2ª Temporada De “Insight” – Guerrilha urbana na pandemia

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Por Ioseba Mirena

A equipe já estava pronta para sair rumo a São Paulo para o início das filmagens da 2ª temporada de “Insight”, realizando junto com a produtora o cronograma final das filmagens, fechando os últimos detalhes com os patrocinadores e subitamente, em pouco menos de um mês, o mundo se fechou: lockdown por causa da covid-19 e a série foi interrompida. Quando você é profissional no meio do cinema, uma interrupção por uma pandemia mundial te deixa em uma situação extremamente vulnerável. Quando acontece em meio a uma produção na qual sua produtora é a responsável, a pressão chega a limites desumanos. Antes de nada, tivemos que negociar com cada um dos patrocinadores para que não abandonassem o barco, somente um deles acabou solicitando a devolução do valor patrocinado, por esse motivo gostaria de agradecer especialmente a cada um dos patrocinadores, já que “Insight” é uma série financiada exclusivamente com incentivo privado.

A partir desse momento foi esperar e ver como transcorreria a pandemia. Lamentavelmente para o mundo foi tempo demais e a nova temporada de “Insight” teve que ser filmada em diferentes etapas durante o período de mais de um ano. Cassila Canoro, sócia da Nonno Filmes e produtora da série, foi determinante para o sucesso de Insight; sem ela o barco teria afundado. Gostaria de realizar este pequeno adendo porque em muitas ocasiões não entendemos o esforço titânico que acontece atrás das câmeras.

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A nova temporada, que tem como temática central a arquitetura, está dividida em dez episódios de aproximadamente 30 minutos. É um prato cheio para os amantes da arquitetura porque a série mostra os maiores e mais influentes arquitetos e arquitetas brasileiras da atualidade. Na minha opinião o Brasil foi o dourado da arquitetura modernista e atualmente a arquitetura contemporânea brasileira está ressurgindo com a força do passado.

A 1ª Temporada teve como temática central o design de mobiliário, por esse motivo tive como mudar drasticamente a planificação das filmagens, já que passávamos de captar objetos em escala pequena a objetos em escala grande, em muitas ocasiões enormes edifícios como aeroportos, hospitais ou reurbanizações como o Vale do Anhangabaú. O uso do drone foi essencial, ter ao lado operadores experientes como Junior Lopes ou Ramón Gonçalves facilitou muito meu trabalho.

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Novamente escolhi filmar o seriado com a Red Dragon. É uma câmera extremamente versátil, parece um pequeno tanque de guerra que com certeza segura o tranco. Ao ser uma produção com investimento limitado, não tínhamos tempo de escolher o momento mais adequado de realizar uma filmagem externa. O HDR da câmera foi fundamental nesse aspecto, já que por ser um documentário focado na maioria das ocasiões em planos em movimento, em muitas situações não existia uma planificação prévia de filmagem nas quais você poderia controlar os highlights. Outro aspecto determinante foi o poder de resolução da câmera. Naturalmente o fotógrafo sempre vai dar prioridade a latitude, mas ao filmar o seriado com uma única câmera, tínhamos que ter a chance de oferecer para o montador o uso de diferentes planos.

Em relação à ótica utilizada, o importante para mim era que “Insight” tivesse uma aparência elegante, apesar de ser um documentário. Muito disso remete a uma decisão tomada de deixar para trás a ferramenta favorita de um documentarista que é a lente zoom que eu considero uma lente preguiçosa. As lentes prime não são muito convenientes para um doc, mas queria tentar manter o visual mais sofisticado possível. Trabalhei com um kit de lentes de CP.2, que é uma lente “barata”, mas de preço-qualidade justa.

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O que percebi durante a filmagem da nova temporada é o paralelismo que existe entre a arquitetura e o cinema. O cinema e a arquitetura têm desenvolvido, ao longo dos anos, um diálogo para o desenvolvimento de ambas as artes, pois baseiam-se na criação e na manipulação de espaços, com a diferença de que no cinema temos um espaço virtual e na arquitetura esse espaço é físico, real e com determinado fim. Na arquitetura habita-se o espaço e no cinema o espectador e a espectadora são guiados pelo olhar da câmera que nos apresenta esse espaço.

