Por Danielle de Noronha
Com direção artística de Luiz Fernando Carvalho, a novela “Velho Chico” chega a sua reta final. O último capítulo da novela, escrita por por Edmara Barbosa e Bruno Luperi, sob a supervisão de Benedito Ruy Barbosa, será exibido no próximo dia 30 de setembro e seguirá contando com a presença do personagem Santo dos Anjos, vivido pelo ator Domingos Montagner, que morreu afogado no dia 15 de setembro, em Canindé do Sáo Francisco, durante uma folga da gravação. Como uma homenagem ao ator, o personagem estará na novela através do uso da câmera subjetiva.
“Velho Chico” vem recebendo elogios pela sua narrativa e qualidade da imagem exibida. O colorista Sergio Parqualino Jr. fala um pouco sobre o trabalho de correção de cor na novela.
Quais as principais diferenças do trabalho na correção de cor entre um longa-metragem e uma novela?
O projeto “Velho Chico” não se encaixa no modelo de novela que estamos acostumados a ver, desde o início foi pensado e tratado como cinema, a luz, os enquadramentos, a câmera, a arte, etc., porém a Globo exige um processo industrial de produção e pós-produção que difere do que o cinema está acostumado.
Neste projeto o processo e a metodologia de correção de cor foi exatamente igual a de um longa-metragem, definimos qual seria o LOOK geral, fiz um estudo de look (proof) em algumas cenas antes de receber os primeiros capítulos, tanto da primeira fase quanto da segunda e, a partir de então, fiquei responsável pelo andamento do Color Grading. O Luiz Fernando Carvalho direcionava vendo o capítulo no ar. A diferença está aí, em geral fazemos o Color Grading acompanhado do diretor geral e do diretor de fotografia no processo plano a plano, neste caso os mesmos estavam em set, montagem, etc., sem frentes de episódios para trabalharmos em conjunto, fomos fazendo o color conforme a chegada do capítulo, que estaria indo para o ar na mesma data, horas após termos enviado o projeto colorizado.
Diante desta situação, foi se equilibrando com informações solicitadas junto ao diretor, e seguimos o projeto diariamente por 171 capítulos.
Também, inicialmente junto a equipe, antes mesmo de começar as gravações, houve as reuniões onde participei e ajustamos os testes de câmera no PROJAC e definimos o color durante o trabalho e, desta forma, estaríamos alinhados para quando pudesse haver qualquer modificação de look.
Qual foi o planejamento e como é a dinâmica do trabalho na novela “Velho Chico”?
Inicialmente, ajustamos os Looks, para as fases da novela, e sob esta condição introduzimos o color diariamente a cada capítulo recebido. Como o trabalho em novela, a dinâmica e a mudança das cenas e cortes podem ser diárias, o processo para colorização é de Stand By, em todo o período contratado para a execução do color.
Como funciona o workflow? Quanto tempo de trabalho e quantas pessoas fazem parte da equipe?
Tenho desenvolvido fazer o Color Grading em remote grade, utilizando o software Resolve da Blackmagic, montamos uma rede entre o PROJAC no RJ e a BLEACH em São Paulo, onde tudo que eu fazia aqui poderia ser visto lá, em real time, recebemos o material conformado da Globo e marcamos a luz aqui e o render é feito na Globo em full hdtv.
O tempo de trabalho, para episódios de até 50 minutos, é em média de quatro horas. Aqui temos dois assistentes para receber/preparar/enviar, 2 salas de Color Grading trabalhando em paralelo e na Globo um assistente para render.
Como é o processo do color timing?
Com o look estabelecido, passamos o conceito para as cenas do capítulo e começa o processo de equalização dos planos que, na minha opinião, é o mais complicado, pois usamos várias texturas e distorções de base para desenvolver o look que o Luiz Fernando Carvalho aprovou.
Em “Velho Chico” existem várias unidades de gravação, com várias câmeras, lentes, locações e tudo tem que conversar, aí que entra o trabalho do colorista.
Como tem sido a sua relação com o diretor de fotografia Alexandre Fructuoso e com profissionais das demais áreas?
Sempre mantive contado direto com todos da equipe, whatsapp, skype e telefone, foi muito fácil a troca de feedback.
Tivemos liberdade para alinhar de forma mutua os problemas que encontramos, sempre reportei questões técnicas que poderiam melhorar, como também recebi feedback e pedidos específicos.
E como é a sua relação com Luiz Fernando Carvalho?
Foi muito boa, com grande afinidade na escolha dos Looks e daí adiante foi harmônico o desenvolvimento do projeto. Houve acompanhamento conforme as exibições e ajustes, sempre que necessários.
E sim, salientando a excelência da qualidade que o Luiz executa o projeto, e também o despertar das cenas lindas, que ambicionavam ainda mais a execução do Color Grading.
O que ainda precisa melhorar na área da pós e da correção de cor nas novelas?
Já estive em execução em aproximadamente 100 longas e diversas séries, a experiência em novela, com exibição ininterrupta por 6 meses, foi inédita em minha carreira de colorista. No entanto, foi de muita aprendizagem, e o que podemos observar foi uma enorme repercussão positiva, do diferencial da colorização para uma novela.
Creio que outros projetos poderão ser criados com esta característica individual, isto tornará mais artístico, acentuando ainda mais a qualidade dos projetos.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Gostaria de expressar com a minha equipe, nossa satisfação de ter executado este projeto, a confiança e parceria com a emissora, e especialmente as honras e agradecimentos ao diretor Luiz Fernando Carvalho.