O som e a fotografia em “Berenice Procura”

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Por Danielle de Noronha

Berenice Procura é um suspense baseado no romance homônimo de Luiz Alfredo Garcia-Roza, com direção de Allan Fiterman.

Berenice (Claudia Abreu) é uma mulher de 35 anos, extremamente dedicada ao seu trabalho de taxista no Rio de Janeiro. É totalmente consumida pela profissão e o pouco tempo que lhe sobra precisa ser dividido entre a criação do filho, Thiago (Caio Manhente), um adolescente descobrindo sua sexualidade e sua conturbada relação com o marido Domingos (Eduardo Moscovis), 45 anos, repórter policial.

As marcas do relacionamento desgastado, arruinado pelos rompantes violentos do marido, apagaram sua feminilidade, e a levaram a um grande vazio existencial. O assassinato da transgênero Isabelle (Valentina Sampaio), na praia de Copacabana, acende seu lado investigativo e transforma sua vida.

Os editores de som Miriam Biderman, ABC e Ricardo Reis, ABC falam sobre a edição de som do filme e o diretor de fotografia Azul Serra comenta sobre a fotografia.

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Em qual momento vocês começaram a atuar no filme e como foram as primeiras impressões ao ter contato com o material captado do Berenice Procura?

Nosso contato inicial com o projeto foi depois do filme rodado e montado. Ainda não estava em corte final, mas já tinha uma estrutura montada.

A produtora Elisa Tolomelli entrou em contato conosco pois precisava de um acabamento de som muito delicado.

Houve um processo longo de dublagem com a personagem da Valentina, feito em duas etapas. Tivemos que dublar todas suas falas, pois havia uma questão de inteligibilidade. No entanto, ela se empenhou muito e conseguimos bons resultados.

Como foi a relação com a direção do filme?

O diretor, Allan Fitterman, é muito experiente em direção em televisão. Ele foi muito eficiente e preciso na direção das dublagens e nas orientações estéticas do som do filme: nos planos sonoros e nas paisagens sonoras.

Era importante criar nessas paisagens naturalistas, climas de tensão fundamentais para um filme policial, de suspense. Trabalhamos as ambiências junto com as trilhas compostas para acentuar os climas.

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Berenice Procura Foto Mariana Vianna

Quais são as dificuldades para o trabalho de edição e mixagem em um filme que percorre diversos lugares do Rio e locações como a boate?

As locações principais são: apartamento da família, apartamento da modelo, a favela e a boate.

O apartamento da família (Berenice e Domingos) era uma locação com muito ruído de fundo. Tivemos dificuldade em várias cenas devido a esse problema. Foi necessário fazer muita dublagem também. Não era um problema de captação, mas, sim, da locação em si. Que, apesar de ser adequada para o roteiro, gerou problemas técnicos. Paradoxalmente, adicionamos sons de cidade para adicionar tensão para as cenas de uma família disfuncional. Criamos sons repetitivos dentro do apartamento para acentuar a rotina da família, principalmente da personagem principal, Berenice.

O apartamento da modelo é um prédio muito conhecido no Rio de Janeiro. É também em Copacabana, super povoado, e era preciso trazer essa vida externa ativa para dentro do apartamento.

A favela que ele nos pediu, não era uma favela violenta. Era Viva, cheia de sons humanos da comunidade, rádios e músicas.

A boate era um lugar amplo e com vários ambientes. O palco onde acontecia os shows e os ensaios; o camarim, a sala da gerente.

Berenice Procura é um filme bastante musical. Como foram feitas as cenas dos shows?

Os shows, que são as cenas musicais, foram todas feitas com playback.

Importante salientar a mixagem, feita pelo Paulo Gama. A mistura do som direto com as dublagens, a utilização do playback nas sequências musicais, a interação dos ambientes naturalistas com os climas de suspense. Tudo isso feito de maneira sutil, mas com muita personalidade!

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Azul Serra fala sobre a fotografia de Berenice Procura

Filmar o Berenice foi uma das experiências fotográficas mais prazerosas que já tive, e isto porque o Allan Fitterman, além de um excelente diretor, é um diretor de fotografia por formação. Por anos deu aula no New York Film Academy e quando voltou ao Brasil dirigiu e fotografou o longa Embarque Imediato. Trabalhar com um diretor que ama e valoriza se expressar imageticamente é um presente, ainda mais quando este possui uma sensibilidade refinada como o Allan!!! Tudo fica mais fácil e mais divertido.

O filme é um drama policial com uma pitada de noir neon dos cabarés. Decidimos dar um acento grande na diferença entre o mundo de uma família tradicional decadente e o mundo LGBT+ da noite, onde as possibilidades são infinitas.

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No apartamento da família, a câmera andava lenta, tudo levava para a estagnação, ao peso à meia luz.

Ao chegar no mundo trans de Isabelle DeLux, havia glamour, reflexos, luzes e cores.

Evitamos ao máximo plano e contraplano. Ficávamos quebrando a cabeça para criar planos-sequência que conseguissem nos conduzir pelo enredo, mas tomando aquele cuidado para não ficar pedante.

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Vale a pena destacar o operador de Steady Ale Ferracine que nos ajudou muito a realizar planos-sequência complexos. Um exemplo é o plano de abertura do filme. A cena que o corpo de Isabelle é descoberto morto na praia de Copacabana.  Abrimos o plano-sequência com Berenice dirigindo seu táxi pela avenida Copacabana, a câmera persegue o táxi usando um segway, o táxi para do outro lado da rua, Berenice sai andando, Alê desce do Segway e sai acompanhando Berenice. Ela então entra no calçadão e avista a cena do crime, repleta com outros personagens, a câmera acompanha de perto e sobe discretamente numa grua e encerra o plano com o corpo de Isabelle entrando numa ambulância num ângulo zenital. Foi complicado fazer, mas achávamos que seria uma forma de contarmos tudo de um jeito interessante. Foquista, a 1ª assistente de câmera, Julia Schimdt, foi maravilhosa também. O Alan gosta muito de desenhar planos com movimento e tende a preferir lentes mais fechadas. Usamos as Zeiss Super Speeds e quase o tempo todo no limite da abertura 1.3, ou seja, aquele leve pânico de qualquer foquista, e ela foi impecável. Usamos a Red Dragon e finalizamos na Afinal Filmes com o colorista Pedro Saboya.

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Ficha Técnica
Direção: Allan Fiterman
Produção: Elisa Tolomelli
Roteiro: Flávia Guimarães e José Carvalho
Colaboração no Roteiro: Flávia Lacerda, Allan Fiterman e Elisa Tolomelli
Supervisão de Roteiro: Hilton Lacerda
Produção Executiva: Thais Mello
Direção de Fotografia: Azul Serra
Direção de Arte: Guga Feijó
Diretor Musical: João Paulo Mendonça
Música Adicional: Daniel Tauszig
Maquiagem: Marco Souza
Figurino: Antonio Medeiros e Tatiana Rodrigues
Montagem: Fábio Jordão
Som Direto: Toninho Muricy
Edição de Som: Miriam Biderman, ABC e Ricardo Reis, ABC
Mixagem: Paulo Gama
Gaffer: Joubert Freitas
Chefe de Maquinária: Willian Pereira
1AC: Julia Schimdt
2AC: Clarice Nicioli
Vìdeo Assist: Daniel Floresta
Logger: Julia Mello
Fotos: Luciana Tolomelli e Mariana Vianna

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