O cinema cria espaços efêmeros na mente do ser humano, pelas imagens transmitidas num filme, que chama à meditação e aos sentimentos, gerando a criação mental de espaços cinematográficos a partir do filme. O espaço arquitetônico é estático, mas construído para estar em movimento, obtendo assim uma melhor percepção do espaço. O espaço cinematográfico é um espaço ativo que nos move dentro do espaço estático, que equivale a espacialidade criada por um narrador de histórias, que cria os espaços tanto na sua mente como na do público espectador.

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Para sentirmos o espaço é imprescindível haver uma sensação de movimento. Tanto o arquiteto como o cineasta unem a espacialidade arquitetônica com a realidade cinematográfica, pois concebem espaços e tempos artificiais na sua imaginação, de modo a prever o mais aproximadamente possível qual será a experiência espacial futura desse mesmo espaço. O tempo, como quarta dimensão e agregado ao espaço, permite também criar um conjunto de confrontos imaginários que suscitam a criação de novas espacialidades. Para além das noções de espaço e de movimento, existe uma enorme analogia entre arquitetura e cinema, que inicia-se desde o seu método criativo e de metodologia, de utilização de equipamento similar e até à similitude da função do arquiteto com o cineasta.

Tanto o fazer arquitetura como a arte de fazer cinema estão intimamente ligados. Posso afirmar que o arquiteto, assim como o cineasta, são as pedras angulares na produção de arquitetura e cinema. São naturalmente ajudados por uma grande equipe, mas são os elementos fulcrais na realização da obra. Esse pensamento que foi plantado na minha cabeça pelos arquitetos e arquitetas é a temática central do meu próximo projeto de longa-metragem. Sendo totalmente sincero, o que mais gostei desta nova temporada foi conviver com os arquitetos, pessoas extremamente interessantes com as quais aprendi a cada instante, amigos e amigas que espero levar para a vida toda. Se cada prefeito tivesse um arquiteto ao seu lado, as cidades seriam espaços quase perfeitos.

Já estamos trabalhando na 3ª temporada de “Insight” e esperamos começar as filmagens em agosto ou setembro deste ano. Se uma pandemia mundial não segurou a gente, acredito que conseguiremos sobreviver a uma 3ª guerra mundial. Podem assistir as duas temporadas na Globoplay.

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Sinopse:

Tudo na vida começa com um Insight, esse estalo que pode mudar o seu ou o nosso mundo. Dividida em dez episódios de 30 minutos, a série acompanha a rotina de diferentes profissionais da indústria criativa, adentrando em suas vidas e em seu imaginativo. Arquitetas/os e designers internacionalmente reconhecidos abrem espaço para que possamos conhecer e nos apaixonar pela mente e vida atrás de cada projeto que muitas vezes se confundem com verdadeiras obras de arte. Insight é uma série que irá abranger as mais variadas áreas do universo criativo, com o objetivo de humanizar a imagem do criador.

Ficha Técnica:
Gênero: Série documental
Criado por: Cassi Canoro & Jose de Aiete
Produção: Nonno Filmes
Produção Executiva: Cassi Canoro
Roteiro: Jim Carbonera
Direção: Jose de Aiete
Direção de Fotografia: Ioseba Mirena
Som direto: Levi Brat e Vicente Johns
Montagem: Jose de Aiete, Karina Uchoa, Vicente Johns e Gabriel Floro
Mixagem e Sound Design: Breno dos Reis
Fotos Still: Israel Gollino

1ª Temporada – 6 episódios (2018)
2ª Temporada – 10 episódios (2021)

Elenco 2ª temporada: Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, Miguel Pinto Guimarães, Henrique Reinach, Mauricio Mendonça, Angelo Bucci, Silvio Kozuchowicz, Samuel Kruchin, Yuri Vital, Lua Nitsche, Pedro Nitsche, Duda Porto, Mario Biselli e Artur Katchborian.

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