Glauco Firpo: “Mormaço”

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Por Danielle de Noronha

A história de Mormaço, primeiro longa-metragem solo de Marina Meliande, acontece no Rio de Janeiro, em 2016, no verão mais quente da história. A cidade está se preparando para os Jogos Olímpicos. Ana, uma defensora pública de 32 anos, trabalha na defesa de uma comunidade ameaçada de remoção pelas obras do Parque Olímpico.

Enquanto isso, ela tem notado manchas roxas parecidas com fungos em seu corpo. Coisas estranhas começam a acontecer na cidade, assim como no corpo de Ana. A temperatura sobe, criando uma atmosfera úmida e sufocante. O mal-estar acumula-se antes de dar lugar a fortes chuvas.

Entrevistei o diretor de fotografia Glauco Firpo, que nos conta sobre o trabalho do filme.

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Quais foram suas impressões ao ler o roteiro?

Quando li o roteiro da Marina Meliande e do Felipe Bragança fiquei impressionado e arrepiado com a possibilidade de contar essa história super potente, com uma parte documental e uma parte ficcional, inserindo um universo metafórico e fantástico através uma doença misteriosa que nossa personagem Ana começou a desenvolver. O contexto no qual vivíamos naquela época era de pré-olimpíadas e de muita especulação imobiliária, com remoções de partes da população em algumas áreas, tanto no Rio de Janeiro quanto no Brasil como um todo.

Onde buscou inspirações e referências para o longa?

Quando começamos a conversar, eu e Marina estudamos e assistimos vários filmes juntos, lembro muito de falarmos das cores e dos enquadramentos do L’apollonide, de Bertrand Bonello.

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Foram realizados testes prévios? Como foi a pré-produção?

Ao ler o roteiro, que retrata das remoções e do abandono da cidade do RJ, o fotógrafo e ativista André Mantelli, amigo da diretora, falou e alertou sobre o que estava ocorrendo na vila autódromo nessa época de pré-olimpíadas. Sendo assim, durante a pré-produção do filme, eu, Marina Meliande (diretora) e Marianne Macedo (assistente de direção) estivemos algumas vezes na Vila Autódromo a fim de conhecer as pessoas e o que estava acontecendo por lá.

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Ao se deparar com toda aquela destruição das casas, as remoções dos moradores e um largo aparato policial – tudo isto ao lado de mega construções da Vila Olímpica – decidimos começar a filmar logo, de uma maneira mais documental. Desta forma a Marina conheceu vários moradores e chamou alguns deles para participarem das nossas filmagens.

Durante essa etapa de pré-produção documental usamos uma Black Magic Studio e duas lentes zoom, 24-70 e 70-200 Canon serie L. Captamos as cenas de casas sendo demolidas, e alguns de nossos personagens, tanto os atores quanto os não atores, circulando na Vila Autódromo.

Quando começamos a filmar, nossas duas primeiras diárias seriam na casa da Dona Penha, uma das casas pilares da resistência dos moradores da vila. A cena era uma reunião de moradores em frente a várias casas demolidas com o complexo olímpico ao fundo. Na primeira diária estávamos tranquilos, filmando, com as obras paradas pois era num domingo. Conseguimos fazer a cena inteira e mais alguns planos de passagem. Após isso ainda rodamos duas cenas na casa da Dona Penha.

No segundo dia antes de chegarmos no set, às 07h, já tinham mais de 100 policiais da prefeitura e a casa da dona Penha prestes a ser demolida. Pegamos a câmera e registramos o que estava acontecendo.

Nessa parte mais ficcional usamos a Alexa XT com Lentes Leica Summilux C. Zoom Fujinon 19-90 e em algumas diárias uma Zoom angenieux 24-290.

Durante a pré-produção fiz um teste com Master Prime, mas preferi a lentes Leica, não só pela textura, mas também pela logística e agilidade.

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O filme tem muitas externas. Poderia nos contar um pouco sobre a dinâmica das filmagens?

