Reconhecido como o mais importante evento sul-americano para a produção audiovisual ligada às temáticas socioambientais, a Mostra Ecofalante de Cinema chega à sua 13ª edição. Com cardápio composto por 122 filmes, representando 24 países, as projeções, os debates e os encontros estão agendados para o período de 1º a 14 de agosto, com entrada franca. A cerimônia de abertura, para convidados, acontece em 31 de julho.
Este ano, a programação tem como grande novidade a criação de uma mostra competitiva intitulada Competição Territórios e Memória, dedicada exclusivamente a produções brasileiras. O evento, assim, abre maior espaço para o significativo crescimento no país de obras audiovisuais de caráter socioambiental. Permite ainda a discussão de questões referentes aos diferentes territórios do Brasil – sejam eles geográficos ou simbólicos – e de sua memória.
Estão programadas ainda outras dez seções: Panorama Internacional Contemporâneo, Panorama Histórico, Especial Emergência Climática, Especial ISA 30 anos: Por um Brasil Socioambiental, Competição Latino-americana, Concurso Curta Ecofalante, Sessões Especiais, Sessão Infantil e o Programa Ecofalante Universidades.
Integram o circuito do festival as seguintes salas: Reserva Cultural – sala 2 e sala 3, Circuito Spcine Lima Barreto (Centro Cultural São Paulo), Cine Satyros Bijou, Nave Coletiva, Circuito Spcine Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes e 15 unidades do Circuito Spcine localizadas nos CEUs.
Do consagrado cineasta alemão Werner Herzog, “O Fogo Interior: Um Réquiem para Katia e Maurice Krafft” é uma das principais atrações do evento. O premiado longa-metragem apresenta imagens impactantes de erupções vulcânicas nesta homenagem a um casal de especialistas nesses fenômenos.
Três cineastas mulheres que marcam a cinematografia da América Latina são homenageadas na seção Panorama Histórico – Três Mulheres, Três Olhares sobre a América Latina: a cubana Sara Gómez (1942-1974), a colombiana Marta Rodríguez e a venezuelana Margot Benacerraf, recém falecida no mês de maio. Exibido no Festival de Cannes, “De Certa Maneira” (1977), de Gómez, discute questões de raça e de classe através de um enredo que se passa nos bairros pobres de Havana logo após a Revolução Cubana de 1959. Já o clássico “Araya” (1959), de Benacerraf, reúne três histórias ambientadas em uma das localidades mais áridas do planeta, marcada pela exploração do sal, e ganhou as telas dos festivais de Berlim, Locarno e Cannes. Por sua vez, “Amor, Mulheres e Flores” (1984), de Rodríguez e Jorge Silva, uma das atrações dos Cannes Classics do Festival de Cannes, focaliza, em tom feminino, histórias de vida e amor em meio a reivindicações dos trabalhadores da plantação de flores.
Os 30 anos da criação do ISA – Instituto Socioambiental, uma organização dedicada a defender o meio ambiente, patrimônio cultural e os direitos dos povos indígenas, merecem a apresentação de nove filmes de sua produção, em uma parceria da Mostra Ecofalante de Cinema com a instituição. Destaca-se a estreia mundial de “Mapear Mundos”, no qual a diretora Mariana Lacerda rememora os avanços por organizações da sociedade civil, em um contexto de ditadura militar, pela garantia de direitos dos povos originários no Brasil. A exibição, em 3/08, é acompanhada por uma roda de conversa com a equipe do filme. Estão presentes na programação “O Brasil Grande e os Índios Gigantes”, assinados pelo premiado realizador Aurélio Michiles, e “Terra Yanomami Celebra 30 Anos da Homologação”, da dupla Fred Rahal e Carol Quintanilha, participação do escritor Davi Kopenawa, do ambientalista e escritor Ailton Krenak e do indigenista Sydney Possuelo.
Grandes personalidades emprestam seu prestígio ao longa “Solo Comum”, sobre a agricultura regenerativa e seus benefícios para o solo, para a nossa saúde e para a regulação do clima. Participam da obra os atores Laura Dern, Woody Harrelson, Donald Glover e Rosario Dawson. Um debate segue sua projeção, em 6/08, e conta com as presenças confirmadas do professor da USP, Jean Paul Metzger, e do biólogo Carlos Alberto Scaramuzza.
O Especial Emergência Climática traz a produção francesa “Uma Vez Que Você Sabe” , que aborda o iminente colapso ambiental do planeta, e os norte-americanos “Arrasando Liberty Square”, sobre gentrificação climática, e “Filhos do Katrina”, obra premiado no Festival de Tribeca sobre os efeitos dofuracão Katrina. Agendado para 2/08, após a projeção de “Arrasando Liberty Square”,um debate discute emergências climáticas, cidades resilientes e políticas públicas de inclusão.
