Por Marcelo Trotta, ABC
Já no meio da pré-produção de uma série que vai me ocupar até novembro, parti para Los Angeles no dia 31 de maio. O ASC ICS em si só começaria no dia 4 de junho, mas fui por conta uns dias antes para checar as novidades na CineGear. Foi uma experiência muito importante e esclarecedora sobre onde estamos com a nossa indústria, no sentido de produção e distribuição/público no âmbito nacional e também em um ambiente internacional, ou, até poderíamos chamar, internacionalizado.
Muita gente diz que o Brasil não tem indústria cinematográfica ou que estamos numa eterna expectativa de crescimento enquanto indústria, mas este crescimento nunca chega. Eu não sou partidário desse tipo de lógica. Creio que temos uma indústria sólida (claro, ainda precisando de muitos aprimoramentos, sobretudo políticos e gerenciais) e o tamanho dela é ditado por vários fatores que passam pela quantidade de público, formatos de financiamento, divisão da distribuição com a forte concorrência internacional, novos formatos de distribuição, como o VOD e por aí vai. Uma coisa é certa: dificilmente teremos uma indústria do tamanho da americana e um dos motivos mais óbvios é que nós somos um dos financiadores desta produção. Sem o mercado internacional Hollywood seria bem menor. Isso pra dizer duas coisas: 1) que a gente não deveria ter esse tipo de expectativa; e 2) que a organização e empenho dos caras é admirável.
Na CineGear fiquei com esses sentimentos misturados. Por um lado, é uma feira excelente com muitas novidades e alguns equipamentos que só uma grande indústria suporta. Por outro, uma vez que a CineGear se deu um mês após a Semana ABC, estamos totalmente incluídos no circuito internacional. Todas as grandes novidades dos grandes fabricantes estavam presentes na Semana ABC. Um mês antes! Fiquei feliz que os profissionais brasileiros hoje têm esse acesso, que antes era tão difícil. Isso é o resultado do trabalho duro da nossa associação, durante anos, construindo um ambiente de excelência técnica e artística que atraiu os fabricantes de ponta.
Para quem nunca foi, eu recomendo. A feira é completa, organizada e tem também boas mesas.
ASC ICS
No dia 4 começou o ASC ICS. Foi muito intenso, com uma programação cheia de atividades bem variadas e na maioria dos dias se estendeu das 7h30 às 21h, com café, almoço e jantar no ASC Clubhouse. Também visitamos outros lugares fora de lá. Foram representantes de mais de 40 países. Como também estava representando a Federação Latino-americana de Autores de Fotografia Cinematográfica (na ausência de nosso Secretário-geral Ricardo Matamoros, SVC), fiquei bastante com os colegas latino-americanos, mas também fiz questão de me relacionar bastante com os colegas de outros continentes, mirando inclusive nos países que eu conhecia menos como Filipinas, Estônia, Eslováquia etc. Vou fazer abaixo um resumo dessa imersão:
Dia 1
Começamos com um café da manhã no ASC Clubhouse e então embarcamos em vans para o Imax em Universal City Walk. Lá aconteceu o primeiro evento do Summit: “The Maximalists: the aesthetics of shooting Large Format & the importance of film”. Uma conversa, já dentro do cinema, com o diretor Christopher Nolan, o diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema, ASC, FSF, NSC e a produtora executiva de “Dunkirk”, Emma Thomas.
Hoyte falou um pouco de suas experiências com Nolan em large formats em “Ïnterestellar”. Nolan disse que fez todos os seus longas em filme e que acredita que a textura seja única e inimitável. Falou também sobre sua ideia de fazer “Dunkirk” inteiro em Imax e 65mm, sem nenhuma parte em 35mm. Segundo ele, só esse formato daria ao filme o escopo que ele estava pretendendo e também seria um jeito bem-vindo de filmar as cenas mais de drama, mais, digamos, “intimistas”. Hoyte acrescentou que filmar com esse tipo de formato e essas lentes fez com que ele abordasse a iluminação de um jeito mais naturalista, uma vez que só pelas características de profundidade, etc., já vinha um look lindo e que ele sentia menos necessidade de estilizar ou incrementar através da iluminação. A produtora Emma Thomas se colocou dizendo que mesmo antes de ver os testes, que segundo ela eram maravilhosos, já estava apoiando as decisões artísticas do diretor e do diretor de fotografia. Todo esse processo e formato foram orçados e mesmo para este orçamento ficou caro. No entanto, ela nunca disse aos realizadores que não seria possível. Conversou com Nolan para ver onde ele poderia reduzir em outros departamentos e tudo se acomodou sem estouros. Na sequência assistimos a uma projeção em Imax do filme (eu já havia assistido em Imax em São Paulo, no Bourbon). Foi muito interessante uma conversa cheia de sinceridade e viço.