Na verdade eu tive muita sorte em contar com o Gaffer Marcinho Lima e o maquinista Thiago, eles conseguiram formar uma equipe incrível, junto com o Barcelona (de Minas Gerais), Tareco (da Bahia) e o Filipinho (de SP). Estávamos sempre fazendo frente no apartamento que gravamos e nas externas nossa equipe era mais reduzida.

O mormaço, que dá nome ao filme, é impresso de alguma forma na fotografia e luz que foram desenvolvidas no longa?

Creio que sim, nossa ideia inicial era que o filme fosse ficando mais escuro durante o decorrer da história, quase como se nossa passagem do mundo documental para o universo fantástico alterasse o look. Como se o filme fosse mais solar no início e com o passar do tempo, e conforme a doença da personagem fosse se alastrando, construíssemos um ambiente mais úmido, com menos sol e mais contraste, como se o nosso redor fosse mofando aos poucos.

Lógico que com um cronograma super apertado, e dificuldades de adaptação no cronograma em algumas diárias externas, tivemos dias mais nublados. Mas acho que com a maravilhosa direção de arte da Dina Salem Levi e a impressionante e impecável maquiagem da Mari Figueiredo alcançamos o visual desejado de um Rio de Janeiro muito quente que está sendo abandonado e ficando cada vez mais doente.

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Poderia falar um pouco sobre esse diálogo da equipe de fotografia com as equipes de som e arte?

Com relação à equipe de arte é sempre muito bom e prazeroso trabalhar com a Dina, já tinha feito um filme super difícil juntos – Não Devore meu coração do Felipe Bragança –, penso que conseguimos ter um diálogo muito aberto sobre o filme e onde queríamos chegar. Sobre a equipe de som, foi a primeira vez que trabalhei com a Valéria Ferro e o Renato Calaça. Eles são profissionais maravilhosos e super experientes, que foram fundamentais na construção da nossa narrativa.

E como foi trabalhar com a Marina Meliande?

A Marina Meliande é uma diretora sensacional, foi muito bom poder colaborar com ela no seu primeiro longa-metragem solo. Ela já tinha dirigido dois filmes em parceria com o Felipe Bragança. Hoje eu lembro que todos os dias, no final das diárias depois de todas as nossas correrias, eu conseguia perceber a aula de humanidade e cinema que eu acabava de ter tido com ela. Gosto muito da maneira que ela pensa e raciocina o filme, a Marina tem formação muito sólida e já montou diversos filmes incríveis. Foi um super desafio pois a Marina é muito rígida nos enquadramentos e nas linhas que compõem o quadro.

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Qual foi a sua participação no workflow de pós e como foi a dinâmica do trabalho?

Durante as filmagens nossa Logger Tati Duarte já fazia uma conversão do material gravado em REC709 que era encaminhado para a ilha de edição, onde o Rodrigo Lima e a Marina Meliande montaram o filme. Após isso, durante a finalização, fizemos nossa parceria com a Mistika Post e junto com a incrível colorista Samanta do Amaral e a Marina Meliande, conseguimos chegar no look do filme.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Gostaria de agradecer imensamente a toda equipe que fez esse filme, em especial a minha amada equipe de câmera, parceira de tantos projetos, como o foquista Arno Schuh e a segunda assistente Lígia Tiemi Sumi. Também não posso deixar de agradecer imensamente assistente de direção Marianne Macedo Martins e o produtor executivo Leonardo Mecchi, pois sem eles teria sido impossível de fazer este filme.

Ficha Técnica:
Direção: Marina Meliande
Roteiro: Felipe Bragança e Marina Meliande
Produção: Leonardo Mecchi e Marina Meliande
Direção de Fotografia: Glauco Firpo
Direção de Arte: Dina Salem Levi
Maquiagem: Mari Figueiredo
Som direto: Valéria Ferro e Renato Calaça
Trilha Sonora: Edson Secco
Estúdio: Duas Mariola Filmes e Enquadramento Produções
Montadores: Marina Meliande e Rodrigo Lima
Colorista: Samanta do Amaral
Distribuidora: Vitrine Filmes
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