O olhar do fotógrafo(a) – os outros olhos do diretor(a)

Foto 5

Por ABC

O fotógrafo, quase sempre, é o principal responsável pelas imagens que compõem um documentário, podendo ser considerado assim o co-autor do filme. Freqüentemente o diretor assume a função de ‘coordenador’ ou ‘produtor’ ( na televisão inglesa, o diretor é. de fato, intitulado produtor).

As imagens que o fotógrafo produz, com sua própria ‘visão’ (tempo, duração, ângulo, aproximação ou distância, movimento, e sobretudo, seleção do que é importante ) são, essencialmente, o conteúdo do filme.

Assim, cabe ao fotógrafo compreender e traduzir a visão do diretor, e para isso é necessário que ele (ou ela) seja consciente da ‘linguagem’ do filme que está fazendo. Ele precisa entender a ‘gramática’ do cinema – a construção de um filme – para poder oferecer ao diretor e ao editor os parágrafos, os frases e os palavras individuais que irão criar o filme final.

No cinema, diferentemente da fotografia fixa, as imagens só têm significado quando se inter-relacionam para contar a história.

E como contar a história? Em poucas palavras, enquanto trabalha, o cinematógrafo deve responder para si mesmo os seguintes perguntas:

* Onde estamos e como parece? (localização)
* Que está acontecendo e, implicitamente, porque estamos aqui?
* A quem acontece e/ou quem está fazendo acontecer? (introdução aos personagens)
* Como eles reagem ao que está acontecendo? (externamente)
* Que efeito provoca? (internamente)
* O que eles pensam ou sentem sobre isso? (subjetivamente)
* O que nós (o filme) achamos disso? (a atitude critica intrínseca ao filme)

Algumas destas perguntas serão respondidas aos poucos, em fragmentos que só mais tarde, na montagem, se tornarão claros. Certos imagens. por si só, respondem parcialmente a várias perguntas; outras propõem novas questões. Esteja atento para onde você é levado enquanto filma.

Há várias maneiras de responder a estas quest6es. Atitudes que podem ser tomadas pelo fotógrafo. Atitudes que ajudam o fotógrafo a encontrar seu caminho. Antes de mais nada, ele precisa ter bem claro (juntamente com o diretor) qual é a intenção do filme, e portanto, a intenção das imagens.

Isso precisa ser compreendido e absorvido para que seu olhar e sua intuição fiquem em sintonia com as necessidades do filme.

Em segundo lugar, a mente e a memória precisam ser treinadas para que, durante a filmagem, coloquem constantemente essas questões e busquem respostas para elas. Isso é bem mais difícil do que parece. O fluir da filmagem de um documentário – o desenrolar dos acontecimentos à medida que você filma – muitas vezes o afastam do que pretendia fazer, levando inclusive a becos sem saída.

0 diretor deve ajudar o fotógrafo a manter o rumo, ou retornar quando se desvia, mas cabe ao fotógrafo ficar atento para onde está indo. 0 diretor está freqüentemente envolvido na antecipação de novas situações, relacionando-se com outras pessoas à margem da filmagem ou incentivando potenciais ‘atores’.

Muitas vezes o diretor depende do fotógrafo para ‘capturar’ momentos não-programados e ‘roubar’ reações espontâneas, quando a atenção do ‘sujeito’ é desviada, às vezes pelo próprio diretor. Isso exige que o fotógrafo esteja constantemente alerta, atento a tudo que acontece ao seu redor, e não somente na frente da câmera’.

Multas vezes, as imagens mais significativas e reveladoras s ão rodadas quando o diretor não está oficialmente filmando. Isso significa que o fotógrafo tem grande autonomia e responsabilidade. Ele precisa ser capaz de pensar e trabalhar sozinho, levando em conta as necessidades do filme e o custo da filmagem (especialmente do negativo). Isto requer também um bom relacionamento com o assistente de câmera e o técnico de som, ambos os quais devem estar em sintonia com o trabalho do fotógrafo, antecipando os acontecimentos.

Finalmente, o fotógrafo deve ser capaz de compor (e editar) mentalmente a história. Deve ter certeza que conseguiu as imagens necessárias para contar a história e, ao mesmo tempo, precisa pensar na ‘maneira’ que está contando a história: a linguagem que está usando, a poesia com que se expressa. Isso é parte intuição, parte experiência, e, principalmente, decisões tomadas conscientemente.

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