“Grace”: A Experiência De Filmar Com A Nova Alexa 35

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Na véspera da Semana ABC fui convidado para escrever uma matéria sobre a nova câmera ARRI 35, além dos dados que recebi da ARRI, pude vê-la como alguns de vocês durante o evento.

 Imagino que como a maioria, fiquei impressionado com as mudanças e melhorias em particular, mas não somente, o sensor e os 17 stop de latitude de exposição. Mas como não tive ainda oportunidade de testar ou filmar com ela, em vez de citar dados já disponíveis publicamente, prefiro introduzir a matéria do nosso colega membro da ABC Dennis Zanatta, que filmou e escreveu sobre essa experiência para nós.

 Abraço,

 Mustapha Barat, ABC
Presidente

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Por Dennis Zanatta

Depois de uma década do lançamento da primeira Alexa, a ARRI lançou oficialmente no mês de junho deste ano a sua nova câmera digital de cinema, a Alexa 35, com um sensor nativo 4.6K Super 35 e dezessete “stops” de latitude de exposição (2.5 stops acima das anteriores). A nova câmera inicia uma nova geração de cinema digital.

Duas semanas antes do lançamento oficial, recebi uma ligação do amigo youtuber Gene Nagata (Potato Jet), que produz vídeos sobre equipamentos da indústria de TV e Cinema, dizendo que tinha uma nova câmera para me apresentar, mas não poderia passar mais informações por telefone. Eu fiquei muito intrigado porque há alguns meses ouvi burburinhos de que a ARRI iria lançar seu novo modelo com sensor 35, mas queria ver de perto para confirmar. Assim que cheguei na locação, fui recebido com um formulário para não divulgar nada sobre a câmera. Assinei sem ler muito sobre e fui diretamente ao encontro da câmera. Meu encontro foi em um cenário muito escuro, onde estavam filmando uma cena para testar a capacidade da câmera de enxergar com pouca luz, tive até que ligar a lanterna do celular para ver a parte externa da câmera. Minha primeira impressão foi que a câmera era muito parecida com a Alexa Mini LF em termos de ergonomia, porém um pouco mais na forma mais quadrada da Alexa Mini. O que puxou minha atenção, logo de cara, foi o display no lado do(a) operador(a), no qual podemos controlar as funções mais importantes da câmera, algo que não existia nos modelos Alexa Mini.

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A Alexa 35 vem para substituir a Alexa Mini e também a Amira, pois agora a nova câmera é muita mais versátil e traz a possibilidade de ter controle total de áudio no adaptador Suíço da SONOSAX, que é encaixado atrás da Alexa 35, permitindo não só a entrada dos microfones, mas também a fácil sincronização da câmera com o áudio externo. Lembrando que no modelo Mini, a câmera foi inicialmente desenvolvida para ser uma segunda câmera, mais de especialidades, como usar no Steadicam, para montar em espaços limitados, como automóveis, e usar em drones devido ao peso. A Alexa 35 combina todas essas funcionalidades numa única câmera.

Durante a minha visita ao set do Gene, tive a oportunidade de olhar a câmera por dentro e por fora, além de conversar com um profissional da ARRI, Sebastien Laffoux, que estava lá para apoiar esse teste. Ele me deu um tour sobre a Alexa 35 e me contou sobre suas novas funcionalidades, incluindo o “Enhanced Sensitivity Mode”, que aumenta a sensibilidade da câmera em enxergar informações nas luzes baixas, ou seja, permitindo que ISO da câmera chegue até 6400, com pouco ruído. Porém, algo que me fascinou foi o controle de texturas internas da câmera, que permite a alteração da estrutura da câmera para desempenhar em devidas situações, lembrando que a textura uma vez modificada, não é possível corrigir em pós-produção porque afeta o arquivo RAW.

Neste momento existem em torno de oito texturas distintas, cada uma com sua característica única. Por exemplo, a textura COSMETIC suaviza as imperfeições da pele e provavelmente será bastante utilizada em comerciais. Também, se optar pela textura DEEP SHADOW, ajudará no comportamento da câmera quando filmar em luzes baixas, suavizando um pouco o ruído. Já se o(a) cinematógrafo(a) não tem a certeza sobre a textura que quer usar no seu filme, não tem problema, pode ser usado o DEFAULT da câmera, ou seja, os padrões normais da linha Alexa. Na minha opinião, isso foi o que mais captou minha atenção, além dos 17 stops de latitude. É como poder estampar a minha assinatura no filme já que estou mudando a estrutura do arquivo RAW e não permitindo que seja alterado em pós, como acontece muito quando usamos um LUT.

