Pelo Nordeste com a HDV

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Por Carlos Ebert

Estive por duas semanas – no final de agosto / início de setembro de 2005, realizando um documentário nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, enfocando programas de investimento em projetos de infra-estrutura e produtivos para comunidades rurais carentes, que são financiados há 10 anos pelo Banco Mundial.

A equipe – reduzida por questões logísticas e operacionais (foram percorridos mais de 5.000 km por terra em duas semanas), teve como diretora Mariana Reade, profissional com experiência anterior em documentários no sertão.

A produção de campo foi de Renata Moura, minha ex-aluna no Instituto Dragão do Mar de Fortaleza, e atualmente sócia de Jeferson De na Barraco Forte Produções, SP. Na equipe técnica, meu fiel gaffer Cícero “Padim” Barbosa.

No som direto o excelente Alfredo Campos Neto, profissional com muitos anos de experiência na Globo Rio, e ainda Paula Odevall, fotógrafa sueca/brasileira, responsável pelas fotos que irão ilustrar um livro sobre o projeto. Raimundo Caminha e Fátima Amazonas acompanharam as gravações pelo Banco Mundial. Além deles, cada estado enviou dois representantes e uma equipe de segurança, além dos motoristas das vans.

Desde que fui convidado para o projeto, ainda no primeiro semestre, existia a determinação de capta-lo em HD. Foi feito um orçamento em HDCAM (HDW F 900), mas além do custo superar as estimativas do orçamento, acreditavamos que perderíamos muito em agilidade e mobilidade com um equipamento pesado e que portanto exigiria mais técnicos para sua operação.

A escolha então acabou recaindo no formato HDV (1080 x 1440 px 60i). Já havia testado uma HVR-Z1U da Sony com vistas a um transfer para 35mm, e ficara muito bem impressionado com o resultado da câmera. Usá-la em 60i me pareceu uma ótima opção, como de fato ficou provado ao longo do trabalho.

Ainda que a mídia imediata do trabalho seja em SD (DVD’s a serem distribuídos em mais de 60 países), a captação em HDV – além de melhorar o resultado final em standard, permitirá que num futuro próximo sejam feitas edições em DVD-HD, e que a versão de 52 minutos vá ao ar em HD nos países que já estiverem transmitindo nesse padrão.

Já tendo captado imagens nessa região em praticamente todos os suportes e formatos (35 P&B e cor, 16mm, S16mm, Beta SP, U-Matic e DVCam), conheço as dificuldades de ”espremer” a luz intensa e de altos contrastes para que caibam na latitude de cada suporte.

Em HDV não haveria de ser muito diferente. Preparei-me para enfrentar mais esse desafio da “luz tropical” com um arsenal pequeno mas criteriosamente escolhido: um buterfly 2x2m com os sete panos, um HMI par de 1.2Kw, um HMI Fresnel de 1.2 Kw, 2 Arri 650w Fresnel, 2 Arri 300w Fresnel, 2 rebatedores de espelho (1x1m e 0.8×0.8m) e dois rebatedores prata, além de folhas grandes de isonor (lá pra cima é assim mesmo que chama: isonor). Essas foram as ferramentas de que dispus para domesticar a luz do sertão nordestino.

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A proposta do documentário em termos de aparência da imagem era chegar num realismo bem naturalista, mas com espaço para expressão e interpretação próprias, sempre na perspectiva de usar ao máximo as fontes existentes – principalmente o sol, já que nesta região em pouquíssimos momentos surgem nuvens para bloqueá-lo.

Pela experiência adquirida anteriormente na região com câmeras eletrônicas, sabia que o set-up da câmera era um fator crucial e determinante para conseguir captar toda a informação nas zonas de altas e de baixas luzes.

Na HVR-Z1U encontrei no black stretch um poderoso aliado para deixar as baixas mais presentes, estendendo a curva na região entre 0 e 30 IRE. O uso da zebra em 70 IRE orientou a exposição dos rostos e garantiu a consistência da exposição ao longo das seqüências.

