Hélcio Alemão Nagamine, ABC: “O Outro Lado do Paraíso”

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Por Danielle de Noronha

Com direção de fotografia de Hélcio Alemão Nagamine, ABC, “O Outro Lado do Paraíso”, segundo longa-metragem de André Ristum, fala sobre afeto e relação entre pai e filho, assim como em seu filme de estreia “Meu País”, porém em um contexto social e político dramático: o final do governo de João Goulart, em 1964, e o golpe militar.

O filme conta a história de Antonio Trindade, que entusiasmado com as propostas de reformas do presidente João Goulart, sai de Minas Gerais com a mulher Nancy Emediato e os três filhos para tentar realizar em Brasília, cidade ainda em construção, o maior sonho de sua vida: achar o paraíso na terra. A história, real e baseada em livro autobiográfico de Luiz Fernando Emediato, é contada em off por Nando, o filho de Antonio, que tinha então 12 anos. O desejo de ascensão social, de participar da construção da nova capital e de apoiar as reformas prometidas pelo presidente João Goulart é frustrado pelo golpe militar. O golpe chega quando Nando começa a viver uma história de amor com Iara, uma pré-adolescente avançada para aqueles tempos. Os sonhos se tornam pesadelos.

Nagamine conta um pouco sobre o trabalho no filme.

Como surgiu o convite para participar do filme e o que dizer da sua parceria com o André Ristum?

Quando o André Ristum ia rodar um curta-metragem (“14 BIS”) alguns anos atrás, ele me procurou depois de ter visto um longa que eu acabara de fazer na Gullane, “Querô”, do Carlão Cortez. Eu fotografei esse curta e um tempo depois eu soube que ele ia fazer o longa “Meu País”, então eu liguei para dizer que eu tinha muito interesse em fazer este filme e ele acabou me convidando. Foi uma experiência muito bacana com a maioria das cenas rodadas em Paulínia e região, algumas em São Paulo e uma pequena parte em Roma.

Desde a época do curta a nossa relação sempre foi muito boa e se consolidou bastante com a realização deste projeto. A partir daí nós fizemos vários outros trabalhos menores juntos e quando ele foi chamado para dirigir o “Outro Lado do Paraíso” ele me consultou pra saber se eu tinha interesse pelo projeto e eu aceitei prontamente, bastante motivado pelo fato de poder trabalhar com alguém com quem eu me relaciono e filmo muito bem.

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Onde você buscou inspiração para a fotografia desse filme? Quais foram as escolhas para levar o público para aquela Brasília dos anos 1960?

Ao iniciar a pesquisa para o meu trabalho logo encontrei um livro da Cosac Naif, “Arquivo Brasília”, um trabalho minucioso de pesquisa com cerca de 1400 imagens restauradas da época da construção da cidade, que serviu como um guia para os departamentos de fotografia e arte. A partir da pesquisa nos demos conta que as casas das cidades satélites, todas construídas em madeira, eram pintadas em cores fortes, vivas, influência do grande número de nordestinos que foram para lá trabalhar. Sabendo disso, a pintura das casas da cidade cenográfica que construímos foi feita assim também. Eu fui rever então os fotógrafos que eu achava que utilizavam bem essa saturação e densidade das cores e me inspiraram muito as fotos do Harry Gruyaert, um fotógrafo belga, e as do brasileiro Luiz Braga. Além disso, o André havia me falado de várias referências de filmes estrangeiros dos quais ele gostava e a junção dessas várias informações é que deu subsídio para a elaboração do conceito fotográfico. Fizemos uma reconstituição de época cuidadosa e uma coisa que ajudou muito que foi a descoberta de uma grande quantidade material de arquivo filmado até então inédito e que foi incorporado ao filme.

No filme, houve a intenção de diferenciar o olhar do menino do olhar dos demais personagens? Como foi feito?

O filme, na realidade, é narrado pelo menino então trata-se da visão dele o tempo todo.

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Quais câmeras e lentes foram utilizadas? Por quê?

Nós utilizamos duas Alexas Plus com gravador externo Gemini para poder gravar os arquivos Raw (na época era o único jeito disponível de fazer isso aqui no Brasil) e um jogo de lentes fixas Cooke S4. A Alexa, para mim, é a câmera digital mais estável e confiável que existe e com o maior range dinâmico (gravamos na cidade cenográfica aonde tinha muito vento e um pó fino constante por conta da baixa umidade de Brasília que tingia todo nosso equipamento de vermelho, mas não tivemos nenhum problema com a as duas câmeras). As Cooke S4 também são minhas lentes preferidas desde quando filmávamos em película por conta do recorte suave que elas possuem.

O que dizer do workflow de pós-produção e sua participação nele?

Toda a pós-produção foi feita na Quanta Pós, com a supervisão de efeitos do Gui Ramalho, que fez um trabalho incrível de composição criando os prédios em construção, o ponto de vista de Brasília a noite a partir da estrada (que na realidade não existe), aumentando o tamanho da nossa cidade cenográfica entre várias outras coisas. A correção de cor foi feita pelo Marco Oliveira, que começou um estudo para elaboração do look final a partir de testes que rodamos na pré-produção e vários testes de DCP para podermos avaliar a cor quando projetada em tela grande.

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Qual sua expectativa para a estreia do filme?

Este filme ficou pronto há algum tempo, mas por vários motivos acabou sendo lançado só agora. No fim acabou sendo interessante vê-lo lançado agora por causa do momento político que vivemos.

Ficha técnica
Direção: André Ristum
Roteiro: Marcelo Müller
Elenco: Adriana Lodi, Camila Márdila, Davi Galdeano, Eduardo Moscovis, Flavio Bauraqui, Iuri Saraiva, Jonas Bloch, Maju Souza, Murilo Grossi, Simone Iliescu, Stephanie de Jongh e Tais Bizerril
Produção: Luiz Fernando Emediato, Nilson Fonseca e Nilson Rodrigues
Direção de fotografia: Hélcio Alemão Nagamine, ABC
Direção de arte: Beto Grimaldi
Montagem: Gustavo Giani
Trilha sonora original: Patrick de Jongh
Participação especial na trilha e voz: Milton Nascimento
Efeitos visuais: Gui Ramalho
Desenho de som e mixagem: Alessandro Laroca, Eduardo Virmond Lima e Armando Torres Jr.
Som direto: Toninho Muricy
Figurino: Kika Lopes

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