Mestres da Luz II – Gabriel Figueroa

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Por Carlos Ebert

Figueroa

Gabriel Figueroa Mateos nasceu em 24 de abril de 1907 e faleceu em 27 de abril de 1997 na Cidade do México. Realizou estudos inconclusos na Academia de San Carlos e no Conservatório Nacional de Música.

Se interessou então por fotografia, e como autodidata foi construindo a linguagem visual que iria atingir seu apogeu na cinematografia.

Em 1935, obteve uma bolsa para estudar em Hollywood, onde teve contato com Greg Toland, a quem ao longo de toda a vida considerou como mestre.

Entre 1932 à 1983, Figueroa participou de 213 filmes. Quase um recorde, se consideramos que quase todos eram de longa-metragem (Billy Bitzer, fotógrafo de Griffith, tem 694 créditos, mas muitos são filmes de duas ou três bobinas, típicos do cinema do mudo).

Figueroa colaborou com diretores notáveis, com destaque para Emilio (El Indio) Fernández, Luís Buñuel , John Ford, John Houston e Luiz Alcoriza. No início dos anos 40 fundou junto com um grupo de artistas a companhia Films Mundiales. Nela realizou mais de 50 filmes com os principais diretores da época: Fernando de Fuentes, Alejandro Galindo, Julio Bracho, Miguel M. Delgado, entre outros.

Também data desta época o início se sua intensa participação no movimento sindical cinematográfico, que mais tarde lhe renderia alguns problemas, inclusive dificuldades para trabalhar nos EUA durante o macartismo.

Los Enemigos

Em 1943, participou de Flor Silvestre, dirigido por Emilio Fernández, filme que marca o início de uma colaboração de mais de 20 filmes ao longo de 13 anos. Entre estes filmes se destacam: María Candelária, La Perla, Enamorada, Río Escondido, Maclovia, Salón México, Pueblerina, Víctimas del pecado, Islas Marías e La Rosa Blanca, filmes que afirmavam uma “mexicanidade” muito em voga durante o governo nacionalista de Lázaro Cárdenas.

Sobre a formação do “estilo Figueroa”, escreveu um comentarista mexicano: Nesta época o estilo de Figueroa se consolidou plenamente, e se impregnou do nacionalismo cultural da época, construindo com um marcado sentido plástico um México sublime, onde homens vestidos de “charro” e mulheres com xales, céus dramáticos, claro-escuros espetaculares e paisagens, nos submergem numa realidade idílica e edificam um país que sem ser legítimo em sua totalidade, nos outorgou uma identidade.”(1)

Seu encontro com Buñuel, que havia chegado ao México em 46, se dá em 1950 com Los Olvidados. O filme causa enorme impacto na sociedade mexicana. “O filme sai de cartaz poucos dias depois da estréia, ante o horror de uma sociedade que negava o que acontecia além das avenidas da grande cidade.

Por outro lado, o Festival de Cannes de 1951 se rende ao poder do filme e dá a Buñuel o prêmio de melhor diretor, num ano em que competiam Vitorio de Sica, Joseph Mankiewickz, George Stevens, Michael Powell e Preston Sturges.” (2)

No começo, a relação entre o mestre do surrealismo e Figueroa não foi lá muito fácil. O esteta dos céus contrastados e das sombras longas teve algumas dificuldades em se adaptar ao método “desconstrutivista” de Buñuel.

Uma anedota resume a relação. Após horas de enquadramento, Buñuel teria dado um “chega prá lá” na câmera , porque achou o quadro “muito composto”.

Com o tempo, as personalidades foram se ajustando, e até o fim da vida Figueroa relembrou sua colaboração com Buñuel com enorme afeto. Juntos fizeram entre outros: Él, La Fievre monta a El Pao, Nazarín, Los Ambiciosos, La Joven, El Ángel Exterminador e Simón en el Desierto. A observação de Buñuel de que “a imaginação é o nosso primeiro privilégio. Inexplicável como o acaso que a provoca.”, cabe perfeitamente ao seu maior colaborador mexicano.

Macario

Muitas anedotas cercam a lendária carreira de Figueroa. Uma delas é contada por ele mesmo: ” Copiei uma pintura – foi a única vez em que copiei um quadro – se chama “O Réquiem”, e representa um velório. É noite e se vêm velas num quarto e as pessoas estão do lado de fora, na rua. Dolores del Rio convidou muita gente para ver a estréia do filme.

O acaso fez com que me sentasse ao lado do autor do quadro, Orozco. Quando chegou na cena do quadro, notei que ele estava agitado na cadeira, chamei sua atenção e disse:

– Mestre, sou um ladrão honrado. Isso é seu. Eu copiei.

Ele me olhou e disse: Sim, mas você obteve uma perspectiva que não consegui. Gostaria que me convidasse para vê-lo trabalhar, para eu ver como você consegue esta perpectiva.” (3)

Nos Estados Unidos, Figueroa trabalhou com John Ford em O Fugitivo 1947, e com John Huston em A Noite do Iguana 1963. Com Huston, realizou também seu penúltimo filme A Sombra do Vulcão em 1982. O êxito de O Fugitivo fez com que Ford o contratasse por três anos. O contrato entretanto não foi cumprido, pela oposição que sofreu dos sindicatos de Hollywood e pela onda macartista , que via nele um simpatizante comunista.

La Perla

Em 87, recebeu da Academia Mexicana de Artes Cinematográficas o prêmio Ariel de Oro, por sua extraordinária colaboração cinematografia mexicana. Ninguém melhor que ele definiu tão bem sua relação com a arte cinematográfica:

“Durante quarenta anos, em companhia de outros homens igualmente apaixonados pelo ofício de inventar imagens, não fiz outra coisa senão delimitar a realidade tendo em mãos uma câmera cinematográfica. Este privilégio excepcional me ensinou a conduzir os sentidos até o coração da realidade e a me transformar no olhar de importantes inquisidores da alma humana.”

A fiilmografia completa de Figueroa está em:
http://cinemexicano.mty.itesm.mx/directores/figueroa.html

Sites consultados:

RedEscolar
* Cinema 16
* La Jornada

Notas:

(1) Buñuel: El Gran Subversivo por José Quintanilla. Publicado originalmente no jornal “El Norte”.
(2) Citado no site da Red Escolar Mexicana
(3) Citado no site da Red Escolar Mexicana

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