, mais do que qualquer outra. Claro que tem outras locações principais no filme, como a casa onde a gangue mexicana se encontra, que foi um set construído, não em estúdio, mas em uma vila. Mas os trens e as paradas dos trens têm uma importância muito grande no filme.

Quantas pessoas faziam parte da equipe?

Na minha equipe havia umas 14 pessoas de elétrica e maquinaria e mais umas 8 pessoas de câmera. Assim, trabalhando no departamento de fotografia, por volta de 20 pessoas.

Há alguma curiosidade para contar das filmagens?

Acho que a curiosidade maior é a minha descoberta sobre o imigrante ilegal da América Central que tenta cruzar o México, chegar na fronteira norte-americana, entender que isso é um fenômeno presente, que todos os dias tem gente morrendo, caindo de trem, então muito mais o assunto, o tema do filme, foi uma curiosidade, um aprendizado para mim, do que necessariamente a filmagem em si. Como eu tinha feito filmes como “Cidade dos Homens” e “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, que eram filmes de câmera na mão, que tinha muita externa/dia, eu acho que o processo de filmagem do “Sin Nombre” era até parecido com os filmes que a gente faz, mas o assunto tratado era muito diferente. Talvez uma curiosidade que eu tenha pra contar é que, como a empresa de ferrovias do México nos permitiu filmar apenas em um pequeno trecho próximo a Cidade do México por uma semana, a paisagem que a gente conseguiu nesse pedaço foi muito seca, muito próxima do deserto perto da Cidade do México. Como o diretor queria a sensação da viagem ser muito longa, ele queria que a paisagem mudasse, como a gente não tinha condição de levar os trens, obviamente, o diretor de arte construiu sobre um caminhão muito grande, uma carreta muito grande, de 60m, uma replica de três vagões, então a gente começou a procurar estradas em linha reta que tivessem uma paisagem interessante, que a gente pudesse usar e passamos a ter esse “falso” trem como nosso trem principal. No filme você não sabe dizer qual o trem de verdade e qual o trem de mentira. Isso facilitou muito a vida da gente porque pudemos escolher quais locações e paisagens queríamos trazer para o filme.

Você ficou satisfeito com o filme?

Fiquei muito satisfeito. Eu lamento que, como o primeiro corte ficou muito longo, 2h20, pra chegar no tempo que ele tem hoje, 1h45, muita coisa foi cortada, inclusive algumas locações que eu considerava muito bonitas e momentos que, do ponto de vista da fotografia, eram muito bonitos e não estão no filme mais.

O filme estreou no Brasil?

Não estreou e nem sei se vai estrear. Mas fiquei surpreso que ele passou na televisão, não sei o canal, mas um amigo meu o viu na televisão. Talvez estréie em DVD, mas não sei.

Já tem novos projetos?

Tenho, mas ainda está aguardando os acertos finais, melhor aguardar e ter certeza que estarei no projeto para falar. Eu tenho lido roteiros, tenho tido algumas propostas interessantes, mas nada confirmado ainda.

Você tem dado preferência para filmes estrangeiros?

Sim, no ano passado fiz um filme fora, na Inglaterra, e fiz também o “Xingu”, do Cão Hamburger, aqui no Brasil. Eu estou buscando alternar projetos nacionais e estrangeiros, mas neste momento a minha prioridade é continuar insistindo na carreira internacional.

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