Saímos ao meio-dia e regressamos ao Clubhouse, onde os representantes se apresentaram formalmente e falaram rapidamente uma ou duas frases sobre suas associações.
Quem capitaneou a organização do evento foi o Suki Medencevic, ASC, assistido pelas super eficientes Delphine e Patty.
Na parte da tarde começamos com “ASC presentes The Crown”, um encontro com nosso associado Adriano Goldman, ASC, ABC, falando sobre suas experiências na segunda temporada de “The Crown” (que venceu o ASC Awards de melhor cinematografia para série). Adriano deu um depoimento super vívido e mostrou trechos lindos da série.
Falou sobre como é importante para ele se inspirar nas atuações. Crê que ser ator/atriz é a profissão mais difícil do mundo e que ver aquela entrega faz com que ele se envolva e, então, possa fazer a tradução visual do que está sendo contado de maneira totalmente imersa. Falou um pouco sobre o seu uso de mescla de temperaturas de cor, das opções que usou para representar diferentes momentos do dia, do uso de fontes grandes, à distância e filtradas com vários layers. Sobre o uso de múltiplas câmeras, disse que a série tem uma característica conceitual de single câmera, mas que há sempre uma segunda câmera que eventualmente ‘é usada para coberturas simultâneas’ (só em situações em que não atrapalhe a iluminação e o posicionamento da câmera principal). Ressaltou ainda a qualidade do texto e a forma quase obsessiva com que o Peter Morgan pesquisa a história e seleciona trechos que empurrem a narrativa. Muitas pessoas ficaram curiosas a respeito da opinião da família real, mas Adriano contou que a produção não tem nenhuma relação de aprovação ou algo do tipo com a realeza. Outra curiosidade despertada foi sobre a relação do Adriano com o Stephen Daldry e então ele falou sobre a experiência anterior no “Trash” e sobre o processo super azeitado que eles vivem. Comentou sobre a forma como Daldry sempre puxa as coisas um pouco mais para um lado mais fantasia e o resultado do trabalho conjunto deles é uma imagem que tem um glamour e uma estética respeitando o que poderia ser uma luz possível, real.
Esse encontro durou duas horas e depois tivemos um meet&greet com os patrocinadores do ASC ICS, que montaram uma pequena exposição dentro do Clubhouse com seus produtos. Em seguida aconteceu o jantar de abertura do evento e assim terminou o primeiro dia.
Dia 2
O segundo dia teve muitas atividades, começando também às 7h30. Fomos para a Academy of Motion Pictures, Arts & Science. Fomos recebidos pelo atual presidente, o diretor de fotografia John Bailey, ASC, que já esteve no Brasil como convidado de uma Semana ABC. Ele fez um discurso de boas-vindas. Na sequência, tivemos uma série de palestras super técnicas e muito interessantes, todas ao redor do ACES. Primeiro Annie Chang e Steve Tobenkin fizeram uma explicação teórica desmistificadora do ACES e depois abriram para perguntas. Falaram sobre as evoluções como DAS, Delivery and Archive Standards, SMPTE ST 2067-50 ACES IMF, equivalente digital para o negativo de armazenamento, com imagem e som.
Além disso, o site deles é muito rico e cheio de informações, vale a pena conferir: www.acescentral.com – e vale a pena estudar esse tema, não é uma coisa do futuro, este tipo de exploração de espaço de cor já está acontecendo com grande adesão – estou fazendo o color grading de uma série aqui no Brasil já todo em ACES.
Depois foi a vez de Joachim Zell, ACES Project vice-chair e VP de tecnologias da Efilm / Deluxe falar sobre uma investigação que eles estão fazendo sobre o Exposure Index das câmeras. Há muita inconsistência nas ISO nativas anunciadas pelos fabricantes, então eles criaram um método para aferir com mais precisão para poder, entre outras coisas, criar LUTs para a filmagem. Fomos até uns pequenos estúdios da Academia onde eles estão conduzindo essa investigação, com testes em ambiente extremamente controlado.