Já a projeção belga “Humano Não-Humano”, de Natan Castay, promove um questionamento da noção de humanidade a partir de um trabalhador que passa noite e dia desfocando rostos no Google Street View por um centavo cada. O filme foi vencedor do prêmio de melhor curta-metragem documental nos Prêmios Magritte du Cinéma (Bélgica), recebeu menção honrosa no Doclisboa e foi selecionado para os festivais de Gotemburgo, Helsinque, Visions du Réel (Suíça) e para o Festival de Documentários de Montreal.
O ativismo dos povos indígenas para proteger os seus recursos e modo de vida diante da mineração e as hidrelétricas que ameaçam o abastecimento de água na América Central e do Sul é tema do longa “Água é Vida!”. A obra tem participação do ator mexicano Diego Luna, dos sucessos “Rogue One: Uma História Star Wars” e “E Sua Mãe Também”. Um debate sobre ativismo está agendado em seguida à sua projeção, em 10/08, com a presença do diretor do filme, o norte-americano Will Parrinello.
Programada para 5/08, a exibição de “Breaking Social: O Fim do Contrato Social”, de Fredrik Gerttenum, é seguida por debate em torno da taxação dos super-ricos, aqueles que recorrem aos paraísos fiscais e colhem lucros sem retribuir à sociedade.
“Union”, dos diretores Brett Story e Stephen Maing, registra uma das mais importantes vitórias trabalhistas da história: a conquista do primeiro local de trabalho sindicalizado da Amazon nos EUA, ocorrida em 2022. O filme, vencedor do prêmio especial do júri no badalado Festival de Sundance, tem sua projeção seguida por um debate sobre direitos trabalhistas, que acontece em 9/08, e conta com a presença do professor de sociologia Ricardo Antunes.
Em edição inaugural, a mostra competitiva Territórios e Memória selecionou um total de 27 filmes brasileiros, estando representados 11 estados e o Distrito Federal. Na programação estão os longas “À Margem do Ouro”, de Sandro Kakabadze; “Anhangabaú”, de Lufe Bollini; “Black Rio! Black Power!”, de Emilio Domingos; “Eskawata Kayawai (O Espírito da Transformação)”, de Lara Jacoski e Patrick Belem; “Favela do Papa”, de Marco Antonio Pereira; “Memórias da Chuva”, de Wolney Oliveira; “O Bixiga é Nosso!”, de Rubens Crispim; “O Contato”, de Vicente Ferraz; “Ouvidor”, de Matias Borgström; “Rejeito”, de Pedro de Filippis; “Samuel e a Luz”, de Vinícius Girnys; “Sekhdese”, de Graciela Guarani e Alice Gouveia; e “Sociedade de Ferro – A Estrutura das Coisas”, de Eduardo Rajabally.
Participam ainda da Competição Territórios e Memória os curtas-metragens “A Bata do Milho”, de Eduardo Liron e Renata; Mattar; “A Chuva do Caju”, de Alan Schvarsberg; “Água Rasa”, de Dani Drumond; “Ava Yvy Pyte Ygua / Povo do Coração da Terra”, do Coletivo Guahu’i Guyra; “Despovoado, Ou Tudo Que a Gente Podia Ser”, de Guilherme Xavier Ribeiro e estrelado por Rolando Boldrin; “Interior da Terra”, de Bianca Dacosta; “Kwat e Jaí – Os Bebês Herois do Xingu”, de Clarice Cardell; “Mborairapé”, de Roney Freitas; “Nosso Terreiro”, de Anna Rieper, Patrícia Medeiros, Ranyere Serra e Fernando Lucas Silva; “Nunca Pensei Que Seria Assim”, de Meibe Rodrigues; “O Silêncio Elementar”, de Mariana de Melo; “Onde a Floresta Acaba”, de Otavio Cury; “Retratos de Piratininga”, de André Manfrim; e “Sertão, América”, de Marcela Ilha Bordin.
Conversas com diretores dos filmes estão previstas na programação. Entre os encontros previstos estão “Não Existe Almoço Grátis”, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel (4/08); “Amazônia, Arqueologia da Floresta – Episódio 1 (Temporada 2) Terra Preta”, obra inédita de Tatiana Toffoli (7/08); “Floresta, Um Jardim Que a Gente Cultiva”, de Mari Corrêa (10/08) e “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho (8/08).
