Lucas Gonzaga: “Presságios de um Crime”

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Por Danielle de Noronha

O montador Lucas Gonzaga fala de seu trabalho em Presságios de um Crime (Solace, EUA, 2015), filme que marca a estreia internacional do diretor brasileiro Afonso Poyart (2 Coelhos) e que conta com Anthony Hopkins, Colin Farrell, Jeffrey Dean Morgan e Abbie Cornish no elenco.

No filme, um detetive do FBI está à procura de um assassino em série, que faz jogos com suas vítimas. Para isso, ele contará com a ajuda de um médico aposentado especializado nesse tipo de crime.

Como aconteceu o convite para participar do Presságios de um Crime? Como é a sua parceria com o Afonso Poyart?

Em 2012 fui para o Festival de Sundance com o filme A Busca. Lá eu conheci o agente do Wagner Moura que tem uma história de representar brasileiros que vão trabalhar no cinema americano. Ele me comentou que estava vindo para o Brasil fazer reuniões na semana seguinte e eu o convenci a assistir no cinema o último filme que eu tinha montado e que estava estreando que era o 2 Coelhos, dirigido pelo Afonso Poyart. Achei que o filme tinha uma pegada que interessaria os americanos.

Na semana seguinte ele assistiu ao filme no Brasil e já na saída da sessão quis muito conhecer o Afonso. Poucos meses depois o Afonso já estava nos Estados Unidos negociando para fazer o Presságios de um Crime. Foi tudo muito rápido. Os americanos ficaram fascinados com o 2 Coelhos e com a capacidade do Afonso de fazer um filme de ação, com qualidade e um custo baixo.

Minha relação com o Afonso é muito antiga, fiz o primeiro curta dele e desde então fizemos publicidade, videoclipes e três longas juntos. É um diretor extremamente criativo, que entende de roteiro, de personagens e que tenta colocar sua marca visual nos filmes sem nunca abrir mão de contar uma boa história. Ele e o fotógrafo Carlos Zalasik entregam sempre um material bastante aberto e amplo, que gera muitas possibilidades e uma liberdade absoluta para trabalhar. E ele incentiva os riscos, para que encontremos na forma e no conteúdo elementos que atraiam e agradem o espectador.

É muito próximo do universo ideal para um montador.

Quanto tempo de trabalho? Como foi o cronograma?

O filme teve 30 semanas de montagem.

Começamos durante a filmagem em Atlanta, depois retornamos ao Brasil onde fizemos o primeiro corte. Daqui fomos para Los Angeles e lá tivemos o período mais extenso da montagem onde trabalhamos nos cortes seguintes junto dos produtores. Após as sessões teste, o último mês de ajustes foi feito em Nova Iorque por questões contratuais do filme.

Quais eram as condições de trabalho e principais diferenças com as produções nacionais?

As condições de trabalho eram as melhores possíveis. Tínhamos duas ilhas para o filme em uma Finish House em West Hollywood, uma para mim e outra para o assistente.

Em termos de equipamento hoje praticamente não existem diferenças entre o que usamos aqui e o que usamos nos Estados Unidos. O filme foi editado em Avid Media Composer 7.0.

A maior diferença se dá no prazo. Aqui, em função de orçamento, sempre lidamos com prazos muito curtos e isso representa uma perda de qualidade grande nos filmes.

A ilha de edição é um espaço de experimentação, de busca por nuances, por detalhes, onde podemos arriscar e tentar tirar ao máximo as possibilidades do material. E isso leva tempo. Com prazos apertados muitas vezes é possível apenas cumprir o básico e não acho que deveríamos nos contentar com o básico.

Qual era a atitude dos produtores? Como eles participaram do projeto?

Os produtores realmente participam de maneira muito ativa em todo o processo. Na montagem não foi diferente. Em todos os cortes do filme fazíamos apresentações para eles, debatíamos os avanços, traçávamos novos objetivos e testes que ainda poderiam ser feitos. É um processo difícil pela cobrança permanente por resultados, mas ao mesmo tempo é colaborativo e feito em alto nível.

Quando o produtor se impõe pelo conhecimento de cinema, e não só pelo cargo que ocupa, é muito positivo. É positivo para o filme ter mais pessoas pensando junto e ajudando a encontrar os melhores caminhos.

O que dizer do Anthony Hopkins e elenco do filme?

Anthony Hopkins, além de uma sutileza ímpar para interpretar com pequenos gestos e olhares, tem um carisma impressionante.

O personagem que ele interpreta é extremamente ácido e irônico. Ficamos muito tempo tentando buscar o equilíbrio do quanto as pessoas se incomodariam com aquela postura tão arrogante. Quando começamos a fazer sessões teste descobrimos que a força do ator com a audiência é tão grande, fruto de décadas fazendo papéis tão marcantes, que mesmo ele sendo grosseiro ou irônico as pessoas sempre gostavam dele. Perceber este tipo de reação nos ajudou a encontrar o ponto de equilíbrio exato pro personagem.

Se Hopkins entrega tanto com tão pouco, Colin Farrell por outro lado é um turbilhão, roubando todas as cenas que aparece com sua energia. Equilibrar estas duas forças foi um grande desafio pro Afonso no set e depois pra gente na montagem. Além deles tínhamos Jeffrey Dean Morgan que é um excelente ator – apesar de ainda não tão conhecido. Os três entregam grandes performances e, quando se tem um elenco neste nível, a conexão da audiência com o filme atinge um outro patamar.

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