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O diretor de fotografia Dennis Zanatta

Depois de conversar com o Sebastien por um tempo, falei com ele sobre meu novo projeto, “Grace”, que seria filmado em agosto, que, naquele momento, seria um curta-metragem para servir como piloto para vender como série de TV no futuro. O projeto é dirigido por Diego Lopez e produzido por Erik Weigel e Chris Sandstrom. O filme relata a história real de Shoshana Johnson, a primeira soldada negra prisioneira de guerra na história dos Estados Unidos e que seria filmado no Texas, onde Shoshana vivia com sua família em El Paso e onde mantinha sua carreira militar na base de Fort Bliss. O filme veio a partir do livro “I’m still standing: from captive US soldier to free citizen”, que descreve em detalhes a sua experiência como prisioneira no Iraque.

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Quando Diego e eu começamos a falar sobre o projeto, pensei que seria ideal filmar em 16mm pela textura do filme ser mais crua e real, mas a Kodak aqui em Los Angeles está com muita demanda no estoque e talvez teríamos que adiar mais as datas. Outra coisa que ia pesar seria o custo, filmar em película encareceria a produção, porque além dos estoques de filme, precisaríamos ter orçamento para toda a parte de escanear os rolos. Sem mencionar que com uma câmera de filme, talvez eu precisaria mais luzes do que eu usaria com a Alexa 35, já que eu posso depender mais da latitude da câmera. E se eu quisesse manter esse “look” de película poderia buscar uma textura como a NOSTALGIA, que cria uma imagem mais granulada e mudar a ASA da câmera para apresentar mais grãos.

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Discretamente comentei para o Sebastien que esse curta não tinha quase nada de orçamento e que estávamos buscando parcerias para ajudar a realizar o filme. Falei que já havia conversado com algumas empresas, como a Sony e a Atlas Anamorphics sobre usar a Venice 2, mas, para minha sorte, o Sebastien se interessou bastante pelo o projeto e disse que iria apoiar com a Alexa 35 e as lentes Signatures Primes, que é a minha lente preferida de Largo Formato, tem uma qualidade suave e tons quentes, uma belíssima combinação com uma câmera digital. Para a iluminação, a APUTURE foi muito generosa em emprestar todas as luzes que precisávamos, usamos a nova LS 1200 D, que é impressionantemente brilhante, e a nova LS 600C, que traz uma seleção enorme de cores. APUTURE também me deu uma nova luz que se chama MT PRO, que é um LED RGB de mais ou menos 30cm e super brilhante.

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E assim seguimos com o criativo, o diretor e eu decupamos o filme de duas maneiras, a primeira retrata a rotina cotidiana de Shoshana como soldada em Fort Bliss, suas tarefas e seus dias de gravidez. Esse estilo foi filmado com ênfase na simetria e na câmera estática para poder espelhar sua formação e educação militar. O segundo estilo se concentra no ambiente de guerra composto de ângulos não convencionais e um estilo mais brusco de operar a câmera, para retratar a emboscada, a violência, o medo e o isolamento que Shoshana vivenciou naquele período. Um dos temas principais do filme é o que chamamos aqui de “Post-traumatic stress disorder” (PTSD), ou seja, o trauma após o estresse de passar por uma situação dessas. Porém, o foco principal é a questão racial, por representar a primeira mulher negra capturada numa guerra.

Minha inspiração cinematográfica são os filmes “Jarhead”, de Sam Mendes e fotografado por Roger Deakins, e “The Hurt Locker”, de Kathryn Bigelow e fotografado por Barry Ackroyd. Ambos os filmes buscam uma veracidade nas cenas que nos dá a impressão que estamos vendo um documentário. A ideia era encontrar locações quase reais e depender de uma luz mais natural, utilizando o que a locação poderia nos beneficiar. Nosso produtor Erik fez um belo trabalho encontrando uma prisão real que estava desativada, um hospital para treino e uma vila iraquiana no meio do deserto que serve como treino para os militares dos Estados Unidos.

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Na semana da filmagem, levamos a câmera para o deserto onde íamos filmar nos próximos dias para testar as texturas e encontrar um LUT da Alexa 35 que serviria melhor para a história. Acabamos até gravando algumas imagens porque nesse dia o céu estava incrível e foi surpreendente ver o tanto de informação que a Alexa 35 retém nas luzes altas e o quanto conseguimos ver em cada detalhe das montanhas, do céu, das nuvens e das cores. Estávamos todos ansiosos para começar o primeiro dia de filmagem.