Diretor do vencedor do Oscar “A Marcha dos Pinguins”, Luc Jacquet volta à Mostra Ecofalante de Cinema com o visualmente deslumbrante “Antártica: Continente Magnético”, uma aventura pela região do Polo Sul do planeta. O filme mereceu première no prestigioso Festival de Locarno, na Suíça.
A cantora Gaby Amarantos participa de “SobreVivências: Clima de Risco”, obra dirigida por Eduardo Rajabally sobre as mudanças climáticas que estão transformando nosso planeta de forma bastante radical. O filme integra a Sessão Especial Programa Ecofalante Universidades, projeto educacional da Ecofalante que promove exibições e debates socioambientais a escolas e universidades durante todo o ano. Esse título que estreia na Mostra vai entrar no catálogo, que é composto por mais de 250 títulos.
Já a Competição Latino-americana apresenta 17 títulos, representantes de dez países da região. Da Colômbia vem o longa “Rio Vermelho”, de Guillermo Quintero; e os curtas “A Menos Que Bailemos”, de Hanz Rippe Gabriel e Fernanda Pineda Palencia; “Rio Vermelho”, de Guillermo Quintero; e “Yarokamena”, de Andrés Jurado. As produções mexicanas selecionadas são “Você Vai Me Esquecer?”, longa de Sofía Landgrave Barbosa; e os curtas “Hikuri”, de Sandra Ovilla León; “Um Campo Que Já Não Cheira a Flores”, de César Flores Correa. Já a representação peruana inclui os longas “Histórias de Shipibos”, de Omar Forero; e “Céu Aberto”, de Felipe Esparza Pérez, selecionado no Festival de Roterdã. Participam obras do Chile (“Concórdia”, de Diego Véliz), Panamá (“Bila Burba”, de Duiren Wagua) e República Dominicana (“Ramona”, de Victoria Linares Villegas), ao lado de duas coproduções: uma Argentina/Cuba (“A Gruta Contínua”, de Julián D’Angiolillo); outra, Paraguai/Argentina (“Margens Luminosas”, de Maira Ayala).
A programação da Competição Latino-americana se completa com quatro títulos brasileiros: o longa “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho; e os curtas “Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet; “O Materialismo Histórico da Flecha Contra o Relógio”, de Carlos Adriano; e “Vão das Almas”, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape.
Seção competitiva dedicada a filmes de curta duração realizados em cursos e oficinas audiovisuais, o Concurso Curta Ecofalante tem na sua seleção desta edição um total de 25 títulos. Estão presentes trabalhos da ECA-USP, Unicamp, FGV, FAAP, PUC Minas, AIC – Academia Internacional de Cinema, Senac São Paulo, ETEC Jornalista Roberto Marinho, projeto É Nóis na Fita, Ceep Formação e Eventos Isaias Alves da Bahia, Formação Faculdades Integradas do Maranhão, oficina Geração Futura, Maranhão, Mato Grosso e das universidades federais de Alagoas, Minas Gerais, Paraíba, Pelotas, Rio de Janeiro, Santa Catarina e do Recôncavo da Bahia.
Para o público infantil, a Mostra Ecofalante de cinema apresenta o longa de animação “Yakari, Uma Jornada Fantástica”. Uma sofisticada coprodução entre Bélgica, França e Alemanha, nela uma criança indígena parte em uma jornada fantástica: encontrar um cavalo mustang conhecido por ser indomável.
Também é promovido no evento o 1º Encontro “A Sustentabilidade na Indústria Audiovisual”, evento anual presencial realizado em parceria com a Spcine e a Cinema Verde. Agendado para a manhã de sexta-feira, 9/08, o evento propõe uma discussão franca sobre a extensão da implementação de práticas sustentáveis na indústria cinematográfica brasileira no momento atual. Participam das duas mesas propostas profissionais de diferentes setores para compartilhar as experiências positivas e os desafios encontrados.
Todas as informações sobre exibições e demais atividades do evento podem ser encontradas na plataforma Ecofalante: www.ecofalante.org.br.
A 13ª Mostra Ecofalante de Cinema é viabilizada por meio da Lei de Incentivo à Cultura. Dirigido por Chico Guariba, o evento tem patrocínio do Itaú, Mercado Livre, Spcine e Prefeitura de São Paulo. O evento conta com o apoio da White Martins e da Synergia Socioambiental; e apoio institucional do Instituto Francês, WWF, Programa Ecofalante Universidades e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. A produção é da Doc & Outras Coisas, com coprodução da Química Cultural e parcerias do Instituto Akatu, Autossustentável, eCycle, Green Me, Greenpeace, Iniciativa Verde, Instituto Socioambiental, Observatório do Clima e The Climate Reality Project Brasil. É uma realização da Ecofalante, ProAC ICMS, Governo de São Paulo, Ministério da Cultura e Governo Federal.
