Cafundó
Data: 01 de janeiro de 2005
Evento gratuito
Cafundó conta a história de João de Camargo, líder religioso da Igreja da Água Vermelha, em Sorocada – SP no início do século XX, desde sua chegada ao Quilombo de Cafundó até sua morte em 1942.
FICHA TÉCNICA: Direção: Clóvis Bueno Direção de fotografia: José Roberto Eliezer Direção de arte: Vera Hamburger Montagem: Sergio Mekler Som: Márcio Câmara
Ganhador dos prêmios de melhor fotografia, melhor direção de arte, melhor ator e prêmio especial do júri no Festival de Gramado 2005.
foto de Lucas Barreto
Cafundó conta a história de João de Camargo, líder religioso da Igreja da Água Vermelha, em Sorocada – SP no início do século XX, desde sua chegada ao Quilombo de Cafundó até sua morte em 1942.
O filme foi rodado no ano de 2003, em quatro cidades do Paraná, em super 16mm, com câmera Aaton e lentes Zeiss high speed. Em 70% do filme foi utilizada uma lente zoom 8:64. Os negativos utilizados foram Kodak 7246 e 7218.
Durante o debate, Vera Hamburger ressaltou a riqueza que o roteiro oferecia à direção de arte por tratar de universos distintos e ricos: as cidades e os campos do século XIX e início do XX no Brasil nos recantos do negro – o mercado, as fábricas, os cafundós – desconhecidos quilombos; os signos e símbolos da igreja católica, as representações e entidades do candomblé, os personagens.
Segundo ela a oportunidade de filmar no Paraná abriu as fronteiras na busca de locações menos exploradas pelo cinema para retratar as épocas pelas quais o filme passa e também suas paisagens naturais que foram determinantes a construção do universo visual do filme.
Ao comentar sobre a opção da direção de arte em construir um quilombo inspirado diretamente nas construções africanas, Vera mostrou como a pesquisa de um filme parte de um ponto de vista, uma intenção, não é simplesmente uma pesquisa histórica.
Seja na busca de locações (que fez pessoalmente) ou na composição final dos cenários, uma das fortes preocupações de Vera foi o trabalho com a textura e a cor oferecidas pelos materiais: a palha, a terra, o carvão, o fogo, o tecido, as paredes envelhecidas das cidades.
Essa preocupação foi fundamental para o trabalho em 16mm ampliado, diminuindo a percepção do grão pelo espectador, como afirmou José Bob.
A ampliação do filme seria, a princípio, óptica com algumas trucagens, mas por opção da produção o filme acabou passando por uma intermediação digital. Foi feito um telecine técnico dos planos selecionados em HD e depois um tape to tape do master HD conformado.
O internegativo é o 2242 em poliéster, do qual podem ser tiradas cópias diretamente. Esse processo tem a vantagem de substituir duas etapas de intermediação (Interpositivo e internegativo), diminuindo a perda de definição, mas ao mesmo tempo torna o transfer mais lento. Zé Bob ressaltou a vantagem do telecine para pequenos detalhes como finalizar o trabalho com algumas sombras, mas não como um modo de consertar o filme.
Uma cena muito interessante visualmente, a cena em que João chega a cidade onde se alastra a peste, ganhou seu visual dessaturado já nas filmagens através da utilização de muitos panos pretos e fumaça, além da ajuda da arte.
Para as noturnas com fogo foram utilizados botijões de gás com bicos de fogo real rebatido em espelhos, o que torna possível amplificar o efeito da luz do fogo.
O acompanhamento dos resultados foi feito por Zé Bob no Paraná através de fitas mini-dv e um monitor concha com marcação feita em São Paulo pelo cartão de cinza, o que gerou na sessão um debate sobre a importância da cartela de cinza e de testes.
Esse fato levantou também um debate sobre o caráter de informalidade que a finalização digital traz para o acompanhamento dos copiões, além da preocupação da ausência do diretor de fotografia durante o telecine.
José Augusto de Blasiis ressaltou a importância da contratação de um profissional de finalização, que tem como missão cuidar exclusivamente daquele projeto, acompanhando as etapas individualmente; o que não pode ser feito pelas empresas de pós-produção que trabalham em vários projetos ao mesmo tempo.
A presença desse profissional é a garantia de ter outros olhos presentes na finalizadora olhando pelo material quando o fotógrafo não pode acompanhá-lo, como no caso de Cafundó. O finalizador também ajuda a direcionar melhor os recursos, tendo a capacidade de julgar se o resultado de um processo de finalização está bom dentro do orçamento, ou se vai atingir o nível estético desejado para aquela peça cinematográfica. A finalizadora de Cafundó foi Eliane Ferreira.
Discutiu-se também as vantagens e desvantagens da finalização digital e o modelo de produção/pós-produção que o mercado de distribuição impõe. José Augusto acrescentou que se deve ponderar toda a escala de necessidades do filme colocadas pela distribuição, e se nela existir uma exigência de suportes digitais de masterização, o produtor deve fazer as contas se não é melhor já partir de uma finalização digital e já ter toda a parte eletrônica dos seus másteres resolvida.
Foi discutida também a possibilidade de se fazer um filme completamente óptico hoje. Segundo José Augusto, no início da retomada da produção de cinema no Brasil, o parque de pós-produção óptica estava descontinuado; o cinema morreu analógico e óptico e renasceu digital e não linear.
Zé Bob concluiu dizendo que apesar de ainda preferir o processo óptico, a finalização digital, se feita com cuidado e critério, é uma ferramenta muito importante no trabalho do fotógrafo e que no caso do Cafundó, os (poucos) efeitos digitais ajudaram muito o filme.
No final da discussão, o fotógrafo acrescentou a importância de investimento na parte óptica em 16mm, pois um bom resultado na ampliação só será conseguido se a óptica empregada na captação original for de boa qualidade.
Taís Nardi é estudante de cinematografia e sócia da ABC.
Revisado por José Roberto Eliezer, José Augusto de Blasiis, Marcelo Siqueira e Vera Hamburger