Geoff Boyle apresentou suas soluções para LUTS no set, inclusive para uso em produções em ambiente non-ACES (www.cinematography.net/ACES-LUT’s-for-use-in-a-non-ACES-environment.html).
Depois do almoço tivemos uma apresentação com múltiplos palestrantes sobre o SSI (Spectral Similarity Index), que é um formato de medição de acuracidade de cor. Nasceu da necessidade de uma diferenciação mais precisa dos espectros emitidos por fontes de luz como LEDs, fluorescentes etc. Fontes com o mesmo CRI podem dar resultados bastante diferentes, sobretudo por conta das enormes diferenças nos “picos” e “vales” que cada equipamento ou tecnologia pode proporcionar. O estudo se baseia nas diferenças entre o que a gente usa como referência, que tem a ver com o que o olho humano pode enxergar, e o que as câmeras podem ver. Dessa maneira eles fizeram um cálculo que se apoia na área resultantes das não intersecções para gerar um número de SSI, que parece ser capaz de dizer mais sobre o espectro de uma fonte do que o CRI, sobretudo quando o assunto é tom de pele.
Partimos para o Dolby Cinema Experience Theater onde o assunto foi: “Exploring The Unique HDR look of ‘Mindhunter’”. O colorista Eric Weidt e o supervisor de pós-produção Peter Mavromates falaram sobre sua colaboração com o David Fincher para elaborar o look do thriller psicológico seriado “Mindhunter”. Eles estavam com um baselight ao vivo carregado com imagens da série projetando em Dolby Vision na telona. Falaram sobre como desenvolveram um look dos anos 70 através de vários artifícios. O color grading durou 10 meses (!) e teve muitas curiosidades. Fincher filmou em esférico com Leicas Summilux e câmeras RED. Mas queria um look anamórfico e de época. Eles croparam para 2.35, acrecentaram uma distorção nas bordas e adicionaram esferocromatismo, mas diante dos testes, Fincher quis somente o “lado” verde do fringing então não havia o “lado” púrpura do fringing nas áreas de alto contraste. Um mês de grading por episódio…
Partimos de volta para o ASC Clubhouse. Muitas atividades pela frente ainda nesse dia.
Lukas Teren, ASK, o jovem presidente da associação eslovaca apresentou um curta que é um portrait do inventor eslovaco Ivan Putora, criador do famoso Putora definition chart.
Marek Jicha, ACK dirige a cinemateca da Eslovênia e lá eles encontraram um pedaço de filme dos mais antigos. Filmado por Etienne Jules Marey entre 1888 e 1904 em um formato grande de 88mm e a 12 fps, mostra a Place de La Concorde na época com um enorme trânsito de pessoas, carruagens, etc. De tirar o fôlego! Todos suspiraram na sala. As imagens foram escaneadas e restauradas em 13k. Fizeram também uma estabilização “na mão”, uma vez que a película não tinha perfurações. Realmente incrível.
Em seguida foi a vez da “Introdução à Imago” com Paul Rene Roestad, FNF. Ele falou sobre a Federação Europeia (da qual a ABC é membro associado). Aparentemente eles estão querendo transformar a federação em um organismo mundial.
Depois foi a vez de Philippe Ros, AFC falar sobre o Imago Technology Committee. Contou um pouco sobre o Imago Technical Survey (que foi preenchido por alguns sócios da ABC aqui no Brasil) e sobre o trabalho geral do committee. Depois, numa conversa particular comigo ele falou sobre aumentarmos a interação entre associações e se mostrou muito interessado pela ABC. Acho muito importante. Louis-Philippe Capelle, SBC, que também esteve na Semana ABC 2018, falou sobre os comitês da Imago e sobre o movimento de cada vez mais transformar a Imago em uma federação mundial.
Para terminar o dia, Elen Lotman, ESC fez uma palestra deliciosa sobre Cinematografia & Percepção, abordando temas de apreensão neurológica de imagens etc.
