Uma oferenda – conversas no táxi

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Por Flávio Portella

Retornando de uma viagem a trabalho, o motorista do táxi puxa conversa perguntando aquilo que costumam perguntar quando pegam passageiros no aeroporto: de onde eu estava vindo, se tinha viajado a trabalho, que trabalho eu fazia… Quando lhe disse qual era o meu trabalho ele me perguntou:

“Já que o senhor trabalha nisso: as vezes parece que existe uma espécie de diferença entre um filme e uma novela, é verdade?”

Bem, tentei lhe responder da maneira mais simples possível, inclusive porque o trajeto era bastante breve, algumas coisas que fazem “essa tal diferença”: que você pode trabalhar com filme ou com vídeo, e o quanto esse último é “áspero” como meio de reprodução de imagens, e que essa poderia ser já uma das razões pela qual ele sentia essa diferença. Ou mesmo o próprio tempo a disposição dos profissionais envolvidos, quanta diferença não faz – apesar de nunca ter feito novela posso imaginar que o ritmo seja duro.

Mas o que importa aqui não é a resposta que procurei dar àquele motorista de taxi – essa diferença para melhor é algo que todo diretor de fotografia busca, aperfeiçoando durante seu trabalho – mas sim, o fato de que ELE FEZ A PERGUNTA!

Afinal uma das coisas que me leva adiante é saber que o resultado de meu trabalho ira ajudar a conduzir o espectador através da história a ser contada. Quando recebo um elogio por um resultado; de um colega fotógrafo, de um diretor, de alguém do meu círculo de amizades; eu sinto como se não tivesse feito mais de que a minha obrigação, afinal apenas tive a honra de participar daquele trabalho.

Mas quando alguém que nunca me viu antes, não teve a formação que eu tive, não teve a boa sorte de viver na Europa por oito anos, não “entende de cinema”, nem mesmo fala português direito, me pergunta qual é a diferença entre um trabalho feito com mais meios e mais tempo, de um outro feito com menos meios e menos tempo, QUANDO UM ESPECTADOR COMUM PERCEBE QUE HÁ UMA DIFERENÇA, E APRECIA ISSO, é como se me estivesse sendo confiado um tesouro.

Não foi um elogio a um trabalho meu, mas algo muito maior: um elogio a todos aqueles profissionais que lutam para ter o tempo e os meios necessários, que se esforçam para desfrutar ao máximo dos recursos materiais e intelectuais a sua disposição. Existe algo mais gratificante que saber que os nossos esforços não são somente para a nossa satisfação pessoal ou para receber elogios? Não é por acaso um tesouro saber que TODO SER HUMANO TEM O SENSO ESTÉTICO PARA SENTIR A QUALIDADE, a qualidade pela qual se luta arduamente, e que muitas vezes tem que ser relegada a um segundo plano em nome de uma “economia da eficiência”?

É um tesouro que deve ser dividido com todos os colegas, passados, presentes e futuros:

Parabéns a todos!

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Entrevista com Juan Carlos Landini
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