Fernando Young: “Chacrinha: O Velho Guerreiro”

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Por Danielle de Noronha

Com previsão de estreia para setembro de 2018, “Chacrinha: O Velho Guerreiro” trará a história de José Abelardo Barbosa. O filme narra a trajetória de Abelardo desde o momento em que larga a faculdade de medicina para se aventurar em seu primeiro “bico” como locutor de rádio. Daí em diante, vemos sua vida se transformar e o nascimento do alter ego mais conhecido do Brasil, o velho guerreiro, Chacrinha.

Com direção de Andrucha Waddington e produção da Media Bridge, o filme foi rodado no Rio de Janeiro entre outubro e dezembro de 2017. O diretor de fotografia Fernando Young conta sobre o trabalho no filme e nos dá algumas dicas do que iremos encontrar nas salas de cinema.

Como surgiu o convite para fazer o filme e quais foram suas impressões ao ler o roteiro?

O convite surgiu através do Andrucha logo que terminamos de filmar a primeira temporada da série Sob Pressão, para a TV Globo. Fiquei extremamente contente e me senti desafiado. O filme trata de três épocas diferentes e tem a responsabilidade de contar passagens da história de um dos maiores comunicadores que já existiu. O Chacrinha era uma figura super intensa e revolucionária, inspirou todas as gerações que vieram depois dele. Foi provavelmente o comunicador mais bem-sucedido durante a transição da era do rádio para a era da televisão. Lembro que na primeira leitura de roteiro fiquei impressionado com a quantidade de locações do filme, que eram mais de 60.

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Quais câmeras e lentes foram utilizadas? Por quê?

Filmamos com duas Alexas Mini ARRIRAW 4:3 anamórfico e usamos as lentes Cooke Anamórficas 2x (25; 32; 50; 75; 100 e 135mm). Fiz a sugestão de formato para o Andrucha pensando que seria interessante explorarmos os cenários e ambientes de época com o benefício do look de uma lente anamórfica. Levamos em conta que o filme é pensado para a tela grande, e que os cenários construídos pelo Rafael Targat teriam 360 graus, portanto seria um privilégio crescer a imagem horizontalmente.

Foram realizados testes prévios?

Sim. O equipamento foi fornecido pela Marc Films e a Aymê Segatti nos ajudou muito disponibilizando uma série de lentes anamórficas e esféricas para compararmos. Como o Andrucha nunca havia filmado um longa-metragem com lentes anamórficas, foi super importante ele assistir o teste e se convencer de que poderia pensar o filme neste formato. Acabamos escolhendo a Cooke, pois tem um look ultra especial e apesar de ser uma lente mais moderna, tem todas as qualidades das anamórficas antigas e ainda acrescenta os tons e contraste similares aos da Cooke S4, cujo o Andrucha é apaixonado. O produtor executivo Fernando Zagalo também acreditou nas lentes e batalhou para conseguirmos tê-las conosco.

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Como foi pensada a luz do filme?

Desde o início pensamos que o filme deveria ter uma fotografia muito bonita, pouco realista e glamorosa. Para isso escolhi usar fontes grandes e difusas, sempre que possível. Usamos gelatinas com cores em alguns momentos, mas na maioria das cenas tínhamos uma luz recortada para o cenário e grande e difusa para os atores.

O que dizer das locações? Como foram recriados os estúdios de TV?

Esse filme teve uma enorme quantidade de locações. Filmamos entre Rio e Petrópolis, por conta das locações de época preservadas. Tivemos 10 dias de estúdio, quando o diretor de arte Rafael Targat recriou diversos cenários das TVs por onde o Chacrinha passou: TV Excelsior, TV Tupi, Bandeirantes e Globo. Várias vezes ele transformava o picadeiro e o auditório de uma TV pra outra durante a noite e filmávamos no dia seguinte. Fiz um desenho de luz junto com o meu Gaffer, Marcílio Nascimento, e com o Maquinista Flávio Bala, para que pudéssemos absorver todas as trocas. Então, subimos toda a luz do grid antes do cenário ser construído. Mudávamos a cena de luz do palco de acordo com a época e cenário, apenas na mesa de controle. Todos os refletores que usamos no estúdio eram de época, como Par 64, Scoope, Fresnel e Trucuçu, portanto podíamos enquadrá-los sempre que necessário.

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Quais foram as referências para o filme? Foi utilizado material de arquivo?

As principais referências para o filme foram os próprios programas do Chacrinha, as entrevistas e o vasto material de pesquisa que tivemos acesso durante as preparações. Foi muito enriquecedor vermos os palcos, a movimentação dos câmeras, a primeira transmissão de TV em cores… A primeira lente zoom usada na TV brasileira também foi no programa do Chacrinha na década de 1970. Até o momento só existe uma imagem de arquivo no filme que é aplicada na TV da coxia durante um programa do Chacrinha na Band, aonde está se apresentando o Raul Seixas. Na cena, vemos ao fundo no palco um ator interpretando o Raul Seixas e na TV da coxia, que está em quadro, a imagem de arquivo.

Como a fotografia ajudou a levar a narrativa para o passado?

Fizemos muitos planos longos em steadicam, operado pelo Fernando Fernandes, em que aproveitamos os cenários de época e fizemos longos passeios com a câmera em ambientes cenografados, ruas com muitos carros de época e muita figuração. Acredito que esses planos longos em cenários de época trouxeram ao espectador uma certeza maior da verdade naqueles ambientes… Além disso, a câmera sempre esteve em movimentos clássicos, como trilhos, gruas e steadicam, na maioria das vezes com movimentos lentos.