Dia 3
Começamos com o café da manhã no Clubhouse e na sequência partimos para o Winnetka Pacific Theaters. Fomos para uma das salas onde há uma tela Samsung Onyx Led Cinema Display. A tela é 4k e mede 10,2m x5,4m. Cada um dos photosites tem 1mm e fica a 2,5mm de distância do outro. Com isso, eles recomendam uma distância mínima para que não se veja a trama dos pixels. Tivemos uma apresentação de material e depois uma conversa com representantes da Samsung e Curtis Clark, ASC. A maioria do material apresentado era em HDR, com aquele exagero, uma imagem “estalada”. Como sempre, no começo das tecnologias, o pessoal exagera para “mostrar a diferença”. De início as pessoas presentes acharam a imagem videoish, mas logo ficou claro que era uma questão das imagens projetadas. Quando veio uma imagem SDR mais comum a gente pode apreciar e ver que a imagem é bem boa. A coisa do contraste é bem maluca de se ver. Quando você tem um projetor, por mais potente que seja (como o laser que vimos no dia anterior no Dolby Theater), as regiões escuras só projetadas na tela, você vê alguma informação. Nessa telona de LED, quando a imagem tem áreas pretas não há informação, aquele ponto da tela não emite nada. Então, o preto é preto mesmo, a ponto de não se ver nem os limites da tela (que no caso de uma projeção ficam aparentes mesmo quando está sendo projetado um quadro negro, de créditos, por exemplo). Somando com os 300 nits de uma imagem HDR, o resultado é uma sensação de contraste enorme. Eles apresentaram também uma tela dividida com a mesma imagem, em um lado a 48 nits e no outro a 300 nits. Isso gerou uma conversa muito interessante sobre HDR, no sentido de que ali poderiam ser apresentadas imagens com um grading que utiliza todo o “teto” de 300 nits, mas que esse limite não precisa necessariamente ser usado. Para imagens com uma área muito grande muito luminosa, em um cinema tão vedado como aquele, o resultado pode ser incômodo, muito brilhante, cega. Ficou claro que o uso de HDR será crítico. Vamos precisar de bom gosto e bom senso…A tecnologia do Onyx pareceu bem interessante. Mas ainda é bem cara e tem restrições de tamanho.
Ao fim aconteceu um Q&A e embarcamos de novo nas vans em direção à Panavision.
Dan Sasaki fez uma apresentação bem rica, começando por uma análise de uma era esquizofrênica no que diz respeito a formatos, aspectos e sensores diferentes.
Depois falou um pouco sobre como o olho percebe a resolução, muito mais concentrada no centro. Outro assunto abordado é o fato de que nossa mente de certa maneira deduz assuntos visuais de acordo com a nossa experiência.
Diante desses temas, ele explicou que a Panavision não tem necessariamente o objetivo de fazer as lentes mais corrigidas. Eles têm óticas bem “limpas” e tecnicamente impecáveis, mas também fazem outros jogos, mirando mais em diferentes caráters e jogando com o jeito que o olho apreende as imagens.
Na sequência, veio Michael Cioni que entrou para apresentar as câmeras Panavision DXL2 e DXL M. Essas câmeras usam uma base RED e acrescentam o colour Science da pós-produtora Light Iron, que foi comprada pela Panavision. Então eles usam os sensores e tecnologia da RED, mas completam com outros menus e uma abordagem mais voltada para cinema. Achei o equipamento interessante. Eles têm um viewfinder proprietário HDR de 600 nits e uns LUTs bem cinematográficos. A DXL M é a versão compacta de 3.5 Kg.
Depois eles mostraram o sistema de ND variável LCND de cristal líquido. Ao contrário de outros NDs variáveis que trabalham com polarização e alteram muito a imagem, esses são bem límpidos e trabalham com descargas elétricas em um cristal líquido transparente. Vão de 2 a 8 stops sem alteração na imagem. É todo um sistema que tem que usar o parassol específico.
Sobre as lentes, muitas novidades. Quase todas agora têm motores de foco e abertura internos e as informações são passadas pelo bocal. Ou seja, comando de foco sem motores engatados na lente. Isso permitiu que eles fizessem uma pequena linha de lentes voltadas para drones e gimbals que puderam receber um selamento bem sofisticado, uma vez que não tem anéis de foco e abertura. É a linha Primo X: 14mm T3.1, 24mm T1.6 e 24-70mm T2.8.
