Por Carlos Ebert, ABC
Estava alguns minutos adiantado, mas quando virei a esquina ele já estava lá aonde havíamos combinado nos encontrar. Não nos víamos há 32 anos e nosso conhecimento anterior fora fugaz. Eu estava empenhado em realizar com o Sganzerla “O Bandido da Luz Vermelha” e tínhamos cogitado em chamá-lo para fotografar.
A aproximação se deu através de um amigo comum, Ivan China de Souza. Atrasamos a filmagem, a agenda dele estava cheia, e não aconteceu.
Agora, naquela manhã ensolarada de inverno carioca, o seu cumprimento emanava o mesmo jeito afável e entusiasmado que demonstrara em nossas conversações de três décadas atrás.
No caminho mostrou-me uma árvore enorme, cuja ramagem alcançava o outro lado da rua, recebendo um suave contraluz. Deformação profissional , pensei comigo. Um olhar que não se cansa de buscar.
Subimos por uma ladeira na encosta do Morro dos Cabritos até seu apartamento de onde se avistam os telhados de Copacabana. Seu preparo físico me surpreendeu, como me surpreenderia em seguida a sua extraordinária memória. Com raríssimas exceções , datas, nomes, locais e circunstâncias saíram sem hesitações durante as duas horas de entrevista.
O bom papo do carioca que há muito suplantou o mineiro, aliado a uma carreira de mais de 70 longa-metragens e centenas de documentários, rendeu assunto para uma outra sessão, que espero aconteça logo.Por agora ficamos com a sua iniciação profissional, e a fase inicial como Diretor de Fotografia que vai até 1958 com O Grande Momento de Roberto Santos.