A fotografia em geral desse filme foi mais contrastada, saber que tinha disponível 17 stops de latitude foi um grande benefício, especialmente quando filmamos na locação da prisão, onde usei apenas uma luz que entrava pelas as janelas e refletia nas paredes. Já no deserto, usei muito a direção do sol para enquadrar os planos. Meu desafio pessoal com a Alexa 35 era ter uma fotografia minimalista e depender mais da câmera, assim eu optei por, na maioria das vezes, usar uma luz que seria meu “Key light” e o resto seria tanto refletir essa luz como aumentar o contraste escurecendo com bandeiras negras. Mas também usei uma pequena luz da marca ROSCO, que tinha um difusor em forma de bola, para criar um ponto de luz no olhar da atriz, que também podia usar como “Fill” se precisasse. Eu sempre gosto de criar um ponto de luz no olhar, para mim traz vida ao(à) personagem.

Na minha opinião final, a Alexa 35 é uma das mais completas câmeras que eu usei nos meus 20 anos de cinematografia. Acredito que em cada projeto devemos escolher os equipamentos que servem melhor a história e que irão facilitar nosso trabalho, porém, depois de usar a Alexa 35, eu questiono esse meu argumento porque essa nova câmera proporciona tudo que eu coloco na balança quando estou me preparando para filmar um projeto. A Alexa 35, além de trazer como sempre excelentes tons de pele, larga latitude, redenção de cores, ergonomia e funcionalidades simples, agora possibilita que o(a) diretor(a) de fotografia também possa escolher sua textura e usar qualquer tipo de lentes de cinema, tanto S35, como Largo Formato, quanto Anamórficas, tudo isso numa resolução de até 4.6K, entrando nos requerimentos das empresas que exigem o formato acima de 4K de suas produções. Essa câmera vai bombar pelos próximos anos!

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SINOPSE:

Em março de 2003, a Operação Iraqi Freedom ganhou as manchetes mundiais quando um comboio do exército dos EUA foi atacado a caminho de Bagdá. Shoshana Johnson tornou-se a primeira prisioneira de guerra negra na história dos Estados Unidos. Ela foi detida por 22 dias pelos militares iraquianos, onde foi submetida a uma cirurgia por médicos iraquianos após ser baleada nas duas pernas. Ela foi transferida de cidade em cidade com o destino iminente de Bagdá, onde o odioso Saddam Hussein era famoso por torturar seus prisioneiros.  Durante sua situação, ela encontrou tanto tormento quanto bondade de seus captores. Shoshana também se aproximou dos poucos sobreviventes de sua unidade que estavam sendo mantidos junto com ela. Todo o tempo os estrondos distantes e às vezes não tão distantes da batalha rugindo ao redor dos lugares que ela e sua unidade estavam sendo mantidas. Shoshana e seus companheiros sobreviventes se consolaram uns aos outros e mantiveram a esperança de que seriam resgatados. Eventualmente, graças aos atos heróicos de fuzileiros navais, Shoshana e seus companheiros foram resgatados e levados para suas famílias.

ELENCO:
Shoshana: Aneisha Brackens
James: Diego Lopez
Doutor Iraquiano: Charbel Bassil
Guarda: Charbel Antonio
Doutor Americano: Mario Lopez
FICHA TÉCNICA:
Baseado na vida de Shoshana Johnson
Direção e Roteiro: Diego Lopez
Produção e Produção Executiva: Diego Lopez, Erik Weigel, Dennis Zanatta, Alexandra Dickson Gray, Ryan Ramsey and Chris Sandstrom
Direção de Fotografia: Dennis Zanatta
1st AC: Dennis Wallon
2nd AC: Christian Garcia
Gaffer: Dan Lamas
Key Grip Javier Armendariz
Direção de Arte: Ryan Robson e Nick Check
Figurino: June Robinson e Jessica Jimenez
Maquiagem: Erik Kirker e Naomie Gomez
Supervisão de Som e Mixagem: Nicholas Duron
Produção: Wonderland West e 2C2 Productions
CAMERA SPECS (usados no filme Grace):
Câmera: ARRI Alexa 35
Formato gravado: ARRIRAW 4K 16:9 (Cropado para 2.00 aspect ratio)
Textura: Nostalgia
ARRI Library Lut: 3112 , 6110, 4110
Lentes: Signature Primes
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