Em seguida apresentaram quatro séries:
Série H: são as menos corrigidas, cheias de personalidade. Cobrem full frame e têm coatings que favorecem flares, apresentam distorções, respiro, etc. A 50mm e a 55mm são T1.
Série PanaSpeed: também cobrem o FF e são mais clássicas, abertura 1.4.
Série UltraVista: para filmagens no aspecto Ultra Panavision 2.76:1 (como em “Hateful Eight”, do Tarantino).
Série Primo 70: set mais clean e com imagens mais perfeitas.
Eles filmaram um teste comparativo com as quatro séries e o resultado que cada uma proporciona é bem diferente. Uma boa variedade de looks.
Voltamos para as vans e partimos para a Fotokem. Lá tivemos três atividades. Primeiro um papo com Steve Yedlin, ASC e o colorista Walter Volpatto falando sobre seu trabalho em “Star Wars: The Last Jedi”. Eles mostraram trechos e comentaram sobre a mistura que foi feita de 35mm com Alexa RAW. Em algumas cenas a alternância foi de plano para contra-plano. Que coragem. Mas o resultado é imperceptível. Yedlin desenvolveu um algoritmo para aplicar grão, que proporciona grãos diferentes para diferentes luminâncias, através da análise da imagem específica de cada cena. Interessante. A escala de um filme desses é realmente uma loucura.
Depois vimos uma apresentação de um vídeo que foi feito para os executivos e produtores executivos da HBO explicando o que é e como funciona o HDR. Ficamos achando que eles caíram naquele tipo de exagero que resulta em uma imagem meio artificial. Mas foi muito interessante ver uma empresa como a HBO tendo esse tipo de iniciativa instrutiva para seus executivos.
A terceira atividade foi visitar a sala de color grading no The Lodge, que é uma área da Fotokem dedicada a fluxos de trabalho colaborativos para filmes independentes e de baixo orçamento. Um DP e um colorista mostraram trechos do longa indie “All Creatures Here Below”. Interessante sair de uma sala com trechos de Star Wars e depois entrar nessa.
21h entramos nas vans para voltar e assim terminou o dia 3.
Dia 4
O último dia começou com uma mesa sobre a “Celebração da Diversidade nas Equipe”. Alguns DPs que fazem parte do comitê ASC Vision, membros da ACS da Austrália e a coordenadora da união Iatse Local 600, que é mulher e negra. Nancy Schreiber, ASC começou relatando sua experiência, inclusive o início como gaffer em NY. Ela contou um pouco sobre como foi o “Womens Day At the Clubhouse”. Bem produtivo e marcante. Outros debatedores falaram sobre preconceitos não só de raça e gênero, mas também de idade. Achei um tópico bem importante, uma vez que muitos colegas sofrem esse tipo de discriminação. A coordenadora da Local 600 se colocou com muita clareza, explicou os percalços da luta para erradicar todos os tipos de preconceito que atinge os 6000 associados. Ela relatou também que a diretoria da União está bem atenta ao fato de que alguns associados homens brancos estão se sentindo as vezes marginalizados e que as políticas de inclusão podem implicar na condição de um ou uma diretor(a) de fotografia ter que abrir mão de trabalhar com alguns parceiros de longa data. Eles têm realizado convenções para discutir esses temas. A ACS mostrou seu programa de inserção com um programa nacional enorme que dá aulas de audiovisual para crianças, introduzindo-os nesse assunto e nesse tipo de vivência, com um efeito redutor de seleção preconceituosa por gênero ou raça.
A segunda atividade foi uma apresentação do português Tony Costa, AIP. Ele mostrou um trecho de um filme que está coordenando como parte de seu trabalho de PHD na Universidade de Lisboa. É um filme baseado no poema “Dejeneur du Matin”. Ele convidou um diretor para dirigir uma mesma cena três vezes, cada uma com um DP diferente. No mesmo ambiente e com os mesmos atores. Cada um escolheu equipamentos diferentes e eles não tiveram contato. Como era de se esperar os resultados foram bem distintos.
Depois Rolf Coulanges, BVK mostrou um interessantíssimo estudo: “A Vision of Painter’s Framework For The Digital Image Texture”. Ele pegou uns quadros de pintores clássicos e fez uma análise de espaço de cor e de como cada um utilizou a escolha de cores e densidade para conseguir um determinado efeito. Depois ele pegou essas imagens e deu uma analisada em um equipamento de color grading com o Peter Potsma da Filmlight.