A Ecofalante é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) que atua nas áreas de cultura, educação e sustentabilidade, atua na formação de professores, exibições e debates em escolas, universidades e aparelhos culturais, além de produzir seminários e workshops sobre cinema, educação e sustentabilidade. A Ecofalante é responsável também pela plataforma de streaming gratuita Ecofalante Play, voltada a educadores, e o Ecofalante Universidades, programa de extensão educacional.
SOBRE OS PROGRAMAS
Abertura
Agendada para 31/07, quarta-feira, às 19h00, no cinema Reserva Cultural, a cerimônia de abertura do evento tem como atração “O Fogo Interior: Um Réquiem para Katia e Maurice Krafft”, longa dirigido pelo consagrado Werner Herzog. Aqui, o cineasta alemão focaliza o casal pioneiro de vulcanólogos Katia e Maurice Krafft, que se tornou notório por dedicar sua vida a documentar de perto a magnitude das erupções vulcânicas. Com impressionantes imagens desses fenômenos naturais, o longa foi o grande vencedor do importante festival DOC LA (EUA). O longa integra as Sessões Especiais da 13ª Mostra Ecofalante de Cinema. Diretor de mais de 70 filmes, Herzog assina, entre outros, “Fitzcarraldo” (1982), “O Homem-Urso” (2005) e “Encontros no Fim do Mundo” (2007) – este último, indicado ao Oscar de melhor documentário. O festival promoveu, em sua sétima edição, retrospectiva com 18 títulos por ele assinados.
Panorama Histórico
Dedicado este ano a três cineastas mulheres de grande relevância na cinematografia latino-americana, o Panorama Histórico: Três Mulheres, Três Olhares sobre a América Latina traz produções assinadas pela cubana Sara Gómez (1942-1974), pela colombiana Marta Rodríguez e pela venezuelana Margot Benacerraf.
Desta última, falecida em 29 de maio último, aos 97 anos, está programado “Araya” (1959), ambientado na península de Araya, na Venezuela, um dos lugares mais áridos do planeta. O roteiro acompanha três histórias que sublinham a vida dura de seus habitantes desta região, que trabalhavam na exploração manual do sal e estão sendo substituídos pela industrialização da atividade. O longa venceu o prêmio da crítica no Festival de Cannes e ganhou projeções nos festivais de Berlim, Locarno e no BFI de Londres. Margot Benacerraf fundou em 1966 a Cinemateca Nacional da Venezuela, que foi berço de novas gerações de cineastas, além de ter sido promotora de festivais cinematográficos no país.
Exibido no Festival de Locarno, “De Certa Maneira” (1977), de Sara Gómez, foi eleito seguidas vezes como um dos títulos mais importantes da história do cinema cubano. Através de uma mescla de filmagens documentais e um roteiro de ficção, o filme aborda os bairros pobres de Havana logo após a Revolução Cubana de 1959, discutindo a questão de classe e raça através de um relacionamento interracial em que questões sobre racismo e machismo constroem uma visão crítica.
Já homenageado na seção Cannes Classics do Festival de Cannes, “Amor, Mulheres e Flores” (1984) é assinado por Marta Rodríguez e por seu parceiro e companheiro de vida Jorge Silva (1941-1987). O filme traça as características sociais dos trabalhadores da plantação de flores na capital colombiana, Bogotá, e suas reivindicações por melhores condições de vida e saúde, entre as histórias de vida e amor femininas. Com carreira iniciada em 1971, Marta Rodríguez é considerada uma das primeiras mulheres documentaristas da Colômbia a alcançar repercussão internacional. Com 90 anos de idade, ela continua na ativa – seu 19ª filme, “Camilo Torres Restrepo, El Amor Eficaz”, foi finalizado em 2022.
Panorama Internacional Contemporâneo
Reunindo 27 filmes, representando 11 países, o Panorama Internacional Contemporâneo tem entre seus destaques “TikTok, Boom”. Lançada pelo Festival de Sundance, a produção traz histórias pessoais do aplicativo mais baixado do mundo contadas por um elenco de nativos da Geração Z, jornalistas e especialistas. Sua diretora, Shalini Kantayya, é uma ativista ambiental norte-americana cujos filmes exploram os direitos humanos na interseção de ciência e tecnologia.
“Solo Comum”, longa premiado no Festival de Tribeca, conta com a participação de celebridades como Laura Dern, Woody Harrelson, Donald Glover e Rosario Dawson. A obra, dirigida por Joshua Tickell e Rebecca Harrell Tickell, explora como a agricultura regenerativa pode ajudar a curar o solo, a nossa saúde e o planeta.
