Marcelo Durst, ABC: “Big Jato”

Big Jato Destaque

Por Danielle de Noronha

Com direção de fotografia de Marcelo Durst, ABC, o novo filme de Claudio Assis, Big Jato, estreia nesta quinta, dia 16 de junho. O longa-metragem é inspirado no livro homônimo de Xico Sá e fala sobre o rito de passagem da anarquia adolescente para a dureza da vida adulta.

O filme traz a história de Francisco (Matheus Nachtergaele), o Velho, de 49 anos, que ganha dinheiro com aquilo que a humanidade mais tem nojo e despreza: dejetos, fezes, sobras, lixo. Na boleia do Big Jato, seu caminhão limpa-fossas, Francisco e o seu filho adolescente Xico (Rafael Nicácio) mantêm um diálogo, na maioria das vezes em tom estranhamente poético, sobre o trabalho que fazem e refletem sobre a sujeira humana como fator de igualdade entre as pessoas.

O fotógrafo Marcelo Durst conta um pouco sobre o seu trabalho no filme.

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Como surgiu o convite para participar do filme?

Há mais ou menos 26 anos fotografei um curta do Claudio Assis, Soneto do Desmantelo Blue. Foi uma experiência muito boa e, acho que foi aí que, ao procurar um fotógrafo para o Big Jato, o Claudio Assis resolveu me contatar.

Como foi a pré-produção e quais testes foram realizados?

A pré-produção consistiu basicamente da leitura e discussão do roteiro com o Claudio e roteiristas e da visita de locações com o Claudio, com a assistente de direção, Julia Moraes, e com a produção. Não fiz muitos testes, apenas dos cristais que distorcem a imagem em câmera, como no início do filme, de modo a representar os sonhos, delírios e as lentes dos óculos de Chico.

Quais câmeras e lentes foram escolhidas? Por quê?

Em concordância com outros filmes do Claudio e meus, e na procura de uma super beleza na simplicidade, resolvemos fazer o filme em película. Usamos câmeras em Super 35, na maioria a Aaton Penelope em 2 perfurações, e também a Aaton III e Arri em 4 perfurações. Usando as lentes Cooke S4 e o Super 35 para se obter o formato 1 para 2:35. Procuramos usar as melhores, mais práticas e versáteis ferramentas disponíveis naquele momento, e ao mesmo tempo ter o melhor resultado possível para a tela grande.

Quais foram os equipamentos de movimento utilizados e como foi o trabalho com eles?

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Como já tínhamos filmado juntos, e baseado na visita de locações, optamos por utilizar bastante a cabeça eletrônica, as vezes pendurada em trilhos aéreos ou acoplada ao caminhão e, principalmente, numa grua periscópica de 7 metros. Além, claro, de algumas cenas de câmera na mão. Acho que o resultado, dentro do tempo curtíssimo que conseguimos filmar (18 dias), foi excelente.

O que dizer das locações?

As locações em Pernambuco foram incríveis, mas tivemos que enfrentar muita e, não comum, chuva. O que, na minha opinião, acabou resultando num visual não típico ou normal do sertão nordestino, tornando o filme diferente dos já lá filmados e não tipicamente regional.

Onde você buscou inspiração para a fotografia desse filme? Como o livro te inspirou?

Desde o primeiro momento em que li o Big Jato, o que mais me interessou na estória foi a trajetória do menino que ama, vê, se espelha, no pai. Mas que, ao se deparar com um antagonista, vê outro exemplo, questiona, tem que encontrar seu próprio caminho e se separa do seu ídolo, seu pai. Para mim é uma estória como no clássico cowboy Shane, os Brutos Também Amam, em que a maturidade, ou fim da infância, consiste nesse rompimento com o maior ídolo e referência, no caso o seu pai. No nosso caso, também é o pai, o Velho. No Shane, o contraponto é o pistoleiro Shane. No Big Jato é o Tio Nelson. O conceito da fotografia nasceu em como contar essa transformação dentro deste menino. Isso pode se ver tanto nas distorções e reflexos que fazem a sua visão como nos movimentos de câmera que sempre acompanham e contam o que se passa com o menino. Bem como na visão do seu mundo poético.

A fotografia buscou diferenciar os dois personagens interpretados pelo Matheus Nachtergaele? Como foi realizada essa diferenciação?

A fotografia buscou uma leve e sutil diferença de cor de pele do Velho (levemente mais amarela) e no Tio Nelson (levemente mais vermelha), uma diferença muito sutil, mas que ficou naturalmente marcada na própria diferença das locações que os dois personagens frequentam. Buscamos não cair num estereótipo, de uma diferença muito esteticista, mas ao mesmo tempo queríamos ter uma diferença que ajudasse a imediatamente reconhecermos e diferenciarmos os dois personagens.

Como foi trabalhar com o Claudio Assis?

Foi maravilhoso. O Claudio é um diretor fantástico, maduro e instigante. Com muita delicadeza e calma, cativa e apaixona a equipe na busca do melhor possível.

O que dizer do workflow de pós-produção e sua participação nele?

Este filme teve uma finalização única, e maravilhosa, foi escaneado diretamente do negativo 35 para 4k. Isso deu a imagem uma limpeza, leveza e transparência que poucas vezes pude ver na pós-produção. Isto só foi possível graças a dedicação e paixão pelo filme da Quanta Post e principalmente do Guilherme Ramalho e sua maravilhosa equipe. Dada nossa amizade de longa data e busca do melhor, trabalhamos intensamente juntos e foi um processo incrível.

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Amo este filme e espero que consiga superar suas dificuldades de orçamento, como fizemos na produção, e tenha também uma boa carreira de exibição e, principalmente, uma descoberta a nível internacional, pois acredito muito na sua abrangência universal por tratar tão profundamente dessa jornada de um menino poeta.

Ficha Técnica
Direção: Cláudio Assis
Roteiro: Hilton Lacerda e Xico Sá
Elenco: Artur Maia Vertin Moura, Clarice Fantini, Fabiana Pirro, Francisco de Assis Moraes, Gabrielle Lopes, Marcélia Cartaxo, Matheus Nachtergaele, Pally Siqueira e Rafael Nicácio
Produção: Marcello Ludwig Maia e Stella Zimmerman
Direção de fotografia: Marcelo Durst. ABC
Som direto: Valéria Ferro
Edição de som e mixagem: Miriam Biderman, ABC e Ricardo Reis, ABC
Direção de arte e cenografia: Ananias de Caldas e Karen Araújo
Montagem: Karen Harley
Trilha Sonora: DJ Dolores
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