Ainda na parte da manhã, a Claire Pjiman, NSC deu uma prévia do documentário que ela fez e que iríamos ver no dia seguinte sobre o mestre Robby Muller. Ela teve a chance de trabalhar com ele e depois ficaram amigos. Robby ficou muito doente, com uma doença degenerativa que o impede de falar e andar. A mulher dele deu para Claire umas caixas com muitas fitas Hi8 que o Robby fazia documentando suas filmagens e viagens. Super emocionante. Conta com o depoimento do presidente da Kino Flo que foi gaffer dele.
Seguindo tivemos outra mesa com o Steven Poster, ASC que é o atual presidente da Iatse Local 600 falando sobre segurança no set e outros assuntos dessa União. Foram vários temas muito importantes. Primeiro falou-se sobre o caso da assistente de câmera que faleceu atingida por um trem em uma filmagem, a Sarah Jones, e todos os movimentos que decorreram desta terrível tragédia. Houve uma enorme mobilização em muitos níveis e o diretor do filme foi condenado à prisão em regime fechado por dois anos. O assunto de filmagens muito longas foi abordado e eles mostraram um vídeo de depoimentos com pessoas que se acidentaram ao sair de filmagens muito extensas. Foi muito emocionante, várias pessoas às lágrimas no Clubhouse. O próximo assunto também foi muito importante: filmagens com atores dirigindo e câmeras no banco do passageiro sem nenhuma condição de segurança. Foi projetado o vídeo com o crash test e o dummie dentro do carro segurando uma câmera. Na hora da colizão o airbag se abre e… Todos esses vídeos estão na página da Local 600 no Vimeo: https://vimeo.com/icglocal600
Outro assunto ainda ligado à segurança e saúde foi o tema de bombardeamento de rádio-frequências. Fabricantes como a Teradek por exemplo dizem que a distância segura de ficar do transmissor é de 7,5cm, mas é muito comum que a gente fique a menos distância que isso por muitas horas. Esse é um tema que deve ser abordado com os assistentes de câmera para que eles pensem nisso na hora de configurar o setup de acessórios da câmera. Outras questões que foram citadas são o direito de estar presente nos color gradings, questões de assédio sexual e, por fim, um clamor para que principalmente as equipes mais jovens, fiquem ligadas no set e cuidem uns dos outros.
A próxima atividade foi um bate papo entre o Suki Medencevic, ASC e duas produtoras executivas da Amazon falando sobre os “Last Trends on Streaming”. Foi uma conversa bem variada que versou sobre muitos temas. Elas afirmaram que a Amazon não tem uma política super rígida em relação a deliveries specifications. Fizeram recentemente um longa em Super 16mm e preferem acatar as decisões artísticas dos realizadores. Estão atentos para vozes singulares e temas culturalmente relevantes. Estão também comprometidos com exibição dos filmes que produzem nos cinemas.
Depois foi a vez da conversa com os agentes. Vieram cinco representantes de agências grandes de Los Angeles. Alguns mais simpáticos, outros nem tanto… Aquela história: “não nos procurem, a gente procura vocês. Se vocês brilharem em seus países a gente vai encontrá-los”. Aconselharam que os DPs tenham sites informativos, porém enxutos, só com o melhor dos reels. E falaram sobre a importância de ter um Instagram bonito, interessante, mas também verdadeiro, que mostre também seu viés cinematográfico nas coisas cotidianas. Ressaltaram que a primeira coisa que um diretor vai olhar é o Instagram.
A última coisa foi a apresentação dos clipes das associações. Nós levamos um pequeno vídeo de dois minutos com trechos de filmes da retomada, vencedores dos últimos Prêmios ABC e uma certa variedade de estilos. Não foram todas as associações que conseguiram preparar os vídeos, mas o que teve foi muito interessante. É bom ver como cada país tem a sua marca, ditada por costumes, tipo de clima, estilo arquitetônico etc.
O evento foi encerrado por um divertido jantar de confraternização. Lindo ver nossa comunidade unida e celebrando o aperfeiçoamento do fazer cinematográfico.
Algumas fotos são minhas e outras cortesia da ASC e Imago.