Já o sueco “A Sociedade do Espetáculo”, de Roxy Farhat e Göran Hugo Olsson, é uma adaptação visual e humorística do clássico ensaio homônimo de Guy Debord. Criado a partir de imagens contemporâneas, materiais de arquivo e cenas originais, o documentário examina como a circulação de imagens cria vontades e muda a forma como nos vemos e interagimos uns com os outros.
Vencedor do prêmio de melhor direção da competição de documentários norte-americanos no Festival de Sundance, “Não Te Vi Ali” é o longa de estreia de Reid Davenport, um jovem cineasta cadeirante norte-americano. A chegada inesperada de uma tenda de circo em frente à sua residência o leva a revisitar a história do lendário P.T. Barnum e seu Circo de Horrores, cujo legado marcou a sua vida. A obra percorreu ainda prestigiosos festivais: São Francisco, Edimburgo, Sydney, Melbourne (Austrália), DOC NYC (EUA), Hot Docs (Canadá) e Sheffield DocFest (Reino Unido).
A produção holandesa “O Jogo Mental”, co-dirigido pelo jovem refugiado afegão Sajid Khan Nasiri e pelas diretoras Eefje Blankevoort e Els van Driel, mostra a face brutal da migração na Europa. O filme acompanha a experiência traumática de Nasiri, cuja travessia do Afeganistão até a Bélgica, à procura de segurança e de um novo lar, foi documentada com a única ajuda do seu celular.
“Plastic Fantastic”, da alemã Isa Willinger, constata que plásticos estão por toda parte – existem 500 vezes mais partículas de plástico nos oceanos do que estrelas em nossa galáxia. Encontra-se plástico não só nos mares, como também em rios, no ar, no solo e dentro de nós. Embora a crise se aprofunde e a reciclagem não dê conta do problema, a indústria do plástico continua a aumentar sua produção. O longa participou de importantes festivais internacionais de documentários, como o CPH:DOX (Dinamarca), Dokufest (Kosovo) e Festival de Documentários de Munique.
A produção francesa “Estado Limite” tem por protagonista o único psiquiatra do Hospital Beaujon, instalação de 400 leitos nos subúrbios de Paris. Dedicado aos seus pacientes, ele faz o possível para aliviar suas dores, ouvir suas palavras e os proteger de seus próprios demônios. No entanto, o serviço público de saúde vai mal – não há tempo suficiente e os cuidadores estão desmoronando. O filme venceu o prêmio de melhor longa-metragem francês e o prêmio da crítica no Festival de Champs-Élysées (França).
A caça de baleias é uma questão vital para o povo indígena da pequena Ilha de São Lourenço, no Mar de Bering. Portanto, quando Chris Agra Apassingok se tornou a pessoa mais jovem a arpar uma baleia para a sua aldeia no Alasca, sua mãe orgulhosamente compartilhou a notícia no Facebook. Para sua surpresa, milhares de ativistas digitais atacaram Chris sem compreender totalmente o alcance do feito dele. “O Povo da Baleia”, uma coprodução EUA/Rússia dirigida por Pete Chelkowski e Jim Wickens, acompanha a luta dos Apassingok para reconstruir sua identidade destroçada e encontrar um novo ponto de apoio tanto na tradição quanto na modernidade.
Coprodução EUA/Holanda, “Os Caçadores de Barragens” segue a viagem da engenheira ambiental espanhola Pao Fernández Garrido por diversos países para testemunhar a recuperação dos rios daquele continente. Dirigido por Francisco Campos-Lopez Benyunes, o filme nos revela quem são as pessoas que trabalham incansavelmente para remover barreiras fluviais e restaurar alguns dos mais icônicos rios da região.
Na produção da Suíça “2G”, o diretor Karim Sayad mostra como, após a repressão ao contrabando de pessoas, muitos residentes de Agadez – no Níger, um dos países da África Ocidental mais afetados pela emergência climática – embarcam em uma viagem pelo Saara para se juntarem a dezenas de garimpeiros perdidos no meio do deserto. Entre esperanças e desilusões, esses homens lutam para sobreviver num ambiente cada vez mais hostil e instável. A obra esteve selecionada no IDFA, de Amsterdã, o principal festival internacional de documentários da atualidade.
Exibido no prestigioso festival New Directors/New Films, de Nova York, “A Frota Chinesa”, de Will N. Miller, observa como membros de uma tripulação trabalham incansavelmente a milhares de quilômetros da costa para fornecer lulas para a cadeia alimentar global. O filme propõe uma exploração poética das motivações dos pescadores, da brutalidade dos abusos trabalhistas sistêmicos na indústria pesqueira chinesa e da destruição provocada pela mercantilização das pessoas e da natureza no nosso mundo globalizado.