O excelente visor LCD de 8.8 cm de largura e uma diretora compreensiva e esperta, nos dispensou do uso de um monitor maior – sempre um trambolho nessas ocasiões. O peso reduzido da câmera (2.2kg) permitiu o uso de suportes variados (monopé c/ cabeça de tripé fotográfico, tripé de luz de 3 estágios, saquinho de areia etc), o que resultou em mais mobilidade e a obtenção de pontos de vista não convencionais.

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Pela natureza do trabalho, tivemos muitos depoimentos, tanto em exterior como em interior. Nessas ocasiões as várias combinações de buterfly / HMI / rebatedores revelaram-se muito versáteis e bastante apropriadas. Nos interiores o uso de Roscoscreen foi determinante para conseguir enxergar detalhes no exterior através das portas e janelas.

Conseguir colocar a cena dentro da latitude da câmera – sem artificialismos e sem denunciar as compensações, foi talvez o maior desafio fotográfico presente ao longo do trabalho. Algumas poucas noturnas ensejaram soluções interessantes.

Num dos locais tivemos uma reunião numa grande varanda. Utilizei-me de lâmpadas de 60w penduradas do teto em 4 pontos estrategicamente colocados. Para reforçar a luz que vinha delas, foram colocados os dois fresneis 650w com 3010 através das janelas, dimerizados para emular a mesma temperatura de cor das lâmpadas.

Uma luz difusa remota, branca fria (luar? um poste na rua?), originada pelo par HMI rebatido no pano branco do buterfly, providenciava um recheio, em que o pequeno contraste cromático proporcionado pela diferença de temperatura de cor, conferia mais relevo às figuras. Uma abordagem semelhante foi utilizada em outra reunião, desta vez debaixo de um juazeiro, na hora mágica.

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Em ambas as oportunidades mantive o balanceamento em daylight, o que garantiu que o fill remoto não ficasse azul, mas branco frio. O possível excesso de laranja/vermelho existente na pele, ocasionado pelas lâmpadas comuns e os fresneis dimerizados será atenuado e dessaturado mais tarde na correção de cor a ser executada num tape to tape via telecine, já no formato HDCAM.

Durante todo o trabalho, a HVR-Z1U revelou-se um instrumento preciso e versátil. Seus muitos menus pessoais permitem gravar e acessar rapidamente os set-ups que resultaram efetivos e aprovados. As variações permitidas nos balanços de branco – tanto para luz do dia como para 3200ºK, são ótimas para chegar rapidamente ao aspecto desejado na colorimetria. O botão de foco rápido e mesmo o foco automático foram decisivos durante a documentação corrida nas ruas.

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Um dos pontos altos da câmera é a óptica Zeiss Vario-Sonnar 12x, 4.5 à 54 mm. Contraste e definição excelentes, flare desprezível – mesmo com incidência direta de luz nos elementos, e com uma distancia focal mínima que não me deixou em momento algum desejoso de ter à mão um adaptador de grande angular (já de um duplicador ou um tele adapter senti falta em algumas ocasiões…).

Mesmo com um espaço de cor limitado pela gravação em 8 bits, o formato por processar em 14 bits, apresenta muita nuance de tonalidade e saturação. Em nenhum momento fiquei frustrado com a reprodução de qualquer matiz de cor.

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A polarização nos exteriores ajudou muito a controlar o céu e a melhorar a saturação nos verdes da vegetação. Pela quantidade grande de material captado – 26 horas, a edição deverá se entender até o final do ano, sendo a correção de cor no tape to tape em HDCAM, esperada para janeiro ou fevereiro de 2006. Se tiver oportunidade, comentarei aqui essa fase final do processo.

Tive grande satisfação com a captação desse trabalho, que certamente terá o mérito de mostrar para o mundo uma experiência social que deu certo, e que vem ajudando milhares de pessoas, numa região de clima hostil e com poucos recursos, a melhorar seu padrão de vida. Bom mesmo.

São Paulo, setembro de 2005

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