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E como a fotografia atuou para ajudar a diferenciar o personagem Abelardo Barbosa na sua vida privada e quando este se transformava no Chacrinha?

O Chacrinha teve uma vida muito dura, totalmente dedicada ao trabalho, teve o acidente do filho… Era um verdadeiro palhaço quando estava no picadeiro, mas era sério e duro nos bastidores. Tivemos a sorte de contar com o Stepan Nercessian interpretando o Chacrinha. Era um privilégio vê-lo em cena, com atuações geniais. Escolhemos um apartamento para a casa do Chacrinha localizado na Av. Rui Barbosa, no Flamengo, de frente para o morro do Pão de Açúcar. Esse apartamento tinha parede de madeiras, muitos livros, e um clima mais fechado. Ali se deram algumas situações de conflito do filme, como as brigas com a Florinda, o mal-estar da relação com a mãe dele, Dona Amélia. Acho que essa locação ajudou bastante a visualizar o drama pelo aspecto mais soturno. O apartamento original do Chacrinha era na praia de Copacabana, mas durante as visitas de locação achamos que não teria sentido filmarmos ali, pois a maioria das cenas na casa do Abelardo era noturna, o que significava que não veríamos nada pelas janelas, além do céu e mar escuros. No apartamento da Rui Barbosa víamos a Urca ao fundo mesmo de noite, além da Pão de Açúcar parcialmente iluminado.

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O que pode nos contar sobre a relação da fotografia com a equipe de arte?

A relação com a equipe de arte foi incrível, o Targat conseguiu construir cenários belíssimos e recriou com autoridade alguns cenários marcantes de diversas fases do Chacrinha. Nós conseguimos encontrar boas locações para completar os ambientes interessantes por onde o Chacrinha esteve. O trabalho da equipe de arte nesse filme foi imenso e eles todos foram incansáveis, pois todos os sets eram grandiosos, com muita cenografia e objetos. O figurino do filme também é especial, o Marcelo Pies a cada programa vestia mais de uma dúzia de Chacretes, além do corpo de jurados, cantores e calouros, e da espetacular Elke Maravilha. Todos os sets do filme eram imensos em quantidade de personagens, cenografia ou locação. O Targat construiu uma câmera cenográfica para o programa do Chacrinha para que pudéssemos colocar nossa câmera dentro e o Pablo Hoffman, operador de câmera e grande parceiro do projeto, pôde ficar em cena com uma roupa de época enquanto rodávamos com a segunda câmera um plano geral. Isso funcionou muito bem e agilizou muito a nossa filmagem durante a estadia no estúdio. A arte também nos proporcionou diversos pontos de luz que foram fundamentais para justificar nossas próprias fontes de luz, além de promover um desenho bonito de flares e texturas.

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Como é trabalhar com Andrucha Waddington?

O Andrucha é sem dúvida o diretor mais empolgante com quem eu já trabalhei, porque é a pessoa que eu conheço que mais ama filmar. Aprendi muito com ele desde que comecei a trabalhar como diretor de fotografia e o mais bacana de estar em um set de filmagem com o Andrucha é o fato de que, apesar dele já ter filmado de tudo um pouco nesta vida, ainda carrega um desejo gigantesco e cativa todos que estejam por perto. Ele filmou com todos os grandes fotógrafos do Brasil e é muito claro quando acredita ou não em uma ideia, o que traz muita segurança para quem está por perto.

Como foi o workflow de pós e qual foi (e será) a sua participação nele? Qual a previsão de estreia do filme?

O filme tem a estreia prevista para setembro de 2018. Durante as filmagens a logger Julia Paruker foi aplicando os LUTs feitos para cada locação, o que foi essencial para visualizarmos o filme com o clima desejado. O material foi sendo convertido com os LUTs que desenvolvemos no set e a edição foi feita com esse desenho de luz. A marcação de cor será feita pelo mestre e grande parceiro Sérgio Pasqualino, que também fez a marcação de cor do Sob Pressão. Estaremos juntos em junho, quando teremos três semanas para a cor.

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Algo mais que gostaria de acrescentar?

Uma das grandes alegrias nesse projeto foi poder contar com a presença do meu grande mestre Mustapha Barat, operando uma Scorpio Head na Super Technocrane durante algumas diárias.

Gostaria de deixar um agradecimento especial às equipes de câmera, elétrica e maquinária, que acreditaram no projeto e deram o coração pro nosso filme. E também aos produtores Zagalo, Cosimo e Angelo, que nos proporcionaram uma estrutura impecável de equipe e equipamentos.

Ficha Técnica: 
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Angelo Salvetti, Altino Pavan e Cosimo Valerio
Produtor Executivo: Fernando Zagallo
Produtor Associado: José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni
Elenco: Stepan Nercessian, Eduardo Sterblitch, Gianne Albertoni, Carla Ribas, Gustavo Machado, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio, Thelmo Fernandes, Laila Garin, Amanda Grimaldi, Antônio Grassi, Karen Junqueira e Marcelo Serrado.
Roteiro: Claudio Paiva
Colaboração de Roteiro: Carla Faour e Julia Spadaccini
Direção de Fotografia: Fernando Young
Direção de Arte: Rafael Targat
Montagem: Sergio Meckler
Figurino: Marcelo Pies
Som: Jorge Saldanha
Fotografia Still: Suzanna Tierie/Media Bridge
Produção: Media Bridge
Coprodução: Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
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