Já “Água é Vida!”, de Will Parrinello, causou impacto no Festival de Mill Valley, nos EUA, onde venceu o prêmio do público. Com participação do astro Diego Luna, o longa revela que, enquanto a mineração e as hidrelétricas ameaçam o abastecimento de água na América Central e do Sul, os povos indígenas lutam para proteger os seus recursos e modo de vida. A câmera segue três líderes comunitários que enfrentam riscos de cárcere e assassinato enquanto lideram movimentos para proteger a água de empresas estrangeiras e governos corruptos.
Luc Jacquet, o diretor de “A Marcha dos Pinguins” (2005), vencedor do Oscar de melhor documentário, retorna à Mostra Ecofalante de Cinema com seu mais recente longa-metragem. “Antártica: Continente Magnético” é uma aventura visualmente deslumbrante a partir dos poucos milhares de quilômetros que separam a Patagônia do Polo Sul. O filme fez parte da seleção do Festival de Locarno, prestigiosa vitrine cinematográfica da Suíça.
Os padrões globais de cleptocracia e extrativismo são examinados no sueco “Breaking Social: O Fim do Contrato Social”, de Fredrik Gertten. O filme focaliza aqueles que quebram o chamado contrato social e recorrem aos paraísos fiscais e colhem lucros sem retribuir à sociedade. A obra circulou nos principais festivais de documentários, como o IDFA, de Amsterdã, Sheffield DocFest (Reino Unido), CPH:DOX (Dinamarca), Dokufest (Kosovo) e o Festival de Documentários de Munique.
Uma coprodução entre a Índia e a França que venceu o prêmio especial do júri no Festival de Sundance, “Contra a Maré” aborda diferentes posturas de pescadores de Mumbai: aqueles que seguem a lua e as marés, e os que adotam a tecnologia moderna. Tal conflito se passa diante de um mar que se torna cada vez mais hostil devido às alterações climáticas e os meios de subsistência são ameaçados.
Consagrado no Festival de Tribeca, onde foi eleito como melhor documentário e venceu o prêmio de melhor fotografia, “Entre as Chuvas” é uma coprodução EUA/Quênia. Filmado ao longo de quatro anos, a obra focaliza uma comunidade queniana na qual a infância se vê presa em uma cultura tradicional que é vítima das mudanças climáticas. No enredo, um jovem pastor questiona não apenas o seu caminho como guerreiro, mas também a erosão da cultura que moldou todos os aspectos da sua vida. A direção é assinada por Andrew H. Brown e Moses Thuranira.
Há 15 anos, o filme “Food, Inc.” alertou sobre uma realidade preocupante: as suas refeições diárias têm profundas consequências éticas e ambientais, com as corporações multinacionais aumentando sua influência. E, no entanto, como revela “Food, Inc. 2”, de Robert Kenner e Melissa Robledo, as empresas da alimentação apenas reforçaram o seu controle sobre os supermercados. O filme acompanha agricultores inovadores, produtores de alimentos com visão de futuro, ativistas dos direitos trabalhistas e legisladores proeminentes, que enfrentam essas empresas para inspirar mudanças e construir um futuro mais saudável e sustentável.
Qual é o preço que alguns pagam pela carne suína do mundo? Este é um dos temas levantados em “O Cheiro do Dinheiro”, filme de Shawn Bannon que foi eleito como melhor documentário no Festival de Sarasota (EUA). Na obra, uma comunidade rural da Carolina do Norte se torna o epicentro da explosão da indústria suína nos EUA e a batalha de seus residentes se transforma numa guerra contra uma das empresas mais poderosas do mundo e sua poluição devastadora. O filme trata de racismo ambiental de forma contundente.
“Humano Não-Humano”, uma produção belga dirigida por Natan Castay, acompanha um operário que passa noite e dia desfocando rostos no Google Street View por um centavo cada. Ao lado de seus colegas, ele mergulha em um mundo robótico que questiona a noção de humanidade. Melhor curta-metragem documental nos Prêmios Magritte du Cinéma (Bélgica), o filme mereceu menção honrosa no importante festival Doclisboa.
O perturbador longa francês “Knit’s Island” mergulha em um lugar da internet onde existe um espaço de 250 quilômetros quadrados onde indivíduos se reúnem em comunidade para simular uma ficção sobrevivencialista. Sob o disfarce de avatares, uma equipe de filmagem entra nesse local e faz contato com os jogadores. Quem são esses habitantes digitais? Eles estão realmente jogando? Dirigida por Ekiem Barbier, Guilhem Causse e Quentin L’Helgoualc’h, esta animação venceu o prêmio de melhor filme no Festival de Documentários de Montreal e foi eleito como melhor filme da competição Burning Lights do Visions du Réel (Suíça).
“Mil Pinheiros”, de Sebastián Díaz Aguirre e Noam Osband, acompanha um dos imigrantes que dependem do polêmico programa de visto de trabalhador convidado nos Estados Unidos. Ele está em sua décima nona temporada trabalhando para a maior empresa norte-americana de reflorestamento e precisa equilibrar suas responsabilidades para com a esposa, os filhos e a mãe idosa com problemas cardíacos no México, e as necessidades e emergências da equipe de plantio.
Em “Quebrando o Jogo”, a gamer Narcissa Wright, depois de se assumir como uma mulher trans, perde sua enorme base de fãs. Para reconquistá-la, ela tenta estabelecer um novo recorde mundial, enquanto transmite ao vivo cada minuto de sua busca mítica. A partir de um arquivo de mais de três mil horas de transmissões de Narcissa, depoimentos e animação 8 bits, o documentário expõe a cultura gamer, assédio online e as implicações de viver uma vida digital para a saúde mental. Dirigido por Jane M. Wagner, esta produção norte-americana venceu o prêmio especial do júri no Festival de Tribeca.
Em 2021, uma das cinco maiores petrolíferas do mundo, a Total, passou a ser TotalEnergies. Mas como uma empresa petrolífera se transforma numa empresa de energia? Será que ela realmente poderá realizar a transição energética? Essas questões estão em foco na produção francesa “O Sistema Total, Anatomia de uma Multinacional da Energia”, de Jean-Robert Viallet, que revela ainda: o petróleo e o gás continuam no centro das atividades dessa multinacional, deixando dúvidas sobre a eficácia da transição ecológica anunciada.
Por sua vez, o suíço “Os Motivados”, de Piet Baumgartner, acompanha durante sete anos a elite empresarial de amanhã, desde os seus estudos na Universidade de São Galo, no mais prestigiado programa de mestrado desse setor no mundo, até os primeiros estágios das suas carreiras. Exibida no IDFA, de Amsterdã, a obra questiona: quem chega ao topo? Que valores essas pessoas representam? E elas estão conscientes de sua responsabilidade social?
Dirigido por Daniel McCabe, “República dos Gafanhotos” embarca nas profundezas das florestas do Uganda, onde milhões de gafanhotos reúnem-se para acasalar. Aproveitando-se do acontecimento, o homem encontrou uma maneira de lucrar com este belo ciclo reprodutivo. O documentário acompanha, em estilo cinema verdade, uma equipe local de captura, enquanto esses exploradores modernos percorrem florestas e remotos vilarejos em busca de fortuna.
As tensões e os dilemas entre a mercantilização e a conservação estão no centro do longa canadense “Silvícola”, de Jean-Philippe Marquis. Florestas antigas, com árvores que existem há milhares de anos, têm um valor inestimável do ponto de vista econômico, cultural e ambiental – mas, hoje, a sua existência está em perigo.
Em 2022, um grupo de trabalhadores fez história ao vencer a eleição e conquistar o primeiro local de trabalho sindicalizado da Amazon nos EUA. O longa “Union” registra essa que é tida como a mais importante vitória trabalhista desde a década de 1930. Enfrentando uma superpotência corporativa e com poucas proteções legais para os trabalhadores, todas as probabilidades estão contra o Sindicato. No entanto, eles permanecem inabaláveis em suas crenças na ação coletiva, na dignidade e no poder da classe trabalhadora. A obra, dos diretores Brett Story e Stephen Maing, foi a vencedora do prêmio especial do júri no Festival de Sundance.
Competição Latino-americana
A Competição Latino-americana reúne 17 títulos, incluindo sete longas e dez curtas-metragens. Estão representados dez países da região: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, México, Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana.
Entre os brasileiros, está o longa “A Transformação de Canuto”, de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, vencedor do prêmio de melhor filme da Competição Envision no IDFA, de Amsterdã e eleito melhor filme (Grand Prix Nanook-Jean Rouch) no Festival Jean Rouch, na França. Passado em uma pequena comunidade Mbyá-Guarani entre o Brasil e a Argentina, onde um filme está sendo feito para contar a história de um homem que, muitos anos atrás, sofreu a temida transformação em onça e, depois, morreu tragicamente.
Coprodução entre a Argentina e Cuba, “A Gruta Contínua” acompanha um grupo de exploradores que persegue correntes de ar para entrar nas profundezas da Terra. Uma gruta na Itália continua de tal forma que desemboca em um refúgio cubano propício para resistir a invasões e desastres. A conclusão do filme, dirigido por de Julián D’Angiolillo e exibido no Festival de Havana e no Doclisboa, é que haveria um futuro subterrâneo.
Rara produção do Panamá a circular em telas brasileiras, “Bila Burba” retrata uma encenação feita anualmente por habitantes originais do norte daquele país. Nesse evento, recuperam a bem-sucedida revolta ocorrida em 1925 contra o repressivo governo panamenho. Selecionado para o IDFA, de Amsterdã, o longa de Duiren Wagua mostra que manter vivo esse passado é crucial para a preservação da identidade coletiva.
Selecionado para o prestigioso Festival de Roterdã, a coprodução Peru/França “Céu Aberto” observa um pai peruano que trabalha pacientemente quebrando a pedra branca vulcânica em uma paisagem extraordinária. Seu filho faz parte do mundo moderno: usa câmeras e drones para criar no computador a maquete digital de uma igreja. Seus caminhos se cruzam de maneira fantasmagórica: cada um a seu modo trabalha com texturas e volumes, sensações e percepções. A pergunta que o diretor Felipe Esparza Pérez coloca é: poderá o reino da arte digital recriar e reviver o velho mundo?
Em “Histórias de Shipibos”, de Omar Forero, um menino de um grupo étnico da Amazônia peruana é criado pelos avós em contato direto com a floresta e seus habitantes. À medida que cresce e entra em contato com a vida urbana, ele renuncia à sua cultura para evitar a discriminação.
Exibido no Festival de Berlim, “Ramona” é uma produção da República Dominicana que embaralha as fronteiras entre ficção e não-ficção. O filme acompanha uma jovem atriz que se prepara para assumir o papel de uma adolescente grávida que mora na periferia da capital Santo Domingo. Insegura no papel, ela começa a entrevistar jovens mães sobre gravidez e maternidade. Ao longo desse processo, elas mesmas passam a influenciar a produção do filme, alterando seu rumo. A direção é assinada por Victoria Linares Villegas.
“Rio Vermelho” focaliza três personagens que vivem em comunhão com a natureza na região do mítico Rio Vermelho, no norte da Amazônia colombiana. Mas essa área, antes preservada pelo conflito com as FARC, é agora vítima da sua beleza e corre perigo com a chegada de novos visitantes. Exibido no festival Cinéma du Réel, esta coprodução franco-colombiana é dirigida por Guillermo Quintero.
Os curtas-metragens brasileiros selecionados para a Competição Latino-Americana são “Cama Vazia”, de Fábio Rogério e Jean-Claude Bernardet, vencedor de menção honrosa no Festival de Gramado; “O Materialismo Histórico da Flecha contra o Relógio”, de Carlos Adriano, com imagens de povos indígenas brasileiros em 1917 e 1922 e em manifestações antifascistas de 2022; e “Vão das Almas”, de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape, eleito melhor filme e melhor direção no Festival de Triunfo e melhor curta de ficção no Festival de Trancoso.
Três curtas mexicanos estão na competição: “Um Campo Que Já Não Cheira a Flores”, de César Flores Correa, vencedor de menção especial no Festival de Cinema Ambiental de Morón (Argentina);“Você Vai Me Esquecer?”, de Sofía Landgrave Barbosa, passado em cidade nos limites da selva amazônica do Peru; e “Hikuri”, de Sandra Ovilla León, sobre uma comunidade que viu empresas mineradoras contaminaram sua água, envenenando as plantas e animais.
Estão selecionadas duas produções colombianas: “Yarokamena”, de Andrés Jurado, selecionado pelo Festival de Berlim e vencedor de menção especial no Doclisboa; e “A Menos Que Bailemos”, de Hanz Rippe Gabriel e Fernanda Pineda Palencia, sobre um professora de dança afro que empreende uma iniciativa para resgatar jovens do crime na cidade com os maiores índices de homicídios da Colômbia.
Completam a seção o chileno “Concórdia”, de Diego Véliz, selecionado para o Bafici, de Buenos Aires, e para o Cinélatino. Rencontres de Toulouse (França); e a coprodução Paraguai/Argentina “Margens Luminosas”, que traz imagens térmicas captadas pela realizadora Maira Ayala flagrando movimentos noturnos no meio do Rio Paraná de mulheres trabalhadoras conhecidas como.
Competição Territórios e Memória
A nova seção da Mostra Ecofalante de Cinema, Competição Territórios e Memória é integralmente dedicada à produção brasileira. Em sua edição inaugural estão 27 filmes, representando 11 estados e o Distrito Federal.
“À Margem do Ouro” focaliza a região do Rio Tapajós é a maior produtora de ouro do Brasil